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MERCOSUL é madrasta dos produtores de arroz do Brasil

Representante da CNA diz que a produção nacional é afetada pelo livre comércio


Os problemas de comercialização da cadeia produtiva do arroz foram discutidos nesta sexta-feira na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado

A cadeia produtiva do arroz está doente e os principais sintomas da enfermidade são o MERCOSUL e a alta tributação. O diagnóstico foi feito pelo presidente da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Arroz e representante da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Francisco Lineu Shardong, no debate que discutiu os problemas de comercialização do arroz e do trigo no Brasil, nesta sexta-feira (03-06), na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) do Senado Federal. No encontro, o representante da CNA afirmou que a produção nacional de arroz é afetada pelo livre comércio entre os países do MERCOSUL e chamou o bloco comercial de “madrasta” dos produtores de arroz do Brasil.


De acordo com Shardong, não é só o arroz que sofre com a concorrência desigual da Argentina, Uruguai e Paraguai. Produtos da região sul do País, como trigo, vinho e leite, estariam sendo usados como moeda de troca do Governo brasileiro para favorecer a exportação dos produtos nacionais industrializados. A balança comercial desses produtos com os países do MERCOSUL é superavitária em quase 45%. “Isso nos leva a crer que o arroz, o trigo, o leite e o vinho são os que mantêm esse comércio de livre exportação do MERCOSUL”, afirmou Shardong.

O levantamento do representante da CNA demonstrou que o custo de produção de arroz no Rio Grande do Sul é de US$ 2,2 mil por hectare. No Uruguai, a mesma área plantada, com os mesmo insumos, custa em torno de US$ 1,450 mil. O Paraguai consegue produzir a um custo 19% menor e a Argentina, 27% mais barato. A diferença, explicou, está na tributação dos insumos que os produtores brasileiros são obrigados a usar na lavoura. Tratores e máquinas agrícolas, por exemplo, produzidos no Brasil e exportados para os países do MERCOSUL, custam mais caro no mercado interno porque sofrem incidência de impostos. Outros produtos, como adubo e agrotóxico, também ajudam a empurrar para cima os custos de produção no Brasil por causa da alta carga tributária: 24,88%.

Por esses e outros fatores, o arroz dos países vizinhos chega ao mercado interno a um preço mais acessível. Sem outra saída, o produtor brasileiro acaba tendo tem que exportar o arroz para outras regiões do planeta, mas, ainda assim, encontra a concorrência do arroz produzido pelos Estados Unidos, Tailândia e Vietnã a um custo bem mais baixo. Segundo Shardong, para os rizicultores brasileiros terem chance de competir num mercado mundial que, a exceção da Ásia, consome 21 milhões de toneladas, o produtor nacional precisa reduzir em até 32% seus custos de produção. “A meta é atingir o preço de US$ 1,5 mil por hectare de arroz”, explicou o representante da CNA.


O último boletim “Custos e Preços” da CNA apontou o excedente de oferta no mercado interno e as importações de países do Mercosul como responsáveis pela queda de 33,8% nos preços do arroz na região Sul do País, em maio deste ano, em comparação ao mesmo período de 2010. Atingidos por esse quadro de dificuldades, os produtores de arroz do Rio Grande do Sul protestaram em Uruguaiana, fechando a ponte que liga o Brasil à Argentina e exigindo a suspensão das importações do produto do país vizinho. A CNA pediu aos ministros da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e das Relações Exteriores o fim da licença automática de importação de arroz do Mercosul, a exemplo do que já foi obtido para o leite.

Além do representante da CNA, participaram do debate o Diretor da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), José Maria dos Anjos, o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul (FETAG), Elton Weber, e o Gerente Técnico e Econômico do Sistema Cooperativista do Paraná (OCEPAR), Flávio Enir Turra, sob a presidência da senadora Ana Amélia Lemos (PP-RS).

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