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Moinhos brasileiros vão processar a Argentina

As indústrias brasileiras de trigo decidiram que vão mesmo entrar com processo antidumping contra os moinhos argentinos


Após várias ameaças, as indústrias brasileiras de trigo decidiram que vão mesmo entrar com processo antidumping contra os moinhos argentinos para questionar as exportações subsidiadas de farinha de trigo e pré-mistura para o país. O processo está sendo estruturado por um escritório de advocacia no Rio de Janeiro.

A decisão foi tomada depois de inúmeras tentativas frustradas de negociação entre o setor moageiro e o governo para barrar a entrada da farinha de trigo e pré-misturas da Argentina. Desde 2002, os argentinos impõem uma tarifa de exportação para trigo e seus derivados. Para a farinha e pré-mistura, a alíquota é de 10%. Para o trigo em grão, 20%. Há rumores de que a tarifa para o trigo em grão seria elevada novamente. Com essa diferença, vale mais a pena importar farinha ou pré-mistura.

Os moinhos querem que seja colocado um imposto de importação sobre a farinha da Argentina, processo semelhante ao que o Chile fez em 2006 em relação ao trigo oriundo do país vizinho. Os chilenos taxam o cereal argentino em 33%. "Queremos medidas compensatórias", diz Luiz Martins, presidente do Sindustrigo (Sindicato da Indústria do Trigo de São Paulo).

De acordo com Martins, o documento que está sendo preparado pelo escritório contratado pelo setor deverá ser apresentado ao governo nos próximos dias. No início desta semana, o Ministério da Fazenda sinalizou que planeja abrir o mercado à importação dos alimentos que mais pressionam a inflação com a redução da tarifa de importação, o que inclui trigo, leite e carne bovina. Se concretizada a intenção, o governo zeraria a TEC (Tarifa Externa Comum) do trigo, hoje em 10%, para os países de fora do Mercosul.

Segundo Christian Saigh, vice-presidente do Sindustrigo, a decisão de zerar a TEC chega com um certo atraso. "O trigo não vai chegar mais barato ao Brasil. Para baratear os preços no mercado interno, seria necessário reduzir o Pis/Cofins para o trigo [de 9,25%]".

Os preços do trigo no mercado internacional estão batendo sucessivos recordes, por conta do desequilíbrio entre a oferta e demanda global. Quebras na safra da Austrália, Argentina e de países da Europa estão dando suporte às cotações do trigo. Na bolsa de Chicago, os contratos do trigo para dezembro encerraram o dia a US$ 8,3550 o bushel, com alta de 30 centavos. Na bolsa de Kansas, os contratos para dezembro fecharam a US$ 7,9125 o bushel, com alta de 30 centavos.

Com a alta dos preços do trigo, as indústrias deverão fazer reajustes nos próximos 60 dias entre 10% e 20% nos preços da farinha de trigo, afirma Saigh. Isso significa que haverá também alta de preços dos pães, massas e biscoitos. No mercado interno, as cotações do trigo em grão já atingem R$ 640 a tonelada no Paraná, uma alta de 40% sobre igual período do ano passado. "Cerca de 70% dos custos para produção da farinha são o trigo. Os preços do trigo da Argentina subiram 50% nos últimos meses", diz.

A colheita de trigo no país, estimada em torno de 3,8 milhões de toneladas, começou na segunda quinzena de agosto e deverá se intensificar neste mês. O consumo do cereal no país é estimado em cerca de 10 milhões de toneladas. A Argentina, maior fornecedor de trigo para o Brasil, deverá iniciar a colheita a partir de outubro. "Mas até agora os argentinos não receberam as cartas de exportação", afirma Martins. A escassez de oferta do trigo argentino tem levado as indústrias a buscar o cereal nos Estados Unidos e Canadá.

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