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Ineficiência custa US$ 6,7 mi no RN

Logística dificulta processo de exportação no estado


Dificuldades de logística encontradas nas diversas etapas do processo de exportação no Rio Grande do Norte geraram mais de US$ 6,7 milhões em “custos extras” ou evitáveis a empresas que comercializaram melão, sal, pescado, têxteis, castanha de caju e confeitaria para outros países em 2008, de acordo com estudo encomendado pela Federação das Indústrias (Fiern), cujos resultados foram divulgados na terça-feira (23). O número representa um desperdício que poderia ser evitado com investimentos e ações para tornar mais veloz e eficiente desde o embarque e o transporte das mercadorias, passando pela retirada de documentos e certificações, até o envio aos mercados de destino, de acordo com conclusões de especialistas.

Em linhas gerais, os dados mostram quanto custa a logística para as empresas e o que dificulta esse processo em termos de tempo e de obstáculos legais, institucionais, burocráticos e operacionais. Entre as etapas envolvidas, os dados apontam que o transporte terrestre corresponde a 47,42% do total dos custos extras identificados. O transporte terrestre abrange o transporte do conteiner vazio até o exportador e o frete doméstico da unidade de produção dele até o porto ou até qualquer local de consolidação que faça parte do processo. Nenhum setor sofre tanto nesse caminho quanto o de exportações de melão – e também de outras frutas. O problema é que as más condições das estradas que, em função da sensibilidade da carga, oneram o tempo de transporte e, principalmente, provocam perdas de qualidade do produto, geram um custo extra de US$ 447,84 por contêiner exportado da fruta.

Outro peso significativo nos custos logísticos para o comércio exterior dos cinco produtos selecionados é percebido na etapa de porto/aeroporto, que inclui as atividades de entrega do conteiner cheio no porto, operação e estadia do navio ou avião. “Estamos falando de custos invisíveis que prejudicam a competitividade dos produtos e que reduzem a lucratividade do exportador. Por exemplo, vamos considerar que o frete terrestre custa R$ 1 mil para trazer o conteiner para o porto. Mas é R$ 1 mil porque vai demorar 24 hortas para trazer o conteiner. Se o tempo necessário fosse de 12 horas o valor seria menor. Um custo mais elevado poderia ser evitado”, diz Leopoldo Nunes, da Planner Consultoria, contratada para fazer o estudo.

Ineficiências

De acordo com Nunes, o estado teve 6,6% do valor exportado em 2008 como um custo evitável, o que permite dizer que há grandes ineficiências no processo de logística para exportação, mas, reforça, essas ineficiências podem ser reduzidas nas diversas etapas que compõem o processo.

Além de apontar o custo por setor, o estudo aponta que, fazendo a extrapolação dos custos extras para todo o comércio exterior do estado, o impacto dos custos logísticos alcança um valor próximo de US$ 23 milhões no ano, equivalente a 4,2% do fluxo de comércio exterior do Rio Grande do Norte no período.

Os cinco produtos eleitos para fazer parte da pesquisa representaram 46,33% do total exportado pelo Rio Grande do Norte em 2008 e 49,22% em 2007. O peso na pauta de exportações e na economia do estado estão entre os critérios usados para selecioná-los. No caso do pescado fresco também contou a pericibilidade do produto, que, por consequência, exige uma logística eficiente e com baixos custos, pelo fato de o produto ter um valor agregado pequeno, de acordo com explicações presentes no levantamento.

União tem projeto de ferrovia no RN

Uma ferrovia entre Jucurutu e o Porto do Mangue, em Areia Branca. Essa é a solução logística para o transporte de minério, principalmente hematita do Plano Nacional de Logística e Transporte, apresentado nesta quarta-feira (24) à tarde pelo secretário nacional de Políticas Públicas de Transporte, Marcelo Perrutato. O Plano prevê investimentos de R$ 4 bilhões no Rio Grande do Norte até 2023 na parte de logística e escoamento de mercadorias para exportação. Para Marcelo Perrutato, “é pouco” para as demandas do Estado. “O RN pediu pouco, é preciso ser mais ousado”, diz.

