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Laudo nega aftosa no Paraná após 14 meses

Produtores que tiveram prejuízo com abate de gado e restrições para sua comercialização dizem que vão processar a União


Um ano depois de o Paraná ter sido declarado oficialmente foco de febre aftosa e depois de uma polêmica que dura já 14 meses -desde a primeira suspeita da doença no Estado-, resultados de necropsia em animais abatidos em solo paranaense indicam que eles não estavam contaminados pelo vírus da doença. O laudo que desmente a existência da doença no Estado é assinado por uma comissão em que o Mapa (Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento) tinha um representante.

Datado do último dia 4, o laudo final da comissão de necropsia é assinado por representantes dos produtores, da Secretaria de Agricultura do Paraná, do Mapa e do Panaftosa (Centro Pan-Americano de Febre Aftosa). O Mapa, no entanto, informou ontem que o resultados obtidos pela comissão de necropsia não mudam a posição do ministério sobre o caso.

A notificação de focos de aftosa em Mato Grosso do Sul (onde foram confirmados) e no Paraná, de acordo com avaliação do próprio Mapa em novembro do ano passado, causou prejuízos a pecuária nacional avaliados em ao menos US$ 1,7 bilhão devido ao embargo da carne brasileira. No Paraná, que ainda sofre com as restrições dos compradores internacionais, os prejuízos ainda não foram calculados.

"A preocupação maior agora é sensibilizar os organismos internacionais de que o Paraná não teve a doença, para depois analisarmos os prejuízos e as medidas a serem tomadas", disse ontem o vice-governador reeleito do Paraná, Orlando Pessuti, secretário da Agricultura paranaense.

Polêmica:

A divulgação da suspeita de febre aftosa no Paraná, sua confirmação pelo Mapa em dezembro de 2005 e o abate de animais no Estado foi objeto de divergências entre o Estado e o ministério federal. Mas houve também "acertos" para livrar do sacrifício animais de alto valor. Matrizes e reprodutores PO (de pura origem) foram retirados da lista de animais a serem abatidos.

A Folha apurou que, em fevereiro de 2006, em reunião em Maringá (noroeste do Paraná), técnicos do Mapa e da Secretaria de Agricultura do Paraná aceitaram duas condições dos produtores para o sacrifício de animais: seria criada uma comissão para fazer necropsia dos animais abatidos e animais PO de propriedades nas regiões de Maringá e Grandes Rios seriam retirados da lista dos 7.500 animais que acabaram sacrificados no Paraná. Os produtores José Moacir Turquino e Alexandre Turquino conseguiram ainda incluir no acordo a necropsia de animais da fazenda Bonanza, de Eldorado, Mato Grosso do Sul.

A polêmica sobre a aftosa no Paraná surgiu depois que animais dos dois pecuaristas foram levados ao Estado, em setembro de 2005, e vendidos em leilão organizado por eles em Londrina, em 4 de outubro do ano passado.

No dia 10 de outubro do mesmo ano o Mapa notificou focos de aftosa em Eldorado (MS) e incluiu a fazenda Bonanza como área de interdição. Os Turquino acabaram suspeitos de difundirem a aftosa de Mato Grosso do Sul para o Paraná.

Exames RT-PCR (que identificam traços do vírus no animal caso ele tenha tido a doença até dois anos antes) mostraram que não existia o vírus nos animais levados ao Paraná, assim como naqueles da fazenda em Eldorado. Os pecuaristas decidiram agora ingressar na Justiça Federal contra a União, por prejuízos financeiros e morais.

André Müller Carioba, presidente da ANPBC (Associação Nacional dos Produtores de Bovinos de Corte), que teve 1.800 animais sacrificados em São Sebastião da Amoreira (norte do Paraná), disse que irá anexar o laudo da comissão de necropsia à ação que move contra a União na Justiça Federal em Londrina.

"Meu prejuízo não foi apenas com os animais sacrificados. Eu confinava 12 mil cabeças por ano e, neste ano, devido ao vazio sanitário de seis meses e à demora no sacrifício dos animais, entreguei apenas 3.000 cabeças", disse.

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