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Indústria láctea precisa ser mais rigorosa

Coordenador explica como é feita análise de fiscalização


Na semana passada, a LBR, detentora das marcas Parmalat e Líder, envolvidas na fraude do leite com formol, se justificou, assegurando que, nos testes internos, não foi detectada a presença do componente químico, que é cancerígeno. A análise divergiu da que foi feita pela inspeção do Ministério da Agricultura (Mapa).  Em entrevista ao Jornal do Comércio, o coordenador-geral de inspeção do Mapa, Luiz Marcelo Martins Araújo, explica como é feita a análise da fiscalização e o que justifica a diferença de resultados das amostras.

- O Mapa segue padrão internacional de análise, com procedimentos reconhecidos por organismos de pesquisas internacionais. Todas as análises têm que seguir metodologias oficiais. A empresa pode utilizar outra metodologia que não seja a mesma que a nossa, só que, também, não será reconhecida no mundo cientifico. Por serem reconhecidas cientificamente, nossas análises têm um prazo maior para apresentar resultados. O que a empresa faz são provas rápidas, que são indicativas. Além disso, no nosso caso, quando existe qualquer evidência de fraude, nós temos que fazer outra analise confirmatória, porque não podemos ser levianos numa situação dessas. Além disso, nós pegamos a amostra no caminhão. 

- Que bom que é assim, já que eles estão dizendo, mas a diferença entre as duas análises é a seguinte: quando o Mapa colhe amostra, ele faz isso em nome da União, que tem a presunção de veracidade. Parte-se desse principio. A nossa amostra foi corretamente colhida, foi feita a análise do jeito que tem que ser feita. Os mesmos laboratórios que fazem análises internacionais são laboratórios usados para as análises do Mapa. A empresa pode dizer o que quiser, até porque dificilmente vão reconhecer equívocos. 

- Isso é muito comum. A empresa diz que fez tudo que foi mandado. Mas nós não mandamos nada, existem algumas análises exigidas, mas, independentemente disso, a indústria tem que nos garantir que não tem formol no leite. A empresa precisa realizar testes obrigatórios, mas nós não dizemos como os testes deverão ser feitos. 

- Não necessariamente. A empresa tem liberdade de escolher o método que irá usar. Por questões diversas, a empresa opta por testes mais rápidos ou baratos, mas não podemos mudar a nossa qualidade.

- Sendo bem sincero, não compromete a produção. Essa análise não é nada que leve muitos dias, mas exige investimento em equipamentos, que não são exorbitantes. Não tem nada de complexo. 

- Além de ser refeito, temos prazo para envio do material. A amostra é colhida e lacrada na frente dos representantes da indústria, e o lacre só é rompido no laboratório. E se a indústria quiser acompanhar o teste, pode acompanhar no laboratório, para que não exista dúvida. Temos dez laboratórios, então precisamos remeter o material para um deles. Se o material não chegar lacrado o laboratório não faz análises. É um processo que elimina o risco de comprometimento da amostra. 

- Eles vão usar todos os argumentos para se defender. A empresa tem que encontrar um culpado. Mas a detecção depende da quantidade com que foi feita a diluição. Com essa quantidade, nós não detectaríamos. A empresa diz que foi transformado em 300 mil litros, mas só isso já basta para fazer com que aquele formol anteriormente detectado ficasse disperso a ponto de não conseguirmos identificar mais. Tanto é assim que nossos exames não usam positivo ou negativo para o resultado e, sim, detectado ou não detectado.

- Eu também consumo leite, e bastante, então me preocupa muito, e é uma preocupação do Mapa. Está havendo aumento das detecções, mas não é porque o Mapa estaria sem condições de fiscalizar e estaria aumentando a fraude. O que acontece é que nós estamos apertando a fiscalização cada vez mais. Se isso não estivesse acontecendo, não estariam sendo divulgados esses dados. Não tenha dúvida de que bandido e criminoso existe em todas as áreas, não é que não havia fraude antes, sempre teve. O que ocorria é que a fiscalização não havia detectado ainda. Podemos melhorar? Claro. Na semana passada, passamos por treinamento junto à Polícia Federal para aprender sobre fraudes. E seguimos nos qualificando. 

- O Mapa está presente na fiscalização. Fazemos isso constantemente, mas só vêm à tona os casos de desvios. Essa indústria processa 3 milhões de litros de leite UHT por dia. O problema comprometeu 300 mil litros, mas o restante não ganha atenção. O que é tornado público é só a fraude e realmente a população, com toda razão, fica temerosa, mas estamos cada vez mais acirrando os controles e fazendo o que temos que fazer. Agora, é uma briga, uma luta. Se tiver dinheiro envolvido, e tem, vai ter sempre crime.

- Por que aumenta a produção de maconha? Porque tem quem compre. Só existe crime porque alguém compra. Se as empresas como um todo aprimorassem seus controles e não recebessem leite adulterado, não haveria mais para vender. Se as empresas fizessem os testes com o mesmo rigor com o qual fazemos, ninguém mais ia colocar formol no leite.  Essa empresa pode ter sido vitima nessa situação agora, mas tem que estar atenta. Eu conheço a indústria, e ela sempre se mostrou séria.

- Isso só referenda o que acabei de dizer. A empresa é séria. Eles podem ter sido tão vitima quanto a sociedade, mas, infelizmente, isso não os isenta da responsabilidade. Tem que barrar o leite adulterado. Nós falamos em nome da sociedade. À sociedade, não interessa a metodologia adotada, o consumidor não quer formol no leite. O que a empresa vai fazer, eu não sei, mas a população e a União têm convicção de que nossa obrigação é penalizar, mesmo que reconhecendo a boa-fé da empresa, porque nós não podemos permitir que um leite dessa qualidade vá para o mercado.

Foto: Antôinio Araújo /ABR/JC

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