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Lavouras limpas de soja denunciam transgênicos em assentamentos no RS


Uma conversa de meia hora com agricultores assentados no norte do Rio Grande do Sul é suficiente para comprovar o que uma olhada nas lavouras limpas, sem um inço sequer, já denunciava. Contrariando a posição pública do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a soja transgênica domina as plantações nos maiores redutos do MST.

Ontem (12-03), diante das evidências, dirigentes do movimento confirmaram o plantio de soja transgênica nessas áreas. "Foi uma surpresa total. Em geral, os produtores ligados ao movimento têm um nível de consciência mais elevado", disse o deputado federal Adão Pretto (PT-RS), ligado ao MST, que defende a comercialização da safra atual para evitar prejuízos aos produtores.

Paulo da Rosa, um dos coordenadores do MST gaúcho, lembra ter havido uma campanha maciça contra os organismos geneticamente modificados, mas reconhece que os resultados não foram totalmente bem-sucedidos. "Não temos controle total sobre os assentamentos", admitiu o dirigente, prometendo começar uma pesquisa para identificar quem plantou ou não soja transgênica.

Para ele, os responsáveis pelo plantio de sementes modificadas já não fariam parte da entidade, num percentual calculado em 5%. "Ficam à merçê da propaganda de multinacionais e de entidades de grandes produtores", observa, dizendo não haver previsão de expulsões ou represália aos que usaram sementes modificadas.

O presidente da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Carlos Sperotto, estranha e ironiza as insinuações de que a entidade teria induzido o plantio de sementes transgênicas: "o plantio é proibido e nunca o incentivamos". Na região de um dos principais assentamentos do Planalto Médio, técnicos, cooperativas, donos de agropecuárias e produtores confirmam o que virou senso comum nas rodas de conversa. Todos, porém, pedem para não ser identificados, com medo de represálias.

"Recebemos o grão sem identificação, mas sabemos que não é a convencional", explica o diretor de vendas de uma cooperativa. "80% da soja desse assentamento vem de semente transgênica", afirma o assessor técnico que visita periodicamente os produtores. Embora reconheça não ter certeza se a tecnologia faz bem ou mal, o agricultor J.W., integrante do MST, confirma ter feito experimentos com soja transgênica nos últimos dois anos. Nesta safra, ele aumentou a cultura e plantou oito hectares com uma variedade transgênica que comprou do vizinho.

"O MST sempre orientou a não plantar, mas eles vão fazer o quê? Todo mundo planta porque sai mais em conta", alega o produtor. Em outra propriedade, o assentado A.S. planta 12 hectares de soja transgênica. "Até tem gente que se diz contra, e é bem atuante no movimento, mas planta o transgênico. Não há como ter um controle", diz A.S. A direção da cooperativa do assentamento não quis conversar sobre o assunto.

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