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Governo proíbe cultivo de transgênicos, que hoje já são 8% da safra nacional de soja


O governo brasileiro corre o risco de se deixar enredar em um projeto sem futuro: a tentativa de bloquear o avanço tecnológico na agricultura. Uma comissão composta de nove ministros estuda a política oficial com relação a produtos transgênicos e tem até o fim do mês para anunciar sua decisão – uma parcela importante do PT, incluindo Marina Silva, ministra do Meio Ambiente, sonha em transformar o Brasil em território livre de produtos transgênicos.

Foi o que Olívio Dutra, atual ministro das Cidades, tentou fazer quando era governador do Rio Grande do Sul. Apesar de seu esforço, 70% da safra de soja gaúcha, que começa a ser colhida na próxima semana, é de grãos geneticamente modificados. Na semana passada, os ecoxiitas do governo se viram diante do seguinte dilema: jogar ou não fora uma safra que vale 10 bilhões de reais. Reunida às pressas com o presidente da República, a comissão decidiu manter proibida a produção de transgênicos, mas prometeu garantir a colheita e o escoamento dos 4 milhões de toneladas de grãos alterados geneticamente, o equivalente a 8% da safra nacional.

O que levou os produtores gaúchos a enfrentar a oposição oficial foi uma realidade difícil de ignorar. A soja alterada em laboratório, contrabandeada da Argentina, foi cultivada no Sul do país porque oferece uma economia de 40% em relação à soja comum e tem produtividade entre 5% e 8% maior. Os grãos são mais uniformes, e a plantação requer quantidade menor de herbicidas. É por isso que o Ministério da Agricultura e o da Indústria e Comércio lutam para evitar que o governo federal proíba a utilização dos transgênicos. A argumentação contrária é mais ideológica que técnica.

Desagrada aos ambientalistas brasileiros o fato de a semente transgênica ser propriedade de uma empresa multinacional, a Monsanto. Há também o receio de que ela possa de alguma forma ser prejudicial à saúde humana. Na verdade, o melhoramento genético de plantas não é nenhuma novidade. Praticamente todos os alimentos cultivados pelo homem não existiam na natureza na forma que hoje se conhece.

O milho plantado atualmente nas chamadas hortas orgânicas, sem pesticida nem insumos, está muito longe da planta original, que tinha apenas 3 centímetros e foi modificada geneticamente pelos índios por meio de cruzamentos. A seleção genética é parte de um conjunto de evoluções que passa pela irrigação, pela correção de solo, pela adubagem e pelo desenvolvimento de ferramentas, como o arado. Juntos, esses avanços permitiram à humanidade chegar a 6 bilhões de pessoas. Sem eles não haveria como produzir comida suficiente para tanta gente.

Os transgênicos são a mais recente novidade nesse processo. Ao desenvolvê-los, os agrônomos e biólogos de empresas e institutos de pesquisa procuraram adicionar características que não era possível obter pela produção convencional de híbridos. Em vez de selecionar espécies por meio de cruzamentos naturais, os técnicos utilizam recursos da engenharia genética para melhorar a planta.

Em sete anos de cultivo comercial de transgênicos, nunca se registrou nenhum tipo de problema, como contaminação ambiental ou intoxicação de consumidores. O que os cientistas têm registrado, pelo contrário, é o sucesso dos produtos. O plantio de transgênicos vem crescendo à média de 12% ao ano no mundo. Atualmente, dezesseis países já os cultivam comercialmente, dez deles do Primeiro Mundo. No ano passado, 51% de toda a área destinada ao plantio de soja era ocupada por variedades modificadas geneticamente.

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