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Leilão sem oferta agrava crise do milho no Nordeste


Fracassou mais uma tentativa de garantir o abastecimento de milho para a avicultura nordestina. No leilão realizado ontem pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para a compra de 50 mil toneladas de milho, que seriam destinadas às regiões Norte e Nordeste, não houve uma oferta sequer dos produtores goianos, que iriam disponibilizar o grão. O preço de abertura do leilão, fixado em R$ 19 (saca de 60kg) esvaziou o pregão. O edital anunciando que o governo iria reiniciar a formação de estoques na semana passada foi o suficiente para provocar um viés de alta no mercado e fazer com que os produtores retivessem o milho.

A gerente da cadeia de oleaginosas e produtos agropecuários da Conab, Rocilda Moreira, diz que até o final da semana deve acontecer uma reunião entre a Companhia e a Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura para definir uma nova estratégia. "O que aconteceu hoje (ontem) faz parte do jogo da comercialização. Como a saca do milho teve uma apreciação de R$ 0,50 em Goiás, os produtores decidiram não vender o grão", analisa.

Enquanto isso, os produtores nordestinos, que esperavam o repasse do milho até o final de abril, vão continuar adquirindo o grão com um ágio de pelo menos 70%. Em função do frete, o milho de Goiás chega a Pernambuco e Ceará ao preço de R$ 33. Na avaliação do presidente da Associação Avícola de Pernambuco (Avipe), Edílson dos Santos Júnior, o que está havendo é uma forte pressão dos agricultores para que o milho permaneça nos estados produtores, atendendo às indústrias e refinações de milho.

"Agora estamos esperando uma decisão do governo porque a crise no setor deve se agravar", diz o presidente da Avipe, sugerindo que sejam liberadas as importações de milho transgênico da Argentina. Maior produtor de frangos e ovos do Nordeste, Pernambuco já contabiliza uma redução de 30% na atividade. Hoje o Estado produz 7,5 milhões de unidades de frango/mês e 3 milhões de ovos/dia.

No Ceará, onde a queda na produção de frangos e ovos chega a 20%, os avicultores também apontam a aquisição do milho argentino para tentar solucionar o problema do abastecimento. "Já que o Governo não consegue realizar os leilões, que encontre uma solução rápida e eficaz", sugere o presidente da Associação dos Avicultores do Ceará (Aceav), José Alberto Bessa Júnior. Segundo ele, o grão do país vizinho chega ao Nordeste cotado a R$ 25, quase R$ 10 a menos que o milho goiano.

A avicultura cearense, que abate 4 milhões de frangos/mês e produz 2,2 milhões de ovos/dia, precisa ser abastecida mensalmente com 25 mil toneladas de milho. O presidente da Aceav diz que outra alternativa para os avicultores seria a compra de milho do Paraná, maior produtor nacional do grão, e que está com melhor oferta de preço atualmente. "Mas existe um problema de logística que inviabiliza a operação. As importações a partir do Paraná precisam ser realizadas por via marítima. A pesar de ser mais barata que o frete rodoviário, a demora na entrega do produto chega a ser quase três vezes maior.

Para se ter uma idéia, enquanto por caminhão o tempo de espera é de sete dias, de navio chega a 20. "Isso sem falar que existe disponibilidade diária de caminhão, podendo embarcar a carga de acordo com o capital de giro do avicultor, ao passo que por via marítima é necessário realizar embarques maiores", completa Bessa. Esse foi um dos motivos que motivou a Conab a realizar o leilão de compra, apostando no milho de Goiás. A gerente da cadeia de oleaginosas e produtos agropecuários da Conab, Rocilda Moreira, diz que a expectativa da companhia era ofertar 50 mil toneladas de milho/mês para as regiões Norte e Nordeste, além do norte de Minas Gerais.

Rocilda calcula que no ano passado a Conab comercializou 1,8 milhão de toneladas de milho, das quais 1,25 milhão vieram para o Nordeste, numa média de 104 mil toneladas/mês. Pernambuco liderou as compras com 30% de participação, seguido pelo Ceará (10,5%), Bahia (7,9%) e Paraíba (6,12%).

A técnica da Conab diz que apesar da previsão de um pequeno recuo na safra goiana, a expectativa é de um crescimento de 9,5% na primeira colheita nacional, estimada em 31,8 milhões de toneladas e de 8,9 milhões na safrinha, que tem início a partir de maio. "Mas ainda poderemos ter surpresas nesta safra, em função do aumento da produtividade. Em Goiás, por exemplo, a média é de 5.100 kg/hectare", observa.

Hoje (26-03), representantes da Avipe estarão na Assembléia Legislativa de Pernambuco para discutir a crise na avicultura no Estado e discutir alternativas para o abastecimento de milho.

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