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Iniciativa que a terra agradece

No Curtume Vanzella, instalado em Rolândia, os resíduos da produção são tratados e depois servem de adubo para a lavoura


No Curtume Vanzella, instalado em Rolândia, os resíduos da produção são tratados e depois servem de adubo para a lavoura

A produção de couro no Brasil está historicamente ligada à poluição do meio ambiente. Mas, no Norte do Paraná, a iniciativa de uma empresa tem mostrado que é possível reverter essa impressão. E mais, tem indicado que essa atitude além de não agredir a natureza pode beneficiar a produção agrícola. No Curtume Vanzella, instalado em Rolândia, os resíduos da produção são tratados e depois servem de adubo para a lavoura.

Entre todos os processos da indústria que objetivam dar um destino correto aos restos da produção, dois resíduos do curtume, o lodo primário, rico em nitrogênio, e o lodo do caleiro, material com grande quantidade de cal, são misturados e aplicados na plantação de grãos de áreas pertencentes à empresa. "A mistura desses dois lodos quando aplicada ao solo, funciona como corretivo e fertilizante além de ser uma alternativa para disposição e reciclagem desses resíduos", observa o agrônomo Alexandre Martin Martines, que há sete anos tem pesquisado sobre o assunto e prestado consultoria ao curtume Vanzella.

Segundo ele, levantamento sobre a produção apontou que a lavoura onde foi aplicado esse material teve ganho de produtividade de 11% em relação ao processo convencional, com acréscimo de nitrogênio. E foi 13% mais eficiente que a lavoura com manejo convencional sem adubação de nitrogênio. A empresa complementa o manejo com outros adubos e fertilizantes para atender e equilibrar as necessidades do solo.

Todo esse processo de descarte de lodo e sua aplicação é apenas uma parte de um projeto do Curtume Vanzella que vem sendo estruturado há anos. Desde que foi instalado, em 1997, os diretores do local sempre se preocuparam em encontrar uma solução para os efluentes. ""O curtume é uma indústria altamente poluente, por isso precisamos cuidar muito bem da destinação dos nossos resíduos"", afirma Edson Vanzella Pereira de Souza, um dos quatro sócios da indústria, consciente de sua atitude.

Ele lembra que quando iniciaram as atividades foram atrás de outras empresas do setor para conhecer seus projetos para tratamento de efluentes. "Não encontramos muita coisa. Vimos uma pesquisa, com poucos resultados, mas que deu uma base para a gente formatar nossa indústria", conta. Um dos primeiros passos foi tentar separar o cromo - metal utilizado no processo de curtição, que serve para estabilizar as moléculas do couro e que pode causar danos ambientais significativos - do lodo primário antes de levá-lo a campo. O cromo, por sua vez, é tratado no curtume e encaminhado a um aterro classe 1 adequado para receber esse material.

Junto com a consultoria de Martines o curtume passou a separar esse cromo dos efluentes. Fora isso, foram feitas várias pesquisas de contaminação de solo, do lençol freático, de lixiviação de nitrogênio mineral, perda de nitrogênio por volatilização da amônia, entre outros efeitos residuais após aplicação de doses do lodo de curtume no solo. Atualmente, com autorização do Instituto Ambiental do Paraná (IAP), o resíduo do curtume é distribuído em cerca de 400 alqueires de produção de grãos em volta da indústria.

"E as pesquisas para destinar corretamente nossos resíduos não param, entre outras coisas, queremos encontrar uma forma de reutilizar o cromo que vai para o aterro", pontua Vanzella, lembrando que mesmo o material sendo depositado no aterro corretamente não deixa de ser um passivo ambiental para a indústria. Atualmente, o Curtume Vanzella produz 3 mil couros por dia e gera 250 toneladas de resíduo.

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