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Governo federal lucra com leilões de café

O Ministério da Agricultura pagou R$ 194,00 por saca em 2003 e hoje vende o produto a mais de R$ 300,00


Fazer um investimento e menos de dois anos depois obter uma rentabilidade superior a 50% pode ser considerado impossível para alguns analistas, mas foi exatamente esse o resultado que o governo brasileiro conseguiu investindo em café. Em 2003, o Ministério da Agricultura comprou cerca de 1 milhão de sacas de café, pagando R$ 194 por cada saca, ou seja, um investimento aproximado de R$ 194 milhões. Este ano, esses estoques estão sendo desfeitos e o preço médio recebido pelo governo é de R$ 300, uma valorização de 54,6%.

O café que está oferecendo ao governo uma boa rentabilidade é originário dos contratos de opção, lançados para garantir um preço mínimo para os produtores. "A idéia não era ter lucro, mas é inegável que o resultado tem sido positivo para o governo, que conseguiu uma remuneração sobre o investimento, para o produtor que viu os preços terem sustentação em um momento de crise e para os exportadores, que conseguem cumprir seus contratos", afirma Vilmondes Olegário, diretor do Departamento de Café do ministério.

A estratégia adotada pelo governo, inédita para o café, foi considerada um sucesso, tanto por exportadores quanto por produtores. "Foi retirado do mercado uma quantidade que deu sustentação de preços aos agricultores e agora chegou o momento desse café ser devolvido", diz Eduardo Carvalhaes, diretor do Escritório Carvalhaes.

Do ponto de vista do produtor, os resultados também agradaram. "Estamos encarando esses leilões do governo com naturalidade. O governo assumiu um compromisso e agora está vendendo dentro dos valores previamente acertados", afirma Maurício Miarelli, presidente do Conselho Nacional do Café (CNC). Na avaliação do representante dos produtores, a política foi inteligente e fez diferença para muitos produtores naquela época.

Café Solúvel:

Se por um lado o governo comemora o resultado positivo de sua política para o café verde, por outro, enfrenta a pressão das indústrias de café solúvel para autorizar importações de café robusta. "Nossos concorrentes estão fincando cada vez mais competitivos porque conseguem comprar matéria-prima de várias origens", afirma Mauro Malta, secretário-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Café Solúvel (Abics).

De acordo com o executivo, o Brasil já corre o risco de perder mercado na Rússia, principal cliente do café solúvel brasileiro. Isso porque, Phoc An, empresa vietnamita de café solúvel acabou de acertar a primeira exportação para o mercado russo, de 24 toneladas. "Os russos são responsáveis por mais de 30% de nossas exportações, mas o Vietnã consegue chegar com um preço inferior ao nosso por uma questão geográfica", explica Malta.

Nos últimos 10 anos, as exportações de café solúvel do Brasil cresceram 23,05%, saindo de 2,69 milhões de sacas para a expectativa de 3,31 milhões para este ano. Nesse mesmo período, as exportações mundiais passaram de 8,7 milhões para 16 milhões de sacas, uma evolução de 84%. "Essa diferença nos crescimentos é resultado do acesso a diferentes origens", afirma Malta.

Apesar da solicitação da abertura para as importações e realização de draw-back, Malta afirma que essa não é uma medida que precisaria acontecer este ano. "Estamos pensando no longo prazo, para um momento que a oferta de robusta for menor e o preço da matéria-prima estiver muito elevado".

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