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Milho: Estamos aproveitando as oportunidades?

O que é interessante agora é saber em que países as importações são relevantes


Por *João Carlos Garcia e Jason de Oliveira Duarte

Situação Mundial

A situação pouco mudou nos mercados mundiais, durante o último mês. Os preços do milho se firmaram nos patamares mais elevados para os quais se dirigiram a partir do início do mês de julho de 2010. Até essa época, os preços do milho na Bolsa de Chicago haviam se mantido ao redor de US$ 3,50 por bushel, que já eram superiores aos preços verificados no período pré-euforia de 2008. Os preços recentes ultrapassaram a faixa dos US$ 4,00 e se situam acima dos US$ 5,00 por bushel a partir do início de outubro (esse preço equivale a cerca de US$ 196,00 por tonelada de milho).

Os motivos desta situação estão na manutenção dos fatos que deram início a esta escalada. O USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) reviu, mais uma vez para baixo, a produtividade esperada para as lavouras de milho na presente safra, reduzindo mais ainda a previsão dos estoques de passagem ao fim do ano agrícola de 2010/11. Para isto contribuiu também o aumento do uso de milho para produção de etanol nos EUA, que alcançou 122 milhões de toneladas no presente ano agrícola. Em resumo, enquanto a projeção da quantidade produzida estava caindo, a previsão de uso de milho para etanol aumentou em 17 bilhões de toneladas.

Na Europa a importação de milho foi redirecionada para outros países, que substituíram os países da antiga União Soviética como fornecedores, em decorrência da imposição de restrições às exportações de milho pela Rússia e pela Ucrânia. Além da Europa, cada vez mais se firma a possibilidade de a China aumentar o seu papel importador de milho. Nos primeiros nove meses do ano, esse país importou cerca de 1,2 milhão de toneladas dos EUA, a maior quantidade verificada nos últimos 15 anos, sendo que desde 2006/07 não se verificam exportações significativas de milho pela China. Com relação a esse país, verifica-se um crescimento das pressões inflacionárias, principalmente nos alimentos, e a receita clássica para controlar os preços em um segmento que afeta fortemente a população mais pobre é aumentar as importações.

Como as exportações de milho estão estacionadas nos EUA e na Argentina, a disputa entre os agricultores e o governo, por conta das restrições às exportações que são liberadas a conta-gotas, sobrou para o Brasil a possibilidade de aumentar as exportações de milho. Era tudo que nós precisávamos.

O que é interessante agora é saber em que países as importações de milho são relevantes e se estão crescendo a taxas consideráveis.

Dois tipos de situação seriam de interesse para análise neste aspecto. As regiões com grande volume de importação de milho e as regiões onde as importações estão crescendo a taxas mais elevadas e que importem quantidades relevantes de milho. Segundo dados coletados pela FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) referentes ao período de 1999 a 2008, as regiões que se enquadram na primeira situação são o Norte da África (países situados acima do Saara) e o Leste da Ásia (Japão, Coreia do Sul etc.). Na segunda situação está a América Central (México, principalmente), a América do Sul (Venezuela, Colômbia e outros), o Sul (Irã, Índia etc.) e o Sudeste (Indonésia, Vietnã etc.) da Ásia, a Ásia Ocidental (que conhecemos como Oriente Médio), o Sul da Europa (Itália, Portugal, Espanha etc.) e a Europa Ocidental (França, Alemanha, etc.).

O que acontece nesta classificação é que as regiões que importam grandes quantidades de milho (Norte da África e Leste da Ásia) estão com as importações praticamente estagnadas. Nesta situação, é provável que esses países tenham fornecedores tradicionais e a conquista deste mercado somente ocorrerá pelo deslocamento destes fornecedores, o que geralmente é algo mais difícil de realizar.

Com relação às regiões que apresentam maior taxa de crescimento (e importam quantidades relevantes), a ocupação do mercado pode ser facilitada pelo próprio crescimento do mercado, visto que existem poucas alternativas de países exportadores de milho (basicamente os EUA, a Argentina, o Brasil e os países da antiga União Soviética). Neste caso, fatores como localização, disponibilidade de milho em quantidades razoáveis e confiabilidade como fonte de abastecimento constante podem desempenhar papel relevante na competição por estes mercados. Nesta situação, os Estados Unidos têm uma vantagem natural com relação à América Central, e a Rússia e a Ucrânia com relação à Europa (como já se configurava nos últimos dois anos).

No caso do Brasil, que gradativamente se firma como fornecedor confiável no mercado mundial de milho, uma análise dos principais compradores pode indicar os mercados onde temos conseguido alguma vantagem. A partir de informações do sistema Aliceweb (http://aliceweb.desenvolvimento.gov.br), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, é possível verificar os principais destinos do milho exportado pelo Brasil.

O principal comprador (nos primeiros dez meses de 2010) de nosso milho é o Irã, que é o único país com importações consideráveis na região do Sul da Ásia. Talvez em decorrência de problemas políticos com os Estados Unidos e com a Argentina, em alguns anos até cerca da metade do milho importado por este país teve origem no Brasil.

O segundo maior comprador é Taiwan, que tem comprado ao redor de 700 mil toneladas nos últimos dois anos e que, junto com a Coreia do Sul (já foi um grande comprador, mas nos últimos anos tem demonstrado um comportamento um tanto errático) e o Japão (com compras crescentes nos últimos dois anos), são os principais importadores da região do Leste da Ásia.

O terceiro maior comprador é a Espanha (já foi um grande importador, reduziu muito em 2009 e voltou a comprar em 2010) que, junto com Portugal (idem idem), estão na região do Sul da Europa. Aparentemente os nossos principais concorrentes nesta região são a Rússia e Ucrânia, que recebem tratamento diferenciado dentro da Comunidade Europeia.

O Marrocos é o quarto maior importador do milho do Brasil. Está na região Norte da África (grande importadora, porém com pequeno crescimento) e suas compras do Brasil cresceram nos últimos três anos (outro país da região que também importa uma quantidade relevante do Brasil é a Tunísia). Entretanto, os maiores importadores regionais, o Egito e a Argélia, não importam milho do Brasil, o que demonstra a importância de fornecedores tradicionais em uma região com pouco crescimento da quantidade demandada.

Após o Marrocos temos a Malásia, que é a maior importadora da região Sudeste da Ásia. Mais uma vez as exportações brasileiras de milho para outros países (Indonésia e Malásia) desta região cresceram nos últimos três anos.

Para finalizar, exportamos milho também para a América do Sul (Colômbia e Venezuela) e para o Oriente Médio (Arábia Saudita e Emirados Árabes).

Como se pode verificar, o crescimento das exportações de milho pelo Brasil tem se verificado na direção da diversificação de compradores e já busca atender às demandas originadas nas principais regiões importadoras. Em anos anteriores, as exportações brasileiras estavam concentradas em um número reduzido de países (no período entre 2004 e 2007 normalmente dois países eram responsáveis pela importação de mais do que 50% das exportações a cada ano de milho do Brasil). Como o número de países com potencial de exportação é relativamente reduzido (além do fato de que as exportações dos Estados Unidos têm se mantido estáveis nos últimos dez anos), essa maior diversidade pode favorecer a ampliação de número de mercados para o milho brasileiro e consolidar o país como exportador relevante no mercado mundial dessa commodity.
 
*Pesquisadores da área de economia agrícola da Embrapa Milho e Sorgo

As informações são do Boletim Informativo do Centro de Inteligência do Milho - Ano 3, Edição 36, novembro de 2010.

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