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Incerteza quanto à safra eleva preço da soja a novo patamar

Alta foi decorrente de uma corrida internacional pela commodity


Mesmo que tenha iniciado o ano com estoque equivalente a 30% da safra passada, a oferta de soja no Brasil não correspondeu às expectativas oficiais e resultou, nesta semana, em preços recordes do grão. A alta foi decorrente de uma corrida internacional pela commodity, nos últimos três meses, diante das quebras de safra nos países produtores da América do Sul - de acordo com análises de especialistas.


No mercado interno, as cotações da oleaginosa ultrapassaram R$ 62 - no Sul, considerando as tarifas portuárias - e R$ 52 - no Mato Grosso, sem contar o frete - por saca, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) e o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea).

"O que aconteceu neste ano foi inédito: no pico da safra, os preços subiram, em vez de cair", observa o gestor Daniel Ferreira, do Imea. "Diante das incertezas de qual será o tamanho das safras sul-americanas e norte-americanas, o importador está vindo com antecedência comprar a soja. Ao mesmo tempo, as indústrias domésticas ficam apreensivas em relação à disponibilidade do produto no segundo semestre", explica o pesquisador Lucílio Alves, do Cepea.

As quebras de safra, em toneladas, acometeram as regiões produtoras da América Latina na seguinte ordem: sete milhões na Argentina; três milhões no Rio Grande do Sul e o mesmo no Paraná; um milhão no Paraguai; e 700 mil no Mato Grosso, de acordo com as revisões de expectativa (em relação às projeções do início do ano) dos respectivos governos ou órgãos especializados.

"As estimativas de oferta eram boas, mas foram sendo reduzidas mês a mês", comenta Alves. "Em um ambiente de estoques baixos, qualquer fator de oferta e demanda impacta nos preços". O pesquisador pontua que a cotação da soja subiu 8,4%, considerando-se o mercado do Paraná, que o Cepea observa, nesta semana. Em Chicago, a alta mensal (ainda parcialmente avaliada) foi de 5% (somente nesta semana, 4,1%), elevando a cotação da commodity para US$ 14,7 por bushel, mais prêmio de US$ 0,7 pela mesma medida. Em toneladas: US$ 570 por unidade.


Outro fator de impacto aos preços, neste ano, foi a rentabilidade do milho, que levou os produtores de grãos a investir mais nessa cultura - de modo que se promovesse uma redução no território da sojicultura, afetando um tanto mais as projeções de oferta da oleaginosa.

Para um dos especialistas, o momento é positivo para se travar os preços com contratos futuros. A prática comum é o escambo: aproveita-se a cotação atual da soja para trocá-la, daqui a meses, por insumos agrícolas.

Fator EUA

A safra de soja dos Estados Unidos - que gera a principal oferta no segundo semestre - é um fator que determinará os preços do grão brasileiro daqui em diante. "Se o volume for okay, tende a aliviar a pressão de alta", afirma Ferreira. "A safra norte-americana, que já está sendo plantada, agora é a variável. Se chove lá, o mercado dá uma caída; se não, sobe", analisa o gestor do Imea. "O mercado está com um olho lá e outro aqui", diz.

Perda argentina


Em acréscimo aos motivos que pressionam os preços da oleaginosa no Brasil, Alves observa que "há uma valorização do produto brasileiro por conta da redução da safra argentina, cujo governo diminuiu as expectativas". "Compradores da Argentina estão se deslocando para o País, acirrando a disputa pelo produto brasileiro", aponta o pesquisador do Cepea.

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