O Plano Nacional lista vários investimentos prioritários no Brasil na área de transporte e comércio exterior até 2023. As ferrovias devem ser prioridade, inclusive no Rio Grande do Norte, onde a viabilização do Aeroporto de São Gonçalo do Amarante e a reforma do porto de Natal são destaques. “Dizem que a transnordestina não vai passar pelo Estado, mas não é difícil fazer essa ligação. Da mesma forma, temos esse projeto para ligação ferroviária em Jucurutu”, aponta.

O caso de Jucurutu é emblemático. Atualmente, por falta de opção, os minérios potiguares são exportados a partir do porto de Cabedelo. A alternativa é Porto do Mangue, em Areia Branca. É necessário uma reforma no porto. Mas em Natal não seria viável. “A melhor opção é tentar por Areia Branca porque o porto de Natal não tem perfil para exportar minério”.

Resultados poderão nortear poder público

O estudo “Impacto dos Custos Logísticos em setores selecionados do comércio exterior do Rio Grande do Norte” foi encomendado pela Federação das Indústrias do estado e custou R$ 110 mil. O levantamento foi realizado através de um convênio firmado em 2008 entre a Fiern e o Banco do Nordeste e foi concluído em junho do ano passado. Os resultados obtidos poderão orientar ações e investimentos por parte do poder público, diz o superintendente corporativo do Sistema Fiern, Jayme Dias Filho.

“Existe a necessidade de se fazer alguns ajustes para melhorar a logística. As dificuldades encontradas nesse processo afetam a competitividade dos produtos e das empresas”, frisa.

Karla Motta, diretora da Sociedade Brasileira de Lógística, acrescenta que os dados podem servir para que a iniciativa privada mostre aos governos onde estão os principais nós e para que os governos priorizem ações para desatá-los. “O estudo é um norte para atacar os pontos críticos que estão causando problemas às exportações”, observa.

Ceará

Um estudo semelhante ao desenvolvido no RN foi feito antes desse no Ceará, com financiamento do BNB. Foi daí que partiu a ideia da Fiern de encomendar o levantamento específico para o RN. O superintendente do banco no estado, José Maria Vilar, diz que o trabalho poderá subsidiar não só investimentos e políticas públicas, como também ações empresariais de redução de custos. “Os resultados mostram os custos não financeiros, quer dizer, custos que não são, na prática desembolsados pelo exportador, mas que impactam a competividade dos produtos”, complementa do Jayme Dias Filho, da Federação das Indústrias.

PAC traz solução para muitos dos problemas

O estudo que mede os impactos do custo logístico nas exportações do Rio Grande do Norte mostra a origem dos problemas enfrentados pelas empresas exportadoras e descobriu que além dos custos financeiros que desembolsam, há os custos escondidos envolvidos no processo, chamados de custos evitáveis ou extras, que não representam desembolso direto, mas que poderiam ser reduzidos, de forma que o processo completo fosse mais barato. Os consultores também listam recomendações para que esses problemas sejam, senão eliminados, ao menos minimizados. Algumas das recomendações envolvem o porto de Natal, sugerindo a reestruturação do espaço interno e também a aquisição de mais equipamentos para movimentação dos conteineres, permitirindo uma operação mais eficiente.

A ovação de conteineres, ou o processo de colocar carga dentro do conteiner que será embarcado, é apontado pelo estudo como um dos principais custos evitáveis. O processo precisa ser mais eficiente, segundo o consultor. “É preciso rever os procedimentos de recebimento, ovação e envio do conteiner para o porto,a fim de evitar que fique parado na instalação produtiva ou no porto”, sugere o relatório. Melhorias na malha rodoviária e a facilitação e automatização da emissão de certificados necessários para exportação também são apontadas entre as soluções para reduzir custos.

Leopoldo Nunes, consultor que apresentou os dados, diz que muitas ações que foram propostas já foram ou vão ser encaminhadas via programas de governo, como o PAC ou por meio de outras iniciativas. “Analisamos a realidade que existia um ano atrás. Então alguns desses custos evitáveis foram reduzidos, alguns números podem ter mudado”, complementa.

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