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Mato Grosso enfrenta dificuldades para conter soja “ilegal”

Um dos caminhos para se dar cabo da ilegalidade é o cadastramento de propriedades rurais


O Governo federal e setor da soja renovaram nessa terça-feira (28), por mais um ano, a moratória que busca evitar a comercialização de produtos da oleaginosa cultivada em áreas ilegalmente desmatadas na Amazônia. Ou seja, a chamada “soja ilegal”. Mas, em Mato Grosso, há dificuldades. Um dos caminhos para se dar cabo da ilegalidade é o cadastramento de propriedades rurais. Tradicional líder em derrubadas de áreas, primeiro para a pecuária e depois explorada pela agricultura, atualmente menos de 10% das cerca de 120 mil propriedades rurais estão registradas - uma realidade é comum aos nove estados da Amazônia.

O acordo assinado nessa terça-feira, em Brasília, prevê maiores esforço e apoio oficiais para cadastramento de fazendas em municípios sojeiros e para definição de zoneamentos ecológico-econômicos, espécie de partilha do território com base no uso atual ou esperado da terra.

O último balanço das entidades envolvidas na moratória observou 630 áreas desmatadas após julho de 2006, com mais de cem hectares, em 46 municípios amazônicos. Foram identificadas apenas doze áreas recém desflorestadas com soja. Mas também foram registrados 8.030 pontos com pequenos desmates, inferiores a cem hectares. “E a degradação ainda se concentra no Arco do Desmatamento, principalmente no Mato Grosso, Pará e Rondônia”, disse

Em vigor há três anos, a moratória parece ter pouco impactado a cultura da oleaginosa no país. Conforme dados da Companhia Nacional de Abastecimento, os plantios no norte mato-grossense subiram de 6,2 milhões para 6,3 milhões de hectares entre 2007 e 2009, mantendo-se pouco abaixo da área cultivada na safra 2006/2007, de 6,7 milhões de hectares. Já as exportações somaram receita de US$ 11,3 bilhões em 2007 e de US$ 17,9 bilhões no ano passado.

Os números positivos, todavia, não escondem certas preocupações da indústria. Michel Santos, gerente de Marketing da Bunge, avalia que a moratória traz custos adicionais à cadeia produtiva. “Vistorias em campo, monitoramento, recursos humanos e garantir que a soja não venha de áreas desmatadas tem custo. Mas sem isso também poderíamos sofrer restrições de mercado com barreiras não-tarifárias”, disse.

Ele também comentou sobre a necessidade de uma certificação nacional para a produção de soja. Afinal, a moratória não vai durar para sempre. “Precisamos pensar em um sistema de certificação para além do acordo”, ressaltou o gerente. A Bunge produz soja majoritariamente no Cerrado.

A Amazônia responde por 15% da produção nacional de soja, com 1,6 milhão de hectares plantados. Os outros 21 milhões de hectares cultivados se concentram, nesta ordem, no Mato Grosso, Paraná, Rio Grande do Sul e Goiás. Só o primeiro produz anualmente 17 milhões de toneladas e, das 19,3 milhões de toneladas exportadas pelo Brasil nos últimos seis meses, 7,54 milhões saíram de Mato Grosso. “Isso representa um terço da produção nacional e 9% da mundial”, disse Carlo Lovatelli, presidente da Abiove.

Logo, 85% da produção nacional de soja ocupa muito mais áreas fora da Região Norte, ou seja, no Cerrado, Mata Atlântica, Pantanal e Pampa. A moratória da soja ainda não observa os braços do cultivo fora da Amazônia, mas o Greenpeace não descarta essa possibilidade. “A moratória ainda não vê o Cerrado, por exemplo, mas a experiência aponta para essa necessidade”, disse Tatiana Carvalho, da campanha amazônica da entidade.
Com “O Eco”

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