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Milho lidera perdas no mercado internacional em julho

O comportamento do mercado de milho em Chicago refletiu as últimas previsões


As cotações do milho confirmaram as expectativas e registraram queda considerável em julho no mercado internacional. Conforme cálculos do Valor Data baseados nos contratos futuros de segunda posição de entrega (normalmente os de maior liquidez) das oito principais commodities agrícolas negociadas nas bolsas de Chicago e Nova York, a retração em relação à média de junho alcançou 13,07%, a maior variação negativa em um mês em que, do universo pesquisado, apenas suco de laranja e café também caíram.

Segundo Leonardo Sologuren, analista da Céleres, o comportamento do mercado de milho em Chicago refletiu as últimas previsões do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) para área plantada e produção no país nesta safra 2007/08, que está em desenvolvimento. Essas estimativas mais recentes, que sinalizaram uma colheita de 326,15 milhões de toneladas na temporada, 21,9% mais que em 2006/07, superaram as projeções dos especialistas e passaram a exercer pressão sobre as cotações, em parte também porque a demanda americana pelo grão para fabricação de etanol ainda não deslanchou.

Como boa parte do avanço do milho nos EUA se dá sobre áreas antes dedicadas à soja, para esta commodity o fato de as previsões do USDA terem causado surpresa entrou na equação dos preços como um fator altista. O USDA passou a considerar que a produção americana de soja chegará a 71,44 milhões de toneladas em 2007/08, 17,7% menos que no ciclo anterior, e o grão encerrou julho em Chicago com cotação média 3,44% superior a de junho. "Também foi um mês cercado pelo biodiesel. Tanto que, ainda que a média de julho tenha sido maior que a de junho, ao longo do mês de julho os preços do grão e do farelo caíram e os do óleo subiram", observou Renato Sayeg, da Tetras Corretora.

Como tradicionalmente em julho as atenções do mercado se voltam para a safra dos EUA, o clima nas regiões produtoras do Meio-Oeste do país foi fator constante de influência para a direção dos mercados de milho e soja. As oscilações e o nervosismo dos traders aumentaram no mês, mas de um modo geral, pelo menos até agora, não há influência climática relevante para o futuro das safras. De qualquer forma, alertam os analistas, o chamado "weather market" dará o tom em Chicago por pelo menos mais duas ou três semanas.

Dependendo da envergadura dos deslocamentos dos investidores nos mercados de milho e soja, o trigo também vai a reboque em Chicago, mas no momento os fundamentos para o cereal - quadro global de oferta e demanda apertado e forte demanda pelo produto americano - têm mais força e julho foi de valorização. Conforme o Valor Data, a cotação média de julho foi 6,65% maior que a de junho. "A expectativa é de preços melhores em 2007/08 do que em 2006/07, por causa da previsão de queda nos estoques mundiais. O consumo está mais aquecido nos EUA e na Europa", observou Élcio Bento, da Safras&Mercado. Nos EUA, aumentou a demanda para a fabricação de ração por conta do maior (ainda que abaixo das expectativas) uso de milho para etanol; na Europa, foi a produção do combustível a partir do cereal que cresceu.

Outro fortemente influenciado pelos rumos do milho nos EUA em julho foi o algodão, que perdeu ainda mais área para o grão em 2007/08, de acordo com as últimas estimativas do USDA, e registrou alta de 12,55% na bolsa de Nova York em julho. "Até meados de maio, os preços estavam baixos em relação aos fundamentos [relação mais apertada entre oferta e demanda nos EUA e no mundo em 2007/08]. Mas as cotações romperam resistências e subiram tanto que depois houve uma correção. Agora, o mercado busca uma banda de equilíbrio, que deve ficar entre 62 e 65 centavos de dólar por libra-peso", afirmou Miguel Biegai, também da Safras&Mercado.

Biegai destaca, contudo, um temor que também aflige quem opera com outras commodities agrícolas nas bolsas internacionais: a atual forte influência de fundos de investimentos sem tradição nesses mercados sobre as cotações. "No caso do algodão, Nova York já tem 48 mil contratos líquidos comprados. Se o petróleo voltar ao patamar de US$ 65 [hoje o barril está perto de US$ 80 no exterior], os fundos podem sair e tirar parte da sustentação dos preços", afirmou ele.

O açúcar também subiu consideravelmente em julho em Nova York - 11,06% em relação à média de junho, de acordo com o Valor Data -, depois de meses em queda. Julio Maria Martins Borges, da Job Economia e Planejamento, credita toda a reversão ao Brasil, que está com sua safra, que será mais "alcooleira" do que o normal, atrasada. "A produção brasileira de açúcar deverá ficar no mesmo patamar verificado no ciclo anterior". Para ele, o mercado tem um viés de alta "não expressiva", até porque a Índia vem com produção recorde e projeta novos avanços.

Nos casos de café, cacau e suco de laranja, que completam a lista de commodities agrícolas transacionadas em Nova York, não houve mudanças nos fundamentos em julho. No caso do café, que recuou 2,26%, Eduardo Carvalhaes, do Escritório Carvalhaes, realçou a influência brasileira; no do cacau, que subiu 7,3%, Thomas Hartmann, da TH Consultoria, destacou a influência dos especuladores e a oferta disponível escassa em países produtores da África; e no do suco, que registrou desvalorização de 4,08% pelo critério de preços médios, continuou em curso um ajuste que parece ter encontrado o piso, de acordo com fontes da indústria de suco consultadas.

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