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Indústrias começam o ano no vermelho

Endividamento prejudica performance diante dos investidores


Queda nos preços das ações de quatro gigan­tes no processamento de carnes supera a desvalorização do índice Ibovespa. Endividamento prejudica performance diante dos investidores

As ações das quatro maiores empresas globais de processamento de proteína animal começaram o ano como destaques negativos entre os papéis negociados na Bovespa. No acumulado das duas primeiras semanas do ano, as ações da JBS (JBSS3), Minerva (BEEF3), Brasil Foods (BRFS3) e Marfrig (MRFG3) se desvalorizaram 10,86%, 4,72%, 3,90% e 1,87%, respectivamente. No mesmo período, o índice Ibovespa – que reúne ações de 70 empresas – chegou aos 59.146 pontos, com alta de 4,21%.


O endividamento das gigantes do agronegócio é apontado como principal motivo dessa baixa, que acentua o quadro observado em 2011. As dívidas são fruto das dezenas de aquisições feitas nos últimos anos (leia mais no texto abaixo). Na tentativa de aumentar a participação no mercado, as companhias foram às compras, o que resultou em um crescimento desordenado do setor, conforme os especialistas.

“É um setor que exige muito investimento e a lucratividade não é tão alta em curto prazo. Isso é percebido pelo mercado”, explica o presidente da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abra­frigo) e do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados do Paraná (Sindicarne-PR), Péricles Salazar.

“Elas fizeram muitas aquisições no passado e acumularam dívidas. Agora é esperar o balanço anual para ver se esses investimentos deram retorno e ajudaram a diminuir o endividamento”, aponta Luiz Augusto Pa­­che­co, gestor da boutique de investimentos Inva Capital.

Em alguns casos, a baixa performance dos papéis das empresas de carnes e derivados diante dos investidores se perpetua há anos. As marcas JBS e Marfrig, duas das maiores empresas em processamento de proteína animal do mundo, contabilizam dois anos de intempéries no mercado de ações brasileiro. Em 2010, as ações da JBS caíram 22% e, no ano passado, 15%. A Mar­­­frig teve performance negativa de 18% dois anos atrás. Em 2011, o resultado foi ainda pior: o índice de desvalorização chegou a 44%. Os números colocaram as companhias no grupo das maiores baixas do ano em 2011.

As ações da Minerva têm oscilado bastante, já que em 2010 houve alta de 19% e, no ano passado, baixa de 23%. Apesar do início de ano com desvalorização, os papéis da Brasil Foods alcançaram ótimo desempenho no último biênio na Bovespa. Em 2010, as ações da empresa se valorizaram 21% e, em 2011, tiveram 35% de crescimento.


Para o analista Eduardo Dias, da Omar Camargo Investimentos, a tendência é que as empresas “arrumem a casa” para equaciona­r as dívidas e, consequentemente, voltem a atrair novos investidores. A empresa Minerva deve alcançar isso com mais facilidade, pois está mais estruturada, na avaliação do especialista. Marfrig e JBS, no en­­tanto, devem precisar de mais tempo para colocar em ordem os seus problemas financeiros.

“Com o assentamento da poeira, elas devem enxergar o nicho e onde podem operar. Agora [as empresas] sabem distinguir seus concorrentes e têm condições de avaliar melhor para que lado atirar para brigar por melhor participação de mercado”, ressalta Dias. “Não tenho dúvida que os papéis vão se recuperar. O lucro neste setor se dá em longo prazo”, afirma Salazar, da Abrafrigo.

As empresas JBS, Marfrig e Bra­­­sil Foods fazem parte da carteira que resulta no índice Ibovespa (e que será revista em maio). A BR Foods tem representação de 1,22%, en­­­­quanto a Marfrig pesa 0,78% e a JBS, 0,67% – somadas , representam menos de 25% do peso da Petrobras, por exemplo.

As quatro empresas foram procuradas pela reportagem da Gazeta do Povo para detalhar sua situação, mas não concederam entrevistas.

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