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John Deere faz recall de colheitadeiras


A John Deere, uma das maiores fabricantes mundiais de máquinas agrícolas, está realizando um "recall" sem precedentes no mundo. Está trocando os motores Mercedes-Benz de 177 colheitadeiras de cana-de-açúcar da marca Cameco, produzidas desde 2001 na fábrica de Catalão (GO), por motores Scania. "Será uma super operação de guerra, pois teremos de trocar todos os motores até março, ou seja, antes do início da safra no Centro-Sul", afirma Paulo Renato Herrmann, diretor de marketing da John Deere Brasil.

Os motores Mercedes-Benz não se adaptaram à colheitadeira Cameco, marca de propriedade da John Deere, na severidade da operação canavieira, na qual as colheitadeiras rodam 24 horas por dia, num total de mais de 3 mil horas por safra.

"Infelizmente, tivemos problemas desde 2001. Os motores Mercedes-Benz fundiam", afirma José Carlos Leite, gerente de manutenção da Usina Alta Mogiana, de São Joaquim da Barra, no interior paulista. Segundo ele, a própria John Deere arcou, de 2001 até o final de 2003, com 22 trocas de motores Mercedes-Benz, e isto numa frota de apenas nove colheitadeiras Cameco na usina Alta Mogiana. "Mas foi um problema que, pelo tratamento dado pela John Deere, nos trouxe mais confiança à marca, tanto que acabamos de adquirir uma nova colheitadeira Cameco", diz Leite.

A assessoria de imprensa da Mercedes-Benz, com fábrica em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, afirmou que o recall "foi uma surpresa" e que a empresa, no momento, está analisando o assunto.

José Hamilton Sangiuliano, diretor da unidade de motores industriais e marítimos da Scania para a América Latina, por sua vez, considerou de "extrema importância" o fornecimento de motores para a John Deere. Segundo Sangiuliano, trata-se de uma companhia de grande porte que atua numa área estratégica para a Scania, que é a sucroalcooleira, consumidora de grandes volumes de caminhões para o transporte de cana, açúcar e álcool. Otávio Barros, gerente comercial da Scania, comemora a escolha da John Deere, que optou pelos motores Scania fabricados em São Bernardo do Campo em vez de importar motores franceses da própria marca.

O "recall" terá custo aproximado de R$ 10 milhões, sem contar a margem de lucro das fábricas e dos concessionários John Deere e Scania. Os motores Mercedes-Benz e os periféricos, com peso de uma tonelada, terão de ser levados das usinas canavieiras até Catalão. Lá, os novos motores Scania estarão na linha de montagem para adaptações e instalação dos periféricos. Depois, retornarão para as usinas. A John Deere não sabe ainda qual será o destino dos motores Mercedes-Benz.

Os proprietários das colheitadeiras Cameco, todas já fora de garantia e algumas com mais de 10 mil horas de uso, estão contentes com o "recall", pois terão motores Scania novos para a nova safra.

O anúncio do "recall" foi feito na sexta-feira, no Hotel JP, em Ribeirão Preto, quando a John Deere fez o lançamento da nova colheitadeira de cana, modelo CH 2500B. A máquina pesa 19,3 toneladas, tem 14 metros de comprimento, 6,35 metros de altura e preço de R$ 600 mil. O motor é o Scania DI12 40A, de seis cilindros, 11,7 litros e potência de 300 e 330 cavalos.

"A nova máquina vai viabilizar, definitivamente, o corte mecanizado da cana-de-açúcar", diz Herrmann. Segundo ele, apesar de 35% da produção canavieira do País ter corte mecanizado, sempre há especialistas que colocam em dúvida a eficiência da mecanização da colheita. Herrmann refere-se às discussões das "perdas invisíveis" da colheita mecanizada, que danificaria a soqueira da cana, reduzindo a produtividade e a vida útil dos canaviais.

Segundo Herrmann, a resposta da John Deere a essas "perdas invisíveis" está em vários equipamentos presentes na nova colheitadeira. Entre eles, o CACB, ou Controle Automático de Corte de Base, um sistema que controla a pressão do cortador na base das plantas, reduzindo as perdas de cana e as impurezas na matéria-prima. Segundo levantamento preliminar da John Deere, o CACB reduz em até 50% as impurezas minerais contidas na cana colhida mecanicamente.

Herrmann diz que o CACB também reduz muito o estresse dos operadores, que, nas máquinas antigas, eram obrigados a controlar visualmente (ou ouvindo a rotação do motor) a pressão do cortador, além de monitorar o alinhamento da máquina, o descarregamento da cana, a pressão e temperatura do óleo, etc.

O mercado de colheitadeiras de cana, que movimentou entre 100 e 120 unidades anuais desde meados dos anos 90, caiu para apenas 40 máquinas em 2003. "No ano passado, as usinas priorizaram o investimento na área industrial, para processar maiores volumes de cana. Neste ano, as vendas devem voltar para o nível de 100 unidades".

O principal concorrente da Cameco no setor de cana é a CNH, que produz colheitadeiras da marca Case, em Piracicaba (SP). As máquinas Case também usam motores Scania, mas de família diferente dos que equipam as colheitadeiras Cameco.

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