A barreira aos transgênicos começa a cair no Brasil. Ontem o governo decidiu manter a proibição ao plantio de organismos geneticamente modificados, mas anunciou que tentará encontrar uma saída jurídica que permita o escoamento da produção atual, sobretudo a soja gaúcha, boa parte transgênica. A decisão foi anunciada após uma longa reunião entre o presidente Lula e os principais ministros ligados ao tema, entre eles o da Agricultura, Roberto Rodrigues, favorável aos transgênicos, e a do Meio Ambiente, Marina Silva, contra a iniciativa.
O porta-voz da Presidência André Singer, considerou que houve omissão de fiscalização no governo passado, o que permitiu que agricultores de todo País plantassem soja transgênica. "Isso constitui uma ilegalidade." Só que agora o governo acredita que criará um problema social e econômico se proibir a venda da soja já plantada e colhida. "A proibição da venda prejudicaria dezenas de milhares de pequenos agricultores e por isso o governo encontrará a solução para escoar a soja."
Segundo o governo, a saída será promover "ajuste de conduta" desses produtores, mas que ao mesmo tempo mantenha o vigor da legislação, que proíbe o plantio. O detalhamento das medidas ficará a cargo dos ministérios nos próximos dias.
Ontem à tarde, ainda sem uma posição oficial do governo, o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, defendeu a liberação do plantio de transgênicos pelos agricultores brasileiros. "O Brasil deveria conviver com os dois produtos (transgênicos e convencionais)." Para Furlan, o Ministério do Desenvolvimento tem "visão pragmática, com os olhos no mercado".
Para Furlan, o governo deveria adotar posição que favoreça as vendas da soja brasileira. Para avaliar até que ponto o mercado oferece remuneração extra por grãos convencionais, o ministério está fazendo levantamento sobre os prêmios pagos. Em avaliação preliminar, constatou-se que o mercado externo não tem pago prêmios que cubram todo o ganho de produtividade proporcionado pelo plantio de transgênicos.