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Impasse trava negociação sobre o preço do tabaco

Produtores decidiram suspender as tratativas diante do inconformismo com o que foi apresentado pelas empresas


As entidades representativas dos produtores de tabaco decidiram suspender as negociações com as empresas após a segunda rodada de reuniões para a definição do preço para a safra 2018/2019, ocorrida na quarta-feira e ontem na sede da Fetag, em Porto Alegre. A medida mostra o inconformismo com as propostas apresentadas, abaixo da variação do custo de produção apurado tanto pelas indústrias como pelas entidades. Os produtores solicitaram ao menos o reajuste de 5,9% no preço de venda da safra 2018/2019, igual ao da média do aumento de custo em relação ao ciclo anterior.

As entidades encaminharam o descontentamento com o rumo das negociações ao presidente do Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (Sinditabaco), Iro Schünke, com o alerta de que a indefinição trará prejuízos para toda a cadeia produtiva. Os representantes dos produtores manifestaram grande insatisfação no fim da rodada de reuniões com as empresas. “Não dá para dizer que houve negociação, pois as empresas ficaram no mesmo percentual oferecido nas reuniões anteriores, em dezembro, na Fetaesc, com exceção da Souza Cruz e da CTA”, disse o presidente da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), Benício Werner.

O dirigente afirma que algumas empresas fizeram propostas de reajuste inferiores até mesmo ao percentual de aumento do custo apurado no seu levantamento. Este ano, pela primeira vez, não houve mais a pesquisa de forma unificada, mas por produtores de cada indústria para comparar com as despesas apuradas por elas. Conforme Werner, em algumas não houve diferença significativa, mas outra, com um conceito diferente de valorizar a mão de obra, teve grande disparidade e isso fez com que o percentual de aumento oferecido ficasse muito abaixo da reivindicação dos representantes dos produtores.

Outro ponto de divergência é que a maioria das empresas oferece aumento diferenciado por classe. Uma, inclusive, propõe redução no valor de algumas classes em relação à tabela da safra passada. A representação dos agricultores também alega que a JTI desrespeitou o processo de negociação ao anunciar antecipadamente aos seus produtores o percentual que levaria para a rodada de reuniões, desestabilizando as tratativas com as demais empresas. Conforme o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag), Carlos Joel da Silva, a indústria informou que aumentaria a valor da tabela em 4,5%; contudo, não disse aos fumicultores que este percentual partiria de 0,8%, dependendo das classes.

Contraponto

A JTI informou, por meio da diretoria de Assuntos Corporativos e Comunicação, que prefere não se manifestar a respeito da rodada de negociações. O presidente do Sinditabaco, Iro Schünke, não se manifestou sobre as tratativas da comissão dos produtores com as empresas. A entidade não participa das negociações do preço do tabaco.

Nenhuma proposta igualou custo de produção

Durante a nova rodada de negociação do preço do tabaco, nenhuma empresa chegou ao mesmo índice da média do aumento do custo de produção – 5,9% –, apurado pela Comissão de Representação dos Produtores de Tabaco. A única que apresentou proposta de reajuste igual para todas as classes foi a CTA, de 3,18%, acima do custo de produção próprio, porém abaixo do apurado pelas entidades.

O presidente da Fetag, Carlos Joel da Silva, informou que a Souza Cruz apresentou proposta de reajuste de 3,08% para todas as classes. Mas a empresa pretende fazer um realinhamento interclasses, com a valorização das mais maduras. Desta forma, o valor de venda de algumas ficará inferior ao pago na safra passada.

A partir de agora, as entidades promoverão reuniões com os produtores de tabaco para debater o ocorrido no processo de negociação e definir os próximos encaminhamentos. O presidente da Afubra, Benício Werner, afirma que somente uma nova posição das empresas fumageiras poderá reabrir as tratativas. Diante do quadro, as entidades sugerem aos produtores que pressionem suas empresas para que comprem realmente dentro das classes.

Em nota ao final das reuniões de ontem, as entidades representativas reafirmam seu apoio incondicional à cultura do tabaco no Brasil e dizem que continuarão na defesa dos interesses de seus produtores, bem como consideram indispensável que o setor industrial também faça a sua parte. No entanto, as negociações poderão ser retomadas somente no caso de as indústrias revisarem sua posição.

O presidente da Fetag, Carlos Joel da Silva, classificou como “vergonhoso” o debate. “As empresas não estão pensando no produtor, que é o mantenedor da indústria. Elas não apresentam propostas que chegam no custo de produção. As entidades não podem aceitar esse descaso”, disse. A entidade terá uma reunião com dirigentes dos sindicatos hoje, às 14 horas, para definir orientações aos produtores e tratar do acompanhamento da entrega às indústrias.

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