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Indústrias vão à Rússia pedir fim do embargo para carnes


Os representantes do segmento de carnes do Rio Grande do Sul precisam correr contra o tempo para buscar uma solução para o embargo russo, que dura mais de três meses e já afeta o faturamento da cadeia produtiva. A possibilidade da retomada das exportações precisa ser negociada até fevereiro de 2005, quando a Rússia realizará o leilão das cotas de compras dos países fornecedores. Caso permaneça fora do mercado até essa data, o Brasil corre o risco de continuar sem exportar aos russos até a metade do próximo ano, quando será feito o outro leilão.

Ontem (29-12), em Porto Alegre, dirigentes ligados aos segmentos das carnes bovina, suína e de frango estiveram reunidos discutindo uma estratégia de negociação. A prioridade, no momento, é enviar à Rússia uma missão formada pelas iniciativas pública e privada, informa o presidente da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), Aristides Vogt. “Até agora não tivemos grandes reações do governo brasileiro, mas a nossa proposta é realizar uma viagem conjunta entre representantes do governo gaúcho e do Ministério da Agricultura”, afirma.

O secretário da Agricultura, Odacir Klein, diz que já entregou o pedido da cadeia produtiva ao secretário do Desenvolvimento e Assuntos Internacionais, Luis Roberto Ponte. “O governo está interessado em realizar essa missão e resolver o problema logo”, salienta.

O governo russo suspendeu as compras da carne brasileira em setembro, depois que foram detectados focos de aftosa no Pará e no Amazonas. Atualmente, apenas o estado de Santa Catarina, zona livre da doença sem vacinação, está autorizado a exportar para o país. Essa diferenciação, segundo os dirigentes gaúchos, não cumpre o acordo sanitário mantido entre o Brasil e a Rússia. As normas estipuladas prevêem que apenas o estado que registrou o caso de aftosa ficará impedido de vender carne durante 24 meses. Os estados limítrofes sofrerão restrições durante 12 meses. Em nota assinada ontem por sindicatos e associações, os representantes gaúchos afirmam que “as limitações impostas pela Rússia demonstram quebra das diretrizes da Organização Mundial do Comério (OMC)”. Não existe fundamento técnico que ratifique esse embargo, acrescenta Rui Vargas, consultor do segmento. “Agora é o momento do Brasil fazer pressão e apresentar os fundamentos práticos”, destaca.

A suspeita de um foco de febre aftosa no Mato Grosso do Sul preocupa ainda mais as indústrias gaúchas. “Se isso se confirmar, será preciso rever toda a nossa estratégia de negociação”, observa Rogério Kerber, diretor-executivo do Sindicato da Indústria de Produtos Suínos do Rio Grande do Sul (Sips/RS). Somente à cadeia suinícola, o embargo russo provocou perda de rentabilidade calculada em R$ 30 milhões. “Deixamos de receber US$ 500.00 por tonelada”, explica o dirigente. Até novembro deste ano, as exportações de carne suína gaúcha para a Rússia somaram 40.479 toneladas, volume 51,6% inferior às vendas registradas no mesmo período do ano passado.

O problema também causou a suspensão de uma missão de técnicos russos que viriam habilitar indústrias gaúchas para a exportação de carne bovina. “O mercado interessa muito ao segmento, que atualmente não registra vendas para o país”, declara Zilmar Moussalle, diretor-executivo do Sindicato das Indústrias de Carnes e Derivados do Rio Grande do Sul (Sicadergs).

Todos os aspectos relativos à defesa sanitária animal estão sendo reavaliados pelo setor produtivo, que defende a criação do Fundo de Desenvolvimento e Defesa Agropecuária (Fundesa), um órgão administrado pela cadeia, mas com a arrecadação gerida pelo governo estadual. Pelo projeto elaborado e entregue ao governo, 50% da verba recebida teria como destino a modernização do sistema de defesa. “A outra parte seria utilizada em caso de eventos ou problemas sanitários”, comenta Kerber. De acordo com ele, a projeção é que a arrecadação anual poderia chegar a R$ 2,5 milhões. O presidente da Asgav reclama que o projeto ainda não foi enviado à Assembléia Legislativa, que precisa aprovar o regulamento. Segundo o secretário Klein, o argumento do chefe da Casa Civil, Alberto Oliveira, é que o Estado pretende reorganizar todos os fundos existentes.

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