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Logística pode ser obstáculo para exportar etanol

As rodovias do país não devem concentrar o transporte do combustível


A visita do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, ao Brasil, na semana passada, para tratar dos biocombustíveis evidenciou a discussão a respeito das exportações de etanol. Para reduzir o consumo de gasolina em 20% nos próximos dez anos - compromisso assumido recentemente por Bush -, os Estados Unidos precisarão de 35 bilhões de galões de combustíveis alternativos, por dia, até 2017. Hoje, o único país capaz de responder essa demanda por biocombustíveis é o Brasil, que, além da sobretaxa norte-americana sobre o etanol, também enfrenta um outro obstáculo para as exportações do produto: a logística.

A construção de dutos para o transporte de etanol das usinas aos portos, por enquanto, é apontada como a alternativa mais adequada. Apesar de funcionar bem para o segmento de suco de laranja, por exemplo, as rodovias não devem concentrar o transporte do etanol. O coordenador do Grupo de Pesquisa e Extensão e Logística Agroindustrial da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-LOG), José Vicente Caixeta Filho, aponta diferenças entre os dois setores que diferenciam o transporte. Ele lembra que o setor de suco de laranja é um oligopólio, contando com um número muito menor de agentes do que no sucroalcooleiro.

"Assim fica mais fácil organizar a programação de dentro da porteira até o navio. Como eles têm um volume muito significativo a ser movimentado, o poder de barganha é muito maior na hora da negociação do transporte. Em nome do giro maior, o negócio fica interessante para os dois lados (produtor e transportadora)", explica.

Caixeta ressalta que esse tipo de negociação é mais difícil no caso da soja, por se tratar de uma cadeia mais pulverizada. No setor sucroalcooleiro, também há essa capilaridade, mas com algumas características particulares: a produção está mais concentrada na região Sul e Sudeste e "envolve um empresariado mais profissional".

Segundo ele, as ferrovias surgem como uma boa alternativa a esse setor. "Está sendo falado sobre um desvio ferroviário para facilitar a ligação da indústria à malha. Também há a alternativa do pagamento de frete adiantado, possibilitando a incorporação de novos vagões para transporte dedicado", diz Caixeta. Ele também destaca que há expectativa de que as Parcerias Público-Privadas (PPPs) possam contribuir para a expansão da malha ferroviária, que hoje conta com apenas 28 mil quilômetros, contra 178 mil quilômetros de rodovias pavimentadas.

O presidente da Associação Nacional dos Transportadores de Carga e Logística, Geraldo Viana, também aposta nas ferrovias e nos dutos para o transporte de etanol. Mas ele ressalta que, para que grandes obras sejam iniciadas, é preciso ter a certeza de que haverá procura pelo produto a ser transportado. Para ele, a logística não é um entrave grave às exportações. "É preciso ter a certeza da demanda. Você não consegue colocar o transporte na frente", afirma. Segundo Viana, a construção de um duto de Ribeirão Preto, pólo de produção de etanol, a Santos é uma "obra relativamente rápida". "Quando você tiver a demanda certa, isso se resolverá rapidamente", acredita.

"O Brasil não perde mercado por causa do transporte hoje e não será assim no caso do etanol. Ele pode encarecer um pouco o preço do produto, como acontece com a soja, mas continuamos sendo um grande exportador do grão", diz.

Nesta semana, entre os dias 15 e 16, a Esalq promove o 4º Seminário Internacional em Logística Agroindustrial, em Piracicaba, São Paulo. O tema do evento este ano é "o transporte rodoviário de granéis líquidos" e o transporte de álcool está entre os assuntos a serem abordados.

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