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Milho será destaque do mercado no próximo ano

A alta das cotações internacionais estimularam a contratação das exportações


Com forte demanda externa, expectativa é de a cultura deixar de ser alternativa à soja. O milho poderá deixar de ser o patinho feio a partir do ano que vem e, pela primeira vez o Brasil se transformar em fornecedor mundial do produto. A alta das cotações internacionais estimularam a contratação das exportações para 2007.

Até o momento, segundo levantamento da Safras & Mercado, 1 milhão de toneladas estão asseguradas para o mercado externo. Nesta mesma época de 2005 eram cerca de 300 mil toneladas. Estimativas da Cogo Consultoria Agroeconômica apontam para que entre 5 e 6 milhões de toneladas do grãos sejam comercializadas com o exterior, a maior quantia desde a safra 2000/01. Neste ano foram 4 milhões de toneladas - estimulados por um subsídio dado pelo governo.

De acordo com o analista Paulo Molinari, da Safras & Mercado, a concorrência de preço entre o mercado interno e o externo é que deverá determinar o volume a ser comercializado com o exterior. A incógnita do setor é quanto o Brasil poderá ocupar do espaço deixado pelos Estados Unidos, que vai destinar 25% de sua safra para a produção de etanol. "Pela primeira vez o mundo pode contar com o Brasil para resolver problemas de abastecimento", diz Carlos Cogo, da Cogo Consultoria Agroeconômica.

Desde o início do ano, no mercado internacional, o grão valorizou-se 80%, passando de US$ 84 a tonelada em janeiro para US$ 152 a tonelada este mês, na Bolsa de Chicago (CBOT). O efeito, no entanto, só ocorreu no segundo semestre devido ao aumento da demanda nos Estados Unidos. Com isso, a relação de estoque e consumo mundial será a menor dos últimos 10 anos, chegando a 12,4%. "Isso é perigoso. Uma quebra de safra mundial pode jogar os preços ainda mais para cima", diz Cogo. De acordo com ele, no segundo semestre do ano que vem, com a colheita estadunidense, as cotações podem se arrefecer, mas as estimativa dos analistas é que, ainda assim, continuem em patamares superiores à média de 2006.

"O ano que começou muito mal, termina bem", diz Cogo. No mercado interno, entre janeiro e dezembro o aumento é superior a 50%, passando de R$ 13 para 19,70 a saca no Paraná. A expectativa dos analistas é que as cotações no mercado interno se mantenham firmes no próximo ano, em patamares superiores aos registrados na colheita de 2006. Segundo Molinari, o ano que vem tende a ser muito especulativo em termos de preços. "A nova demanda do mercado externo pode trazer um aumento da liquidez do milho. Essa é a perspectiva para 2007", diz Fábio Turquino Barros, consultor da AgraFNP.

Os preços mais altos dos grãos poderão impactar negativamente as indústrias de aves e suínos. Para Molinari, as empresas terão de pagar mais para garantir o abastecimento. No entanto, dentro do governo a questão já está sendo avaliada e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento poderá intervir no mercado. Atualmente estão em poder do Estado cerca de 3,3 milhões de toneladas do grão - o equivalente a um mês de consumo - que poderiam ser ofertadas em caso de preços muito altos, para amenizar os prejuízos das indústrias, que prometem repassar os custos ao consumidor.

Tradicionalmente, os produtores plantam milho quando o produto tem um preço mais favorável que o da soja. No entanto, alguns analistas acreditam que essa condição mude a partir da safra de verão de 2007. "O produtor vai ter uma nova opção e talvez comece a ocorrer investimentos em logística e armazenagem para o milho", avalia Barros.

Em boa parte do ano os preços do milho estiveram deprimidos, ocorrendo intervenção do governo. A má remuneração desestimulou o plantio do grão, que teve redução de área de 1,5%, segundo o último levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Com a alta do preço a partir de outubro, as especulações se voltam para a safrinha, cujo plantio inicia em fevereiro. Alguns analistas acreditam que o País poderá produzir até 13 milhões de toneladas ante às 9,5 milhões de toneladas da colheita anterior. "O potencial é limitado pelas questões climáticas, que deixam a cultura muito vulnerável", diz Barros.

Se as exportações forem recordes ou a segunda colheita não for suficiente, pode faltar milho no mercado interno no ano que vem, na avaliação dos analistas. E, neste caso, segundo Cogo, o Brasil poderia ter problemas devido à legislação que impede a importação do grão geneticamente modificado.

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