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La Niña afeta produção de leite no RS

Atualmente, 65 municípios riograndenses estão em estado de emergência, causando perdas também nas lavouras de milho e soja


O verão com poucas chuvas, típico do fenômeno La Niña no Sul do País, trouxe reflexos para a pecuária do Rio Grande do Sul. As regiões de bacias leiteiras do estado tiveram precipitações abaixo do normal nos últimos três meses. E a conseqüência é uma diminuição na produção de leite da ordem de 10%, provocando a elevação da ociosidade das indústrias gaúchas de 20% para 35%. Atualmente, 65 municípios riograndenses estão em estado de emergência, causando perdas também nas lavouras de milho e soja. Apenas o arroz é beneficiado com o clima.

O pecuarista Fernando Stédile, de Passo Fundo, precisou iniciar a suplementação alimentar dos animais antes do esperado. E, agora, planta a pastagem de inverno de olho no céu. Na sua região, a queda na produção girou entre 15% e 25%. O rebanho de Stédile ainda não teve sentiu a estiagem, pois ele tinha estoque de ração para dar aos animais. Mas seus custos aumentaram - parte compensada pela elevação dos preços do leite, de cerca de 15% em um mês.

Se depender do clima, a situação só tende a piorar. O meteorologista da Somar, Paulo Etchitchury, diz que o padrão climático do La Niña continua, com chuvas abaixo do normal no outono e inverno. "Não há estimativa de repor o déficit hídrico em horizonte curto", afirma. Pelos cálculos da empresa, em três meses, a precipitação foi menos da metade do esperado. "A pior situação climática hoje no País é a do Rio Grande do Sul", diz o meteorologista André Madeira, da ClimaTempo.

De acordo com ele, em outros estados, o fenômeno é o inverso: excesso de chuvas, que prejudica a colheita. É o caso do Paraná, Mato Grosso, Goiás e Maranhão.

Pelos cálculos do coordenador da Comissão de Leite de Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) , Jorge Rodrigues, a produção do estado só deve se normalizar em três meses. "Há falta de água até para dar aos animais", diz Breno Kirschof, assistente-técnico estadual em bovinocultura da Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater/RS).

O secretário-executivo do Sindicato das Indústrias de Laticínios do Rio Grande do Sul (Sindilat), Darlan Palharini, diz que a queda na produção, de cerca de 10%, ocorreu justamente nas bacias leiterias onde recentemente foram instaladas novas indústrias, aumentando a ociosidade das empresas. Na sua avaliação, a estiagem pode estender a entressafra do estado e comprometer a margem do setor. "Se não conseguirmos repassar o preço, teremos problemas", conclui.


Agricultura

Não só a pecuária leiteira está sofrendo com a estiagem. Pelos cálculos da Emater/RS, a produção de soja do estado será 18% menor que a do ano passado - chegando a 8 milhões de toneladas - e a do milho, 14% inferior - totalizando 5,3 milhões de toneladas. "Mas não podemos esquecer que o ano passado foi excepcional", diz Alencar Paulo Rugere, assistente estadual em soja da Emater/RS. Até o momento, segundo a instituição, a colheita de milho atinge 52% da área e a da soja, 25%.

A quebra se reflete nos pedidos de laudos para o Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro). De acordo com as estimativas da Emater/RS, até o final da colheita deverão ser feitas cerca de 15 mil comunicações de perdas - até o momento são cerca de 13 mil. "Mas tem gente que vai ter perda da safra e não ganhar o seguro", diz Cezar Henrique Ferreira, coordenador de crédito da Emater/RS. Segundo ele, como os preços dos grãos estão elevados, com menos sacas por hectare o produtor está obtendo a mesma renda do ano anterior.

A maior insolação e menor precipitação está beneficiando a cultura do arroz. De acordo com a Emater/RS, 50% da área foi colhida, com produtividade média acima de 6,6 mil quilos por hectare. O resultado pode ser uma safra recorde de 7 milhões de toneladas.

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