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Intervenção do governo na safra 2004/05 será menor


A expectativa do setor agrícola de que o governo poderia intervir em até 10% da safra neste ano se transformou em frustração e temor de aumento do endividamento rural e de diminuição da produção futura. O orçamento para o apoio à comercialização ficou em R$ 538,6 milhões, um quinto do esperado. Com isso, o governo pode apoiar a comercialização de somente 2% da produção: 2,8 milhões de toneladas.

O recurso inicial aprovado no orçamento era de R$ 526,8 milhões. Outros R$ 2 bilhões estavam previstos em emendas apresentadas no Congresso Nacional. No entanto, foram aprovados apenas R$ 11.835 - suficientes para comprar 820 sacas de milho.

"É uma frustração de expectativa, mas estamos buscando outras medidas que viabilizem recursos para a comercialização", diz o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Ivan Wedekin. Segundo ele, apesar de pequeno, o recurso aprovado na emenda permite que, posteriormente, seja acrescido outro valor, pois 15% do Orçamento Geral da União (R$ 357,8 bilhões em despesas) pode ser usado livremente, desde que tenha "rubrica".

O presidente da Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados, Leonardo Vilela (PP/GO), diz que, se preciso, a bancada ruralista irá obstruir votações importantes para o governo a fim de conseguir recursos." Não vamos permitir que um setor fundamental para o País quebre por falta de sensibilidade da área econômica", afirma.

"É difícil explicar que um setor que colabora com 95% do saldo da balança comercial não consiga R$ 2 bilhões. A agricultura está pedindo pouco para o que gera para a economia", avalia o consultor Carlos Cogo. Para o economista Getúlio Pernambuco, da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, o recurso não será suficiente para sustentar os preços. A CNA previu que o governo precisaria intervir em 21,2 milhões de toneladas da safra - estimada em 134 milhões de toneladas -, com gasto de R$ 3,2 bilhões.

Safra 2005/06 menor:

"É impossível para o agricultor continuar investindo na próxima safra após dois anos seguidos de problemas na comercialização", avalia Pernambuco. Na opinião dele, a alternativa à menor intervenção será a prorrogação das dívidas de custeio e financiamento. "Vamos ter de deixar de pagar as contas", diz o arrozeiro Juarez Petri, de Tapes (RS). Ele acredita que precisará segurar ao máximo sua produção - estimada em 50 mil sacas - e só vender no momento necessário para honrar dívidas.

Além de os recursos estarem escassos, R$ 285 milhões estão comprometidos com os contratos de opção de trigo lançados no ano passado, mas que vencem em 2005. Sobrariam R$ 253 milhões para serem gastos com arroz, algodão, milho e trigo, prioritários para o governo. "Mas esse volume é flexível, pois podemos vender estoques e fazer caixa", diz Wedekin.

O consultor Carlos Cogo teme que, com a pouca verba, o governo só intervenha no mercado em momento pontuais, quando os preços estiverem muito baixos, e em pouco volume, o que não reverteria a situação. Ele cita o que ocorreu em 2004, quanto o ministério tinha R$ 270 milhões e lançou contratos de opção para milho e trigo no segundo semestre, que apenas estancaram a queda nas cotações. Antes dos leilões, o trigo estava cotado a R$ 380 a tonelada, no Paraná, e o milho, a R$ 13 a saca no Mato Grosso. Hoje os grãos são vendidos a R$ 370 e R$ 8, respectivamente.

Entre as prioridades, o arroz é o produto que está com a colheita mais próxima - prevista para março - e preços bem abaixo do custo de produção. O grão é comercializado a R$ 22 a saca no Rio Grande do Sul para um gasto de R$ 29. "De alguma maneira o recurso vai ter de aparecer, pois teremos um excedente de 1,5 milhão de toneladas e, sem intervenção, estamos incapacitados de honrar nossas dívidas", diz Valter Pöetter, presidente da Federação dos Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz).

"O governo tem de intervir para incentivar o plantio da safrinha, que será a chave para o mercado de milho em 2005", avalia Paulo Molinari, da Safras & Mercado. Segundo ele, com a quebra da safra no Rio Grande do Sul, uma eventual redução no plantio da safrinha pode representar problemas de abastecimento. E, de acordo com Molinari, a maior preocupação é o Centro-Oeste, que responde por metade da safrinha e tem comercializado o grão a valores entre R$ 7 e R$ 13 a saca.

"Ainda estou estudando se vou plantar a segunda safra, pois o preço não está cobrindo os custos", diz Pedro Krampe, produtor de algodão, soja e milho em Campo Novo do Parecis (MT).

Para o trigo também há temor de redução da área plantada se não houver melhora nos preços, que atualmente estão entre R$ 310 e R$ 370 a tonelada para um custo de R$ 400. "O governo tem que acenar com alguma segurança, do contrário o produtor não planta", diz Antônio Wüsch, da Cooperativa Tritícola Três de Maio (Cotrimaio). Ele acredita que se não houver reversão nos preços, a redução no plantio será de 30% no Rio Grande do Sul.

"O avanço da agricultura vai ser comprometido se não houver recurso suficiente para apoiar a safra", diz João Luiz Pessa, presidente da Associação Matogrossense dos Produtores de Algodão (Ampa). Segundo ele, apenas o algodão precisaria de R$ 500 milhões para o lançamento de contratos de opção, Prêmio para o Escoamento do Produto (PEP) e Empréstimos do Governo Federal (EGF). Para Pessa, é preciso que medidas sejam tomadas até o início da colheita - em abril no Sul do País -, pois a única expectativa de preços melhores é se houver redução da safra do Hemisfério Norte. Atualmente, o algodão é vendido a R$ 1,20 a libra-peso; o preço mínimo de garantia do governo de R$ 1,35.

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