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Insolvência de usinas pode comprometer a próxima safra de cana

A situação mais crítica é a do Nordeste. "No Nordeste não estão conseguindo investir nem para renovar a lavoura"


Usinas com instalações comprometidas pela emenda da moagem e produtores sem condições de investir na compra de insumos e na renovação das lavouras: esse é o cenário que precede a próxima safra de cana-de-açúcar no País. O avanço na liquidação do açúcar e do álcool produzidos neste ano teve pouco impacto na redução do número de indústrias inadimplentes junto aos fornecedores e o governo federal volta a investir em programas de subvenção ao produtor para minimizar o quadro de perdas.

A situação mais crítica é a do Nordeste. Com 71,7 milhões de toneladas de cana-de-açúcar estimada para a próxima safra, a região tem uma participação pequena na produção nacional se comparada à do Centro-Sul, mas é de importância significativa em termos de postos de trabalho. Por isso, a Secretaria de Agroenergia do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) convocou na última quarta-feira representantes do setor na região para discutir o endividamento.

Segundo Cid Caldas, coordenador de açúcar da Secretaria de Agroenergia, a comercialização da última safra colhida no Nordeste já está na reta final e permite uma visão mais abrangente da crise. "A subvenção vai dar um fôlego a esses fornecedores, mas as indústrias têm que estar atentas para que o produtor independente não venha a quebrar. Conversamos com elas e sentimos boa vontade", afirmou Caldas. "No Nordeste não estão conseguindo investir nem para renovar a lavoura", pontuou. De acordo com o coordenador do Mapa, cerca de 60% dos recursos do programa já foram repassados aos produtores. Na última sexta-feira, o Diário Oficial da União (DOU) notificou que os fornecedores de cana do Rio de Janeiro e suas cooperativas estão incluídos no programa de subvenção.

A portaria interministerial estabelece que a subvenção seja efetuada sempre que o preço do produto for inferior a R$ 40,92 por tonelada. O produtor receberá até R$ 5 por tonelada, limitado a dez mil toneladas de cana. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) deve fixar, nesta semana, as condições operacionais do auxílio.

Gerson Carneiro Leão, presidente do Sindicato dos Cultivadores de Cana de Açúcar, no Estado de Pernambuco à frente da Comissão Cana-de-Açúcar da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), também esteve em Brasília na última semana, mas não se mostra otimista quanto à recuperação do setor no Nordeste. "O governo liberou linha de crédito para as usinas, mas não tira o certificado de nada-consta, então ficamos no mesmo. Quem sofre é o fornecedor que está financiando a usina sem juro", disse. Para recompor o caixa, algumas usinas deixaram de recolher impostos e de pagar aos produtores pela cana que lhes foi entregue.

De acordo com levantamento da CNA, no Nordeste há uma usina inadimplente na Paraíba, nove em Pernambuco e 14 em Alagoas. Os três estados juntos têm 48 unidades industriais. "O fornecedor não recebeu, mas deve o adubo, o herbicida", destaca Leão. Segundo ele, Manoel Bertone, secretário de Agroenergia, disse que o atual governo é voltado para o social e daqui para frente as usinas que tiverem um número maior de fornecedores serão beneficiadas. A afirmação foi feita em reunião que contou com a presença de Renato Cunha, presidente do Sindaçúcar, Alexandre Andrade Lima, presidente da União Nordestina dos Produtores de Cana (Unida) e Antonio de Padua Rodrigues, diretor-técnico da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica).

No Centro-Sul, a comercialização da safra avança com um etanol voltando a patamares remuneradores, mas com exceção do Paraná que conseguiu renegociar suas dívidas, todos os outros estados produtores da região apresentam empresas em situação de inadimplência. Nesse caso o governo não deverá fazer nenhuma ação no sentido de subsidiar os produtores. "O programa de financiamento já está a disposição da indústria e temos visto a recuperação do preço do álcool na bomba" disse Caldas. "As indústrias não estão tomando o recurso porque estão vendendo o produto. É o quinto ano do programa e este foi o ano que ele saiu mais cedo. Algumas empresas estão complicadas em termos de cadastro", avaliou Caldas.

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