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Menor oferta de boi e dólar afetam exportação de carne

Embarques para países emergentes recuam, e a Europa, consumidora de cortes nobres, ganha importância para as exportações brasileiras


A alta dos preços do boi gordo no Brasil e a valorização cambial afetam as exportações de carne bovina do país e alteram o perfil das vendas. Embarques para países emergentes, onde o preço é fator fundamental, recuam, e a Europa, consumidora de cortes nobres, ganha importância para as exportações brasileiras. A razão é que enquanto os emergentes buscam preços competitivos, os europeus tradicionalmente absorvem valores mais altos para a carne.

Entre janeiro e setembro deste ano, as exportações de carne bovina in natura estão em alta se comparadas a igual período de 2006. Mas as vendas externas perderam força nos últimos meses. Até setembro, os embarques totais do produto somaram 1,003 milhão de toneladas, alta de 12%. Em receita, as vendas cresceram 17% sobre os nove meses do ano passado, atingindo US$ 2,598 bilhões.

Os volumes de carne in natura exportados em setembro, porém, caíram em relação ao mesmo mês de 2006: de 106 mil toneladas para 98,5 mil toneladas (ver quadro). A receita recuou de US$ 294 milhões para US$ 291 milhões.

"Com a menor oferta de boi, a produção diminui e a exportação também é menor", afirma Fabiano Tito Rosa, da Scot Consultoria. Oferta menor significa preços mais altos. Em setembro, a tonelada da carne in natura teve preço médio de US$ 2.954, alta de 6,3% em relação ao mesmo mês de 2006.

Nesse momento, "o Brasil não é mais competitivo onde o fator preço é primordial", afirma Jerry O"Callaghan, da trading Globalbeef. Caso do Egito, que compra principalmente cortes de dianteiro. Entre junho e agosto, o país comprou US$ 105,897 milhões em carne congelada, 31% menos que em igual período de 2006, conforme dados da Secex compilados pela Globalbeef. A Argélia também comprou menos. Entre junho e agosto de 2006, comprou US$ 42,089 milhões. No mesmo intervalo, este ano, adquiriu 34% menos: US$ 27,737 milhões.

Para Pratini de Moraes, presidente da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec), a análise de um período pequeno não é representativa, já que pode ter havido atrasos em navios. Ele ainda não vê resistência à alta de preços nos países emergentes e lembra que no acumulado do ano a queda é menos expressiva.

Entre os emergentes, há exceções, como a Venezuela, para onde as vendas de carne congelada, ainda pequenas, continuam a crescer. Entre junho e agosto, o país comprou US$ 39,281 milhões, alta de 261% sobre igual período de 2006.

Para a Europa, o ritmo das vendas também foi afetado pelo boi mais caro, mas de forma menos acentuada. Entre junho e agosto, as vendas de carne resfriada sem osso para o bloco recuaram 6%, para US$ 156,132 milhões. O preço médio da carne exportada para a Europa nesse período subiu 7%, para US$ 7.442 por tonelada.

O"Callaghan explica que o efeito do câmbio é menor no caso da Europa, já que o euro também está se valorizando em relação ao dólar, o que acaba compensando as altas da carne em moeda americana. Tito Rosa diz que os exportadores vinham conseguindo repassar a valorização do câmbio para a carne. Mas desde que os preços do boi começaram a subir, no fim de 2006, o repasse ficou mais difícil. "Entre janeiro e julho, o carne subiu 6% em dólar na exportação, e o boi aumentou 30% em dólar", diz.

Segundo ele, as indústrias mantêm como referência um preço equivalente a US$ 22 para a arroba do boi. Mas isso deve mudar, diz. "Eles têm de aprender a trabalhar com uma arroba acima de US$ 30 no Brasil Central". Ontem, a arroba estava na casa dos US$ 33 em São Paulo. Pratini reconhece que deve demorar mais de um ano para a oferta de gado se recuperar devido ao abate de fêmeas nos últimos anos.

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