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Milho: Nuvens de mudança

Confira avaliação sobre situação mundial e interna da cultura


Por *Rubens Augusto de Miranda e João Carlos Garcia

Situação Mundial
 
Um político mineiro, Magalhães Pinto, dizia que “política é como nuvem. Você olha e ela está de um jeito. Olha de novo e ela já mudou”. Esta frase retrata muito bem o que aconteceu na semana passada no mercado de milho. O que seria a maior safra de milho colhida nos Estados Unidos sofreu uma das maiores secas verificadas naquele país. De uma só tacada, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) reduziu a previsão da safra de milho em 46 milhões de toneladas. O conforto esperado, refletido em uma possível recuperação significativa dos estoques de passagem no fim do ano agrícola 2012/13, está gradativamente reduzindo e se transformando em uma grande decepção. Dos atuais 23 milhões de toneladas de estoques, esperava-se alcançar 48 milhões de toneladas ao final da safra; mas a queda na expectativa de produção já rebaixou essa previsão para 30 milhões de toneladas. Os preços do cereal na Bolsa de Chicago subiram, em poucos dias, mais de US$ 1,50 por bushel, atingindo o nível de US$ 7,50 por bushel (cerca de US$ 295,00 por tonelada). Embora a estimativa apresentada pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos não seja baseada em levantamentos de campo, ela converge para uma série de alertas que vinham sendo registrados entre o final de junho e o início de julho.
 
O estrago não é pior devido ao fato de que a área plantada foi a maior dos últimos anos. O rendimento esperado, por sua vez, é o menor dos últimos anos. Como resultado, na ausência da esperada recuperação dos estoques de passagem, fica mais para frente também a expectativa de tempos mais calmos, em que flutuações dos preços não sejam amplificadas de forma mais que proporcional por alterações na produção agrícola.
 
Ainda é muito cedo para se especular com os números do estoque de passagem, pois os outros componentes do consumo ainda são muito indefinidos nesta altura do ano. O aumento nos preços eleva a possibilidade de uso de alternativas para alimentação animal, reduzindo a pressão. Com os preços em alta e com a dificuldade dos Estados Unidos em retomar o seu antigo market share no mercado internacional de milho, tornam-se mais viáveis também exportações de outros países, como Brasil e Ucrânia (este ainda dependente do desenrolar das condições climáticas da safra em curso). O mesmo ocorre com relação à quantidade demandada para produção de etanol. Com preços em alta, já começam a surgir notícias de fechamento, nos Estados Unidos, de usinas de produção de etanol a partir do milho. Desde o ano agrícola 2010/11, a quantidade de milho destinada a esta finalidade está estagnada ao redor de 127 milhões de toneladas por ano (a previsão para este ano do USDA é de 124 milhões de toneladas).
 
Ainda não estão disponíveis informações confiáveis sobre o desenrolar da safra de milho em outros países do Hemisfério Norte e a situação verdadeira somente ficará mais clara a partir do próximo mês. O resultado desta situação se mostra muito favorável para o Brasil, que está colhendo a maior safra de milho de sua história e necessita muito de uma demanda externa forte para evitar uma redução drástica nos preços, que desestimulariam o plantio no próximo verão.

Situação Interna
 
As mesmas condições climáticas que comprometeram a produção na Argentina na safra de verão 2011/12 afetaram o Sul do Brasil, até então a maior região produtora de milho do país. Os estados mais afetados foram Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Embora no Paraná também tenha se verificado uma redução da produtividade agrícola em relação à safra de verão de 2010/11, isto foi mais do que compensado pelo crescimento da área plantada. No final das contas, a região Sul apresentou uma redução de cerca de 1,3 milhão de toneladas de milho, o que poderia produzir alguns danos no mercado interno, tendo em vista a concentração da demanda por milho nesta região.
 
A excelente segunda safra de milho (a antiga safrinha) mais do que compensou estas perdas. As condições climáticas, turbinadas por um crescimento da área plantada (em resposta às perspectivas de bons preços, decorrentes dos problemas na safra de verão na região Sul), resultaram em uma produção de milho semelhante à do verão (segundo o décimo levantamento da Conab). Melhor ainda foi que o crescimento da produção na segunda safra de milho no Paraná indicou que o abastecimento de milho na região Sul estava garantido no segundo semestre. Como estava tudo bem, os preços do milho começaram a cair, indicando um mau prognóstico para a safra de verão, tendo em vista o crescimento dos preços da soja (aliás, como poucas vezes, o milho deixou de ser o vilão da criação de aves e suínos, passando este papel para o farelo de soja).
 
Se no Sul as coisas estavam se equilibrando (e esta é uma das vantagens pouco consideradas da safrinha - a possibilidade de recuperação de possíveis déficits da safra de verão), no Mato Grosso a colheita da safrinha somente indicava uma série de problemas. Os preços começaram a despencar e, mesmo onde as condições não foram tão favoráveis, como em Goiás, os preços já se situavam abaixo dos R$ 20,00 por saca de milho e no Mato Grosso já se aproximam de R$ 15,00 por saco.
 
As novas condições que se verificam no exterior mudaram este quadro e os preços no Mato Grosso já atingiram novamente o patamar dos R$ 18,00 por saco, em plena colheita, indicando que a necessidade de ações governamentais será menor do que caso essas condições não tivessem ocorrido. Além disso, grande parte do milho a ser colhido já estava comercializada previamente, o que deu um destino seguro para esta parcela da produção.
 
Intervenções governamentais serão necessárias no que diz respeito ao abastecimento de milho na região Nordeste. A região está sendo assolada por uma forte seca, que afetou drasticamente as lavouras de milho. As estimativas mais recentes da Conab indicam uma produção de 3,9 milhões de toneladas na região, com perda de quase 2 milhões de toneladas em relação à safra do ano passado. Como as atividades de criação de aves são muito importantes para o abastecimento regional, todo este milho (e mais o que normalmente era importado) terá que vir de outras regiões.
 
Embora esta tenha sido a solução costumeira, são necessárias ações no sentido de garantir o abastecimento regional de milho no Nordeste. O desenvolvimento da produção comercial de milho nos cerrados do Piauí e do Maranhão (que, junto com o Tocantins, formam a chamada região do Mapito) pode sinalizar um caminho, assim como a produção de milho com o uso de tecnologias avançadas em regiões com clima favoráveis, como se verifica nos últimos anos no Sergipe (quase metade da semente vendida neste estado já é transgênica e mais de 90% das sementes vendidas já são de híbridos triplos ou simples).Em resumo, o novo formato do mercado do milho no Brasil para a safra de verão, neste novo olhar, é muito diferente das perspectivas do olhar anterior, algumas semanas atrás, o que reforça as condições de competição do milho frente à soja no que diz respeito à competição pela área de plantio no verão.
 
*Pesquisadores da área de economia agrícola da Embrapa Milho e Sorgo
Informações do Boletim Informativo do Centro de Inteligência do Milho - Ano 5 - Edição 50 - Julho de 2012.

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