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Laticínios investem em gado e produtividade

Os preços devem ficar cerca de 30% superiores ao registrado em 2006


Os pecuaristas e os laticínios brasileiros estão enfrentando uma nova fase na pecuária leiteira. Para se adaptarem ao novo cenário, investem em animais e em maior produtividade. O setor registra ao mesmo tempo desequilíbrio entre oferta e demanda e aumento nos custos de produção. Com isso, as cotações devem atingir um novo patamar, mesmo quando a safra recomeçar, em meados de setembro, os preços devem ficar cerca de 30% superiores ao registrado em 2006.

A "entressafra do leite" é provocada pela seca das Regiões Sul e Centro-Oeste, quando o pasto fica fraco e a produtividade diminui drasticamente. O período vai de abril a outubro. O preço por litro pago ao produtor aumentou quase 60% este ano, segundo levantamento da Scot Consultoria. Este mês, o preço do leite reagiu 12,55% na média ponderada nacional, alcançando o valor recorde de R$ 0,749 por litro.

Segundo a Consultoria, e o maior preço registrado quando se atualiza os valores pelo IGP-DI desde março de 1998. "Os produtores estavam descapitalizados, por causa da crise registrada nos últimos anos, e conseqüentemente a oferta ficou reduzida por falta de investimentos no setor", afirma Jorge Rubez, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Leite Brasil).

Segundo Rubez, além da produção menor, a demanda aumentou, desequilibrando ainda mais o mercado. De acordo com estimativas preliminares, o consumo de leite per capita passou de 135 litros ao ano para os atuais 140 litros ao ano.

Para reverter essa situação, os pequenos produtores - que respondem por mais de 30% da produção nacional - precisam investir em animais com maior índice de produtividade, avisa Rubez. "A produtividade média do gado leiteiro no Brasil é muito baixa, muitos animais produzem menos de 3 litros dia."

Segundo o setor, a raça Holandesa - que tem o melhor índice de produtividade da pecuária produz, em média, mais de 30 litros de leite por dia. Atenta a esse cenário, a direção da Parmalat já está se preparando para essa nova realidade do setor, com custos mais altos devido ao preço da matéria-prima.

Para tanto, segundo Marcus Elias, da acionista Laep, que controla a marca, a empresa já está investindo na ampliação de seu rebanho - ficando menos dependente de fornecedores - e na produtividade, selecionando os animais com maior nível de produtividade. "Com um rebanho menor, podemos ter um volume significativo com custos bem menores", afirma Elias.

A empresa quer trabalhar com animais que produzam cerca de 20 litros/dia. "Em algumas regiões, as vacas produzem três litros/dia e consomem a mesma quantidade de água que as com maior índice de produtividade".

Elias estima que com um plantel menor, a economia pode chegar a 20 bilhões de litros por ano.

Atualmente, a Parmalat conta com 20 mil fornecedores de leite, que devem ser integrados à empresa. A captação de leite da empresa é proveniente de 200 mil vacas, sendo que cerca de 5 mil pertencem à companhia.

A integração com os produtores também prevê a instalação de biodigestores para produção de energia elétrica em propriedades com poucos recursos. "O equipamento gera energia elétrica a partir dos dejetos das vacas, que produzem gás metano suficiente para gerar eletricidade para toda a propriedade", afirma.

Segundo a direção da Indústria de Alimentos Nilza, esse novo patamar de preços no leite deve ser facilmente absorvido pelo mercado. "Nesta entressafra, mesmo com o leite acima de R$ 2, o volume de vendas não diminuiu", informou o presidente da Nilza, Adhemar de Barros Neto.

Custos:

Assim como os preços subiram para o produtor, seus custos também aumentaram. Segundo dados da Scot Consultoria, desde o início do ano, a alta média acumulada é de 7,67%. Essa recuperação nos preços acontece devido à demanda mais aquecida pelos suplementos. O fosfato bicálcico, por exemplo, que é um importante componente na produção de suplementos minerais, teve um reajuste de 12,73% desde janeiro.

Crise mundial:

Mas o problema não é localizado, trata-se de uma crise mundial. No mercado internacional, o preço do leite em pó - cotação que serve de base para todos os mercados - saltou de US$ 2 mil a tonelada em 2006, para os atuais US$ 5 mil a tonelada.

Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), hoje o mundo já registra um pequeno déficit na produção. A estimativa da FAO é de que em menos de 10 anos a demanda seja 34 bilhões de litros maior do que a produção. Segundo especialistas do setor, o aumento da demanda mundial está ocorrendo em função do aumento do consumo em países, como a China, que tradicionalmente não tinham o leite em sua dieta.

Vale ressaltar, que com o preço em alta no mercado internacional, a balança comercial do leite registra superávit de US$ 25 milhões no primeiro semestre.

Abertura de capital:

Assim como ocorre em outros setores da economia, as grandes empresas do setor de lácteos também estão apostando na abertura de capital para captar recursos. A Eleva Alimentos S.A. (ex-Avipal) protocolou, no início do mês, na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) um pedido de registro de oferta pública primária de ações ordinárias ao mercado. Já a Parmalat entrou com o pedido na CVM na semana passada.

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