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Mercado do arroz sem perspectivas de reação no Sul

Mecanismos de comercialização emperram na burocracia do governo federal


Mecanismos de comercialização emperram na burocracia do governo federal, não alcançam seus objetivos e o mercado do arroz baixa de R$ 19,00 em algumas regiões

É crítica a situação do mercado do arroz no Sul do Brasil. Emperrados na burocracia governista e na falta de infra-estrutura de armazenagem e logística do País, mecanismos de comercialização como as Aquisições do Governo Federal (AGFs) que ainda engatinha, e contratos de opções públicos e privados – que não passaram do anúncio -, não fizeram nem cócegas no mercado e nas cotações. Até o momento, o Prêmio de Escoamento de Produto (PEP), com regras alteradas a cada leilão e resultado “rachado” entre indústria e produtor na maioria dos casos, equivale a uma aspirina de 15 em 15 dias para um paciente crônico. Nesta quinta-feira, novo leilão será realizado pela Conab.


Depois de cair 12,27% em março, o preço médio da saca de 50 quilos do arroz em casca no Rio Grande do Sul já perdeu mais 3,31% do valor em abril até esta quarta-feira (13/4), cotado a R$ 19,25 se colocado na indústria, segundo o Indicador Esalq/BVMF. Pela cotação do dia, em dólar, uma saca de arroz equivale a US$ 12,10. Com a valorização do Real e a queda de preços internos, além do reforço do PEP, o arroz brasileiro começa a ficar mais atraente no mercado internacional e as importações tendem a reduzir. No mercado livre gaúcho as cotações referenciais estão entre R$ 18,50 e R$ 19,50 na maioria das praças. Isso quer dizer que o produtor está recebendo, livre, entre R$ 17,70 e R$ 18,50. Só vende quem não tem outra alternativa. E a oferta é significativa.

Tanto que uma parte das indústrias já não tem mais como receber produto e a colheita gaúcha ainda tem mais de 20% da área para ser colhida. Algumas optaram por silos bag e o arrendamento de depósitos e pavilhões vazios na periferia das cidades. Além de um respeitável estoque remanescente, a safra de quase 9 milhões de toneladas no Rio Grande do Sul mostra a grave deficiência de estrutura do setor. A grande safra de soja amplia a competição por espaço e por caminhões, o que aumenta também o custo do frete e dos próprios armazéns e pavilhões disponíveis.

Santa Catarina

A concentração produtiva do Sul e dificuldades de escoamento, que geraram a queda de preços, também está afetando com seriedade as cotações em Santa Catarina. Apesar de algumas empresas, principalmente cooperativas, tentarem manter o pagamento entre R$ 20,00 e R$ 21,00, já existem indústrias no Sul catarinense indicando cotações na faixa de R$ 19,50 a R$ 20,00. Uma quebra de até 10% em alguns municípios, em razão do excesso de chuvas na floração, agravada pelo granizo na última semana, arrefeceu a queda. O fato de a indústria catarinense ser importadora de matéria-prima (principalmente do Litoral Norte gaúcho) mantém um maior equilíbrio de preços neste estado.

Mato Grosso

No Mato Grosso as cotações variam entre R$ 25,00 e R$ 26,00 para a saca de 60 quilos de arroz com 55% de inteiros (acima) e R$ 27,00 a R$ 28,00 para o produto com 58/59%. A predominância é da variedade AN Cambará, da AgroNorte, seguido por variedades da Embrapa, como Sertaneja e Primavera. A colheita entra nos 15% finais da área e a indústria se queixa da perda de mercados fora do Mato Grosso, principalmente no Maranhão, Pará e outros estados do Norte/Nordeste em razão dos baixos preços praticados pelo Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

A estratégia de comercialização dos produtores mato-grossenses não força muito a pressão de oferta. Há quem tenha optado por vender o arroz de melhor qualidade agora, temendo uma queda maior de preços ao longo do ano. Mas, boa parte dos arrozeiros prefere armazenar o arroz e dar prioridade à venda de soja e milho, que estão mais valorizados, para cobrir as despesas mais imediatas.

Safra

Os números divulgados na última semana no 7º Levantamento da Safra de Grãos da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), indica um recorde de produção, principalmente por causa do clima amplamente favorável à cultura no Rio Grande do Sul. Serão colhidos 13,46 milhões de toneladas de arroz, 15,4% a mais do que na temporada 2010/11. Só o Rio Grande do Sul deverá ampliar em 20,64% sua produção, alcançando 8,83 milhões de toneladas (65,3% da produção nacional).


A superfície semeada no Brasil foi ampliada em 2,84%, alcançando 2.843,2 mil hectares. A produtividade aumentará em 12,3%, passando de 4.218 quilos por hectare para 4.735 kg/ha. Pelo levantamento da Conab, há uma forte alteração no quadro de oferta e demanda, com os estoques de passagem saltando de 1,84 milhões de toneladas para 2,2 milhões de toneladas. Apesar dos fortes boatos de que esse volume poderia chegar a 2,5 milhões/t.

Internacional

A presença do Brasil no mercado internacional aumentou em março de 2011, graças ao PEP. Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Secex/MDIC), o Brasil exportou 118,7 mil toneladas de arroz em março, em base casca. Os países africanos continuam sendo os principais destinos do arroz brasileiro. O arroz parboilizado representou 64,5% das vendas externas, seguido dos quebrados com 25%, do branco 6,3% e do produto esbramado, com 6,2%.

Em março a balança comercial brasileira do arroz foi superavitária, pois as importações alcançaram 60,7 mil toneladas. Cerca de 63% da importação foi de arroz branco, sendo 24% de arroz cargo (integral e esbramado) e 11% de matéria-prima em casca. Quase a totalidade das importações procede do Mercosul, mas há registro da compra de produtos especiais da Europa e outras origens. A Conab estima, em seu quadro de oferta e demanda, que o Brasil exportará 600 mil toneladas em 2011/12. O setor, no entanto, aposta em pelo menos 800 mil toneladas, considerando a “arrancada inicial”, o reforço do PEP e os baixos preços praticados neste primeiro quadrimestre do ano safra.

Mercado

A Corretora Mercado, de Porto Alegre, indica preços médios de comercialização do arroz no Rio Grande do Sul em R$ 20,00 a saca de 50 quilos em casca (58x10), R$ 44,00 para a saca de 60 quilos do arroz beneficiado, sem ICMS/FOB. Entre os derivados, aponta preço estável de R$ 32,20 para o canjicão (60kg) e de R$ 220,00 (tonelada/FOB) para o farelo de arroz. A quirera apresenta leve queda, para R$ 24,50/FOB a saca (60kg).

O mercado do arroz tende a se manter em baixa, sem expectativa dos preços reagirem em curto prazo. Sem fatores de mercado que sustentem uma reação, só os mecanismos do governo podem amenizar os prejuízos. Ainda assim, o preço mínimo de garantia é cada vez mais um objetivo distante no Rio Grande do Sul.

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