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Lagartas ampliam ataques e dão rasteira em Goiás

Milho geneticamente modificado não dispensa aplicações de agrotóxicos


Milho geneticamente modificado, que deveria ser resistente aos insetos, não dispensa aplicações de agrotóxicos

Os investimentos em tecnologia não têm surtido o efeito esperado nos campos goianos. As lavouras do estado, que tem a maior média de produtividade de milho de inverno do Brasil, sofrem severo ataque de lagartas, principalmente a Helicoverpa zea. A praga se disseminou por municípios do Sudoeste goiano, conferiu a Expedição Milho Brasil. Essa é a principal região produtora de grãos de Goiás. O problema acomete plantações também em Mato Grosso do Sul, onde estão os técnicos e jornalistas. 


O ataque acontece em praticamente 100% das áreas, o que acaba exigindo maior uso de agrotóxicos, inclusive onde houve cultivo de grão transgênico, variedade mais cara e que deveria eliminar o inseto. “Observamos que elas [lagartas] criaram resistência. Ano passado tivemos perda de 10% a 15% do potencial produtivo”, revela o produtor e presidente do Sindicato Rural de Mineiros (GO), Fernando de Carvalho e Mendonça. “Se não houver controle, a lagarta pode tirar até 30% do teto de produtividade”, avalia Luiz Tadeu Jordão, agrônomo que acompanha a Expedição.

Os produtores relatam que as empresas sementeiras estão conscientes do problema e que, apesar de a tecnologia não funcionar, os preços das sementes subiram. “A mesma semente que no ano passado custava R$ 360 por saca agora vale R$ 450, e não funciona”, afirma o produtor Ivair Bernardi, que prevê maiores custos com aplicação de inseticida nas lavouras. Cada vez que os pulverizadores precisam entrar em campo com veneno, o setor desembolsa cerca de R$ 25 por hectare. Com o objetivo de ganhar eficiência na aplicação, os produtores misturam pelo menos dois tipos de inseticidas. “Esses produtos controlam a praga, mas quando ela volta, parece que vem mais forte”, observa Mendonça.

Após contabilizar prejuízos com a lagarta no ano passado, muitos produtores goianos decidiram ampliar o plantio convencional, que tem semente mais barata, mas exige aplicações extras de agrotóxicos. Mendonça tem 50% da área cultivados com semente não-transgênica. As empresas orientam os produtores a adotar sementes convencionais em 10% e 15% da área total, refúgio que serve como isca para as lagartas e que geralmente tem rendimento inferior à média.

A estratégia, no entanto, não contém a disseminação do inseto, que não tem caído na armadilha. “Eu planto convencional em 50% da minha área e mesmo assim tive problema”, conta Bernardi. Neste ano, ele ampliou o terreno destinado ao cultivo do cereal para 300 hectares na região de Rio Verde, contra 170 hectares ocupados no ano passado. A cooperativa Comigo, que atua em todo o Sudoeste goiano, estima que 70% da área na região são plantados com grão transgênico.


Custo com controle da praga aperta margem

A guerra contra as lagartas ocorre num momento em que os preços do milho despencam no mercado doméstico brasileiro. Ou seja, os gastos necessários para o controle da praga tendem a apertar ainda mais as margens dos produtores, que apostam alto nesta safra.

Com a queda da cotação a R$ 15 por saca de 60 quilos no Centro-Oeste, o temor é que o preço seja reduzido à casa de R$ 10/sc no pico da colheita. Enquanto isso, os custos seguem crescendo.

Os produtores aproveitaram os lucros da temporada passada para adubar melhor os solos. Somente o gasto com fertilizante subiu de R$ 1,08 mil por tonelada para mais de R$ 1,4 mil por tonelada de insumo. “Considerando os preços atuais, não dá nem para pagar a conta”, afirma o produtor Ivair Bernardi, de Rio Verde (GO).

Apesar do ataque de pragas e do atraso para a chegada das chuvas no início do plantio da segunda safra de milho, Goiás deve fechar o ano com bom índice de produtividade média. “O milho que está salvo – 50% da área – deve render mais de 100 sacas por hectare (6 mil quilos/ha). Mas, como outra metade das lavouras ainda depende de chuva, o rendimento médio deve ficar entre 88 sacas e 91 sacas por hectare (5.280 a 5.460 kg/ha)”, avalia o agrônomo da Cooperativa Comigo Paulo Afonso Rodrigues Filho. “Ano passado, foram colhidos mais de 100 sacas por hectare”, compara. A cooperativa ainda tem 80% da produção de milho de inverno para vender.

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