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Moinhos reduzem dependência do trigo argentino


Estratégia de buscar fornecedores alternativos será repetida este ano, garantindo o abastecimento dos dois milhões de toneladas anuais.

Os moinhos do Nordeste esperam evitar a dependência do trigo argentino em 2003, repetindo a estratégia do ano passado de buscar fornecedores alternativos. O agravamento da crise argentina em 2002 levou os produtores a reter o grão e quase provocou desabastecimento no parque moageiro da Região, em alguns momentos. No ano passado, das duas milhões de toneladas importadas pelo Nordeste, 65% vieram do país vizinho. Já em 2001, a Argentina respondeu por 95% do trigo desembarcado na Região.

`As paralisações no sistema bancário e a instabilidade econômica fizeram com que o trigo se tornasse uma espécie de reserva de valor. Era mais vantajoso ter o grão em estoque do que dinheiro no banco`, explica o gerente de suprimentos do grupo cearense J.Macêdo, Irineu Pedrollo. O executivo lembra que os importadores tiveram que ser ágeis na busca por novos fornecedores.

Os Estados Unidos e a Ucrânia passaram a representar 35% das importações nordestinas de trigo em 2002. As compras aos produtores norte-americanos saltaram de 84,2 mil para 498 mil toneladas, crescendo quase seis vezes sobre 2001. A participação dos EUA como fornecedor para a Região passou de 4,2% para 25%. No caso da Ucrânia, das 129 mil toneladas de trigo desembarcadas no Brasil, 103 mil vieram para o Nordeste (80,4%).

Diversificação

Segundo Pedrollo, o Grupo J. Macêdo deve manter a política de diversificação das compras do grão a vários mercados, avaliando a oferta e a cotação do produto. `A Argentina chegou a representar 95% das nossas importações, mas em momentos de escassez de oferta do vizinho, no ano passado, os Estados Unidos participaram com fatia de 50%, contra 20% de outras origens e 30% da Argentina`, detalha.

`Vamos ter que manter as compras a outros mercados porque os produtores argentinos continuam segurando o grão. Apesar de estarem em plena safra, as vendas estão se concretizando lentamente, representando apenas um terço do volume nesta mesma época do ano passado`, afirma Pedrollo. Mesmo com a retenção, o executivo diz que neste momento o mercado argentino é mais interessante, porque os Estados Unidos e os países do Leste Europeu estão em período de entressafra.

`O trigo norte-americano está cerca de US$ 30 a US$ 40 mais caro que o argentino`, calcula o diretor, dizendo que a safra dos EUA começa a ser colhida no final de maio. Outros