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Governador do MT pressiona e ministério adia inspeção

Os técnicos europeus vêm vistoriar abatedouros de boi, fazendas e a infra-estrutura de defesa sanitária em maio


A pressão de Mato Grosso - inclusive com ameaça de ação judicial - fez com que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento adiasse a vinda da missão da União Européia de abril para setembro. Os técnicos europeus vêm vistoriar abatedouros de boi, fazendas e a infra-estrutura de defesa sanitária. As regiões aprovadas poderão exportar carne para o cobiçado mercado europeu.

Inicialmente, os europeus teriam pouco tempo para ver todos os estados pretendidos pelo governo brasileiro, entre 14 e 28 de abril, e Mato Grosso seria excluído da lista. Com pressão política e direta interferência do governador e maior produtor de soja do mundo, Blairo Maggi, a viagem foi transferida.

O Comitê Veterinário da União Européia virá entre o fim de agosto e início de setembro. Deve visitar as partes ainda não habilitadas de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais, além da totalidade dos estados de Tocantins e Rondônia.

Com a chancela, o País passa a ter 131,8 milhões de cabeças (67,4% do rebanho nacional) habilitadas para exportação para o bloco econômico, quase 40 milhões a mais do que o volume atual. A União Européia comprou, no ano passado, pouco mais de um quarto do volume comercializado pelo Brasil com o exterior - 505 mil toneladas. "Certamente, vai haver uma expansão das exportações", diz Paulo Molinari, analista da Safras & Mercado.

Segundo o coordenador de Acordos Bilaterais e Regionais do ministério, Márcio Rezende, o governo estava negociando uma extensão do prazo, para que todas as áreas solicitadas pelo Brasil fossem vistoriadas. Como não foi possível, o ministério sugeriu o adiamento da missão.

A nova data foi recebida com ressalvas pelo setor. "Não estamos satisfeitos, mas se isso garantir que o Mato Grosso será autorizado a exportar, tudo bem", diz Luiz Carlos Meister, secretário adjunto de Gestão e Agronegócio de Mato Grosso. Segundo ele, atualmente 49% do rebanho do estado está em área não habilitada - o norte e a divisa com Mato Grosso do Sul. Desde julho do ano passado, o governo de Mato Grosso insiste com o ministério para a inclusão do estado na vistoria. Segundo fontes do mercado, o governador teria ameaçado entrar com ação judicial contra o ministério se o estado não fosse incluído no roteiro da missão. Meister nega a informação. "É sinal de que nossa pressão valeu a pena", diz o senador Jonas Pinheiro, um dos interlocutores do estado junto ao governo.

Em 1996, a União Européia autorizou a importação de carne de parte de Mato Grosso. "Nas áreas ainda não habilitadas, havia ocorrência de aftosa", diz Jamil Gomes de Souza, coordenador do Programa de Sanidade do ministério. O Centro-Oeste foi reconhecido pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) como livre de aftosa com vacinação em 2001. A última visita de técnicos europeus foi no ano passado, quando os veterinários vistoriaram áreas já habilitadas.

Cotação em alta:

Para Meister, a habilitação do restante do estado vai permitir que os preços da arroba subam onde ainda não é possível vender para a União Européia. Segundo ele, há uma diferença de até R$ 2 por arroba. Opinião semelhante tem João Luiz Vianna, diretor de negócios do frigorífico Quatro Marcos Ltda. Ele acredita em valorização do preço do boi de até 10%. "Um dos principais motivos de a arroba ter preço baixo nas regiões de fronteira agropecuária é o acesso restrito às exportações", explica Fabiano Tito Rosa, analista da Scot Consultoria. Em Rondônia, o preço do boi é o menor do País: R$ 46 a arroba ante os R$ 58 em São Paulo. No norte de Mato Grosso, o gado é negociado a R$ 48 e no sul do estado, a R$ 51.

"Com a habilitação da UE, os empresários devem investir mais na região", avalia Vianna. O frigorífico tem cinco unidades no estado, das quais quatro em região não autorizada. "Nossas exportações vão crescer", avalia Vianna.

O diretor de Operações do frigorífico Friboi Ltda, Artemio Listoni, diz que muitos frigoríficos optam por buscar animais das regiões habilitadas, em detrimento às demais. "Hoje, há desinteresse por essas localidades", avalia. Cerca de 60% da receita da empresa obtida com exportações vêm da União Européia.

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