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Mercado livre de arroz sente a pressão da safra gaúcha

Safras avançam e os preços ao produtor entram em queda mais forte


Expectativa de oferta e arroz a depósito – além das importações mantidas acima das exportações nos últimos seis meses – fazem os preços ao produtor caírem significativamente no RS. E levar junto os preços do restante do Brasil

Os preços referenciais ao produtor de arroz no Rio Grande do Sul caíram com força nos últimos 10 dias, na medida em que a colheita já supera o primeiro quarto de área colhida e prevendo superar os 65% até o final de março. A expectativa natural de alta da oferta do arroz colhido, já que boa parte dos produtores não têm armazéns suficientes para guardar o grão, e entrega de arroz a depósito nas cooperativas e indústrias, ajudam a pressionar os preços.

Ao mesmo tempo, a semana apresentou dois indicadores negativos. O primeiro é o de que há seis meses o Brasil vem exportando volume de arroz menor do que importa. O segundo é ainda mais grave: há sérios problemas com a logística no Porto de Rio Grande para a exportação de arroz, uma vez que os espaços estão sendo limpos para receber a ótima safra de soja – e também milho - que começa a ser colhida no Rio Grande do Sul. Nesta disputa o arroz perde feio.

O Indicador de Preços do Arroz em Casca Esalq/Bolsa Brasileira de Mercadorias-BM&FBovespa (Rio Grande do Sul, 58% de grãos inteiros) vem mantendo uma posição mais cautelosa e cotações significativamente acima do que apresenta o mercado livre. Nesta quinta-feira, 14 de março, indicou valor referencial de R$ 31,73 para a saca de 50kg de arroz em casca (58x10) entregue na indústria, com preços à vista), mas os produtores já não alcançam este patamar há duas semanas.

A média, mesmo nos polos industriais como Camaquã, Pelotas, Uruguaiana e Itaqui, não passa de R$ 31,25. Nas demais praças, exceto o Litoral Norte e São Borja, onde há uma cotação diferenciada para as variedades nobres, a média de preços (livre ao produtor) varia entre R$ 28,00 e R$ 29,00, com forte pressão baixista. A indústria se recolheu deixando de comprar, ciente de que o arroz a depósito vai encher boa parte de seus armazéns. O setor já trabalha com uma expectativa de “piso” na faixa de R$ 27,00 a R$ 28,00 no pico de colheita. A comercialização em torno de R$ 30,00 – referência atual de preços – ainda fica em torno de 20% acima da última safra.

Com base na sua fórmula de cálculo, o indicador dos preços de arroz do Cepea/Esalq indica uma desvalorização de 3,08% no grão nos primeiros 14 dias de março. No mercado livre, a perda é significativamente maior, em torno de 5%. Ainda segundo o indicador oficial contratado pelos principais órgãos setoriais do Rio Grande do Sul, em dólar o arroz brasileiro chegou à menor cotação do ano, US$ 16,05, conforme a referência cambial desta quinta-feira. Esta baixa mais significativa tem um fator positivo: há maior competitividade para o produto interno nas vendas externas, mas sem armazéns para estocar o arroz no porto, não há exportações significativas e os analistas já consideram que este será um ano em que devem prevalecer os embarques de quebrados de arroz.

SAFRA

As safras gaúcha e catarinense seguem avançando. Em Santa Catarina estima-se que 50% da lavoura está colhida, enquanto no Rio Grande do Sul, a Emater/RS indica 21% e relativo atraso em relação à temporada passada, quando na mesma época 26% das lavouras estavam colhidas. Os produtores reclamam dos danos causados tanto pela doença brusone quanto pelo frio em momentos críticos da cultura, como a floração.

O frio persiste e dá às lavouras uma coloração alaranjada, além de gerar leve atraso no processo de maturação. A grande oscilação entre as temperaturas diurnas e noturnas no Rio Grande do Sul também está provocando significativas perdas pela “trinca do grão”, ou seja, os grãos quebram ainda no cacho, o que pode comprometer a qualidade geral da safra. Na última semana o Banco do Brasil viu aumentar a demanda por Empréstimos do Governo Federal (EGFs) e pré-comercialização.

SETORIAL

Nesta semana, a Federarroz divulgou duas notas preocupantes. Em primeiro lugar, uma Carta Aberta em Apoio ao Ministro Mendes Ribeiro Filho, da Agricultura, cuja sustentação partidária parece enfraquecer no governo federal. Comenta-se, em Brasília – DF, que o ministro pode ser substituído em uma reforma ministerial a ser promovida pela presidente Dilma Rousseff, que é candidata à reeleição. Ao mesmo tempo, o ministro encontra-se em tratamento de saúde que vem exigindo um grande esforço para manter-se à frente do MAPA. Mas, seu trabalho é reconhecido como fundamental para o setor arrozeiro. A Federarroz encaminhou carta à presidente da República solicitando a permanência do ministro e consolidando seu apoio à Mendes Ribeiro Filho.

Outro fator preocupante, com impacto direto no volume de comercialização no pós-safra, foi o anúncio de que os bancos privados, entre eles o Banrisul e o Sicredi, não estão aceitando a renegociação das dívidas dos arrozeiros, conforme a proposta apresentada pelo governo federal no ano passado. Apenas o Banco do Brasil está realizando as renegociações. O tema foi alvo de denúncia da Federarroz ao MAPA na última segunda-feira. Estima-se que entre 35% e 40% dos produtores endividados sejam clientes dos nove bancos privados que constam na relação da Federarroz, entre eles, alguns bancos de fábrica.

MERCADO

A Corretora Mercado, de Porto Alegre, manteve esta semana os indicativos de preços médios, o que deve exigir correção – para baixo – nos próximos dias: R$ 32,00 para a saca de arroz de 50 quilos (58x10), em casca, no Rio Grande do Sul, e, para o grão beneficiado, em sacas de 60 quilos, a referência é de R$ 67,00 (FOB/RS). O canjicão se mantém cotado a R$ 36,50 (60kg/FOB) e, também em sacas de 60 quilos (FOB) a quirera de arroz a R$ 34,00. O farelo de arroz (FOB/Arroio do Meio) manteve-se em R$ 370,00 a tonelada.

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