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Indústrias reduzem moagem de trigo


Preços elevados no mercado externo e achatamento da renda interna fizeram consumo cair. Os moinhos brasileiros vão processar este ano cerca de 9,2 milhões de toneladas de trigo. O volume é 2,12% inferior ao processamento do ano passado, quando as indústrias moeram cerca de 9,4 milhões de toneladas. A queda no processamento é atribuída pelas indústrias ao recuo no consumo interno, que atualmente está em 52 quilos per capta ano, abaixo da média mundial de 85 quilos por ano.

"As indústrias de trigo passaram por um ajuste este ano no que se refere aos preços", afirma Ricardo Ferraz, presidente do Sindicato das Indústrias de Trigo do Estado de São Paulo (Sindustrigo). Em sua opinião, como cerca de 70% do trigo processado no Brasil é importado, muitos moinhos não estavam preparados para enfrentar a volatilidade cambial pela qual o Brasil ficou exposto em 2002.

Argentina e dólar

Entre janeiro e a última cotação de ontem, o dólar comercial no mercado registrou um avanço de 63,13%. Além da desvalorização do real, o trigo argentino subiu 37,5% em 2002, passando de US$ 120 a tonelada em janeiro deste ano para US$ 165 em novembro, chegando ao pico de US$ 200 na entressafra, em setembro. Do total das importações brasileiras, mais de 80% do trigo é de origem argentina.

Fatores negativos

"Especificamente esse ano tivemos dois fatores negativos atuando de forma complementar: a elevação do preço do grão no mercado internacional e o achatamento da renda do consumidor nacional", afirma Roland Guth, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Trigo (Abitrigo) e executivo do moinho paranaense Carlos Guth.

A situação negativa para os moinhos foi positiva para os produtores este ano. A alta no mercado internacional elevou a cotação interna a até R$ 700 em outubro, diante do preço mínimo, de R$ 300 a tonelada.

Apesar da queda no processamento e o consumo menor, as perspectivas para 2003 são positivas. Para Ferraz, o maior entrave será a adaptação ao novo governo, mas ele acredita que não haverá dificuldades. "Passamos por forte profissionalização esse ano e não tem como o setor andar para trás."

A expectativa dos moinhos é de que para o ano que vem sejam processadas 9,7 milhões de toneladas de trigo, volume que representará incremento de 5,4% sobre a moagem deste ano. "A política do novo governo de acabar com a fome não terá como deixar de lado o trigo e derivados. Além disso, acreditamos que deva haver um aumento no poder de compra dos consumidores."

O executivo do Sindustrigo informa que esse ano muitas medidas importantes foram tomadas no setor tritícola. Uma das mais importantes, em sua avaliação, foi a abertura de novos mercados fornecedores, principalmente nos países do Leste Europeu. "Comprando trigo da Rússia, Polônia, Ucrânia e outros países nossa dependência do trigo argentino diminui. Com isso, conseguimos com que houvesse uma substituição de importações, já que comprávamos trigo da Argentina a US$ 180 a tonelada e passamos a comprar de outros países a US$ 120."

Novas origens

A Abitrigo assinou dois protocolos de intenções de importação. O primeiro com a Ucrânia no início de novembro, no qual os moinhos brasileiros se comprometem em adquirir 500 mil toneladas de trigo daquele país. Por se tratar de um acordo bilateral, os ucranianos importariam o açúcar do Brasil, além de outros produtos agropecuários.

Na segunda quinzena do mês passado foi assinado um acordo com a Rússia, no qual as indústrias nacionais importariam até 1 milhão de toneladas de trigo daquele país. Em contrapartida, os russos comprariam dos frigoríficos brasileiros até 60 mil toneladas de carne bovina.

Com a aquisição, o Brasil passaria a importar 21,5% dos dois países, diminuindo a dependência da Argentina, que em 2001 foi responsável por 96% das importações brasileiras. A perspectiva é que já este ano seja percebida queda nas importações da Argentina, com aumento nas aquisições do Leste Europeu.

Alexandre Inacio

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