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Medidas para combater nuvem de gafanhotos são seguras, diz Sindag

O procedimento adequado é sempre prevenir a infestação de gafanhotos


Foto: Eliza Maliszewski

Desde o primeiro alerta sobre a nuvem de gafanhotos, muitas questões foram discutidas, entre elas qual seria o combate a ser feito - como e qual nível de segurança para a pupulação? O Portal Agrolink conversou com Thiago Magalhães Silva, presidente do Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (SIndag), para esclarecer as dúvidas sobre o combate a nuvem de gafanhotos.

Como a população pode se tranquilizar quanto às medidas para combater a nuvem de gafanhotos?

Thiago Magalhães Silva: O combate a gafanhotos é uma atividade extremamente técnica, utilizando alta tecnologia e seguindo protocolo elaborado a partir dos procedimentos adotados há décadas (e sempre atualizados) pela Agência das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e pelo Programa Nacional de Gafanhotos e Ticuras da Argentina (que existe desde 1891). Ou seja, há técnicas específicas e variedades de equipamentos, produtos e dosagens que são adequados a cada cenário de operação. 

Isso levando em conta fatores como local onde estão os gafanhotos (se é área de plantação e de que tipo de cultura, se há uma reserva natural etc.). Por isso também há uma gama de produtos previstos para esse tipo de controle, inclusive biológicos. Essa variedade é necessária justamente porque é preciso considerar as variantes de cada situação na hora de uma operação, em nome da eficiência operacional e da segurança ambiental.

Segundo o governo do Rio Grande do Sul, o plano de combate aos insetos pode contar até, caso necessário, com cerca de 400 aviões para aplicar o agrotóxico contra a nuvem. Porém especialistas afirmam que o uso de agrotóxico é extremamente inadequado para enfrentar os gafanhotos. Eles afirmam que a medida pode causar sérios danos às pessoas e ao meio ambiente. Como o Sindag vê esta questão? 

O Rio Grande do Sul tem a segunda maior frota aeroagrícola do País, com 426 aviões, segundo último levantamento feitos junto aos registros da Anac. O Sindag fez um cálculo estimado de que quase todos eles estariam operacionais, mesmo o Estado estando em época de entressafra – quando alguns operadores aproveitam para fazer a manutenção anual obrigatória das aeronaves. E, claro, em uma emergência todos os aparelhos poderiam ser utilizados.

Porém, por mais intensa que fosse uma praga de gafanhotos em nosso Estado, certamente não se precisaria lançar mão de uma força aérea dessa dimensão. O que fizemos no início da crise foi conversar com operadores aeroagrícolas da região de fronteira e deixarmos cerca de 70 aviões de sobreaviso. Agora, a pedido do governo do Estado, estamos fazendo uma separação de toda a frota por região, identificando com quais aviões se poderia contar em cada ponto. Para agilizar a resposta caso a nuvem passe pela fronteira e entre mais distante no Estado.

Especialistas que dizem que a aplicação de agrotóxicos não é o procedimento adequado e que a medida pode causar sérios danos às pessoas e ao meio ambiente, trata-se, na verdade, de um comentário raso e genérico, sem fundamento científico. O procedimento adequado é sempre prevenir a infestação de gafanhotos. Como ocorre todos os anos na região entre o sul da Bolívia, o Paraguai e o norte da Argentina. Afinal, não é à toa que nossos vizinhos hermanos têm um programa de controle de gafanhotos com 138 anos, que abrange monitoramento de área de ovos e o controle dos insetos antes da fase de conseguirem voar.

Mas uma nuvem no tamanho da que está próxima ao País e com um poder destrutivo que ela tem extrapola qualquer ação de fase mitigatória. E dizer que uma ação de combate pode causar danos às pessoas e ao meio ambiente também é uma ignorância, pois esse tipo de operação requer técnicas, produtos e equipamentos adequados, além de profissionais altamente capacitados. Por isso também que uma ação dessa magnitude tem que ser ação de Estado – a qual o Sindag não só apoiou desde o primeiro momento, mas procurou contribuir com subsídios para sua articulação e, desde o primeiro instante, colocou seus meios à disposição das autoridades. 

Por isso também se buscou protocolos da ONU e do governo argentino, o Ministério da Agricultura regulamentou o rol de produtos mais adequados para segurança em cada situação e o Estado começou a articular seus meios. Aliás, qualquer operação também ocorreria de acordo com a Portaria 208/20, publicada no último dia 29 de junho, pelo Ministério da Agricultura para fazer frente à atual emergência.

Trata-se, no caso de uma infestação em nosso Estado, de uma ação humanitária. Não só pelo risco de desabastecimento a partir de perdas de lavouras importantes para o Estado, mas também de perdas de alimentos e renda para pequenos produtores, e a médio prazo: uma pequena lavoura de cítricos atacada por gafanhotos poderia levar dois a três anos para voltar a produzir.

Atualização:

 nuvem de gafanhotos que desde junho circula pela área do território argentino próxima à fronteira do Rio Grande do Sul teria chegado nesta quarta-feira a 17 quilômetros da fronteira com o Uruguai. Segundo informações repassadas ontem ao Sindag pelas Confederações Rurais Argentinas (CRA), a nuvem foi localizada no interior do município de Federación, que fica na beira do Rio Uruguai, na divisa entre os dois países. 

A expectativa nesta quinta-feira é para ver se a nuvem decola novamente e se ela tomará o rumo do país vizinho. A previsão do tempo na região é de um dia um pouco mais ameno, com possibilidade de alguma instabilidade e com vento soprando na direção sudoeste. 

A mesmo tempo, o Serviço Nacional de Sanidade e Qualidade Agroalimentar da Argentina (Senasa) informou que a segunda nuvem de gafanhotos, no norte do país, deslocou-se nessa quarta da província de Formosa para o departamento de General Güemes, na província do Chaco. Os insetos haviam entrado na Argentina na terça feira (20), a partir do Paraguai. Segundo o Senasa, essa segunda nuvem teria cerca de 20 quilômetros quadrados e segue rumo sudeste. 

Ela está fazendo caminho parecido com o que, em maio, havia feito nuvem que hoje está na fronteira com o Uruguai.
 

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