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Mercosul condiciona a Alca à abertura dos negócios agrícolas


Brasil e Argentina não aceitarão fechar acordo nas negociações da Alca (Área de Livre Comércio das Américas) e na OMC (Organização Mundial do Comércio) sem obter antes uma abertura comercial clara, ainda que paulatina, por parte de EUA e União Européia, para os produtos agropecuários da região. Foi o que afirmou ontem em Buenos Aires o ministro brasileiro da Agricultura, Roberto Rodrigues, após reunir-se com o ministro argentino da Produção, Aníbal Fernandez. Ambos definiram ainda a criação de um "conselho agrícola do Cone Sul", que inclui todos os países do chamado Mercosul "expandido", Uruguai, Paraguai, Chile e Bolívia. "O objetivo é harmonizar posições e o discurso da região nas negociações que vão ocorrer nos próximos meses."

O ministro brasileiro foi duro ao criticar recentes manifestações dos representantes da UE, que rechaçaram incondicionalmente uma proposta feita pelo vice-presidente da OMC, Stuart Harbinson, de saída consensual para as pendências agrícolas. "Há um nítido endurecimento da Europa contra a abertura para nossos produtos. E os EUA já expressaram que não discutem derrubada de barreiras agrícolas para a Alca antes que o problema se resolva na OMC. Por isso, na medida em que o Mercosul tem firme a posição de não negociar na Alca sem a clara abertura por parte dos países protecionistas, vejo perspectivas sombrias de avanços em ambas as negociações, na própria Alca como na OMC", previu, alfinetando o comportamento norte-americano: "Os EUA têm sempre um discurso liberal e uma atitude protecionista".

Para Rodrigues, as divergências neste momento são gigantescas, a ponto de ele temer pelo fracasso da próxima rodada para a discussão do comércio mundial, marcada para setembro em Cancún, México. "Temo que Cancún possa tornar-se uma Seatle II, que não definiu nada, porque os países chegaram para uma discussão sem nenhum acordo prévio", expressou-se, em referência à reunião de 2000 nos EUA.

Na reunião entre Rodrigues e Fernandez, definiu-se também a criação de uma trading para exportar produtos do Mercosul a grandes mercados. "É uma idéia dos governos, mas não para uma estatal. Será uma trading privada que competirá com os grandes grupos que hoje atuam neste segmento, oferecendo produtos da região, não mais do Brasil ou da Argentina", resumiu, dizendo-se disposto a usar como entre outros trunfos de negociação a superprodução de soja de ambos países, este ano de 84 milhões de toneladas, 40% do total mundial.

Açúcar em debate

Entre as pendências comerciais específicas de Brasil e Argentina, o açúcar foi o tema principal. Trata-se do único produto que nunca foi incluído entre os itens de livre-comércio do Mercosul, para o qual a Argentina impõe preços mínimos proibitivos para a exportação brasileira. Segundo Rodrigues, porém, o governo não vai ignorar o problema social que a abertura pura e simples provocaria ao sócio. Províncias pobres do Norte argentino, como Jujuy, Salta e Tucumán, têm boa parte de sua economia fundada na produção de açúcar para consumo interno e alegam que sucumbiriam à concorrência brasileira.

"Podemos analisar alternativas como a de que eles produzam álcool para que o Brasil compre e possamos vender açúcar aqui. O que não se pode permitir é que esse tipo de pendência vá erodindo o Mercosul e enfraqueça o bloco nas discussões externas". O Brasil, diz, está prestes a entrar com "painel" contra barreiras européias ao açúcar brasileiro. "Se temos problemas no Mercosul, isso nos fragiliza numa processo contra a Europa." Ele não descartou a hipótese de o País entrar na OMC caso não obtenha a requerida abertura pela Argentina. Dez dias atrás, o Brasil obteve em Genebra vitória em processo similar contra o sócio por barreiras ao frango.

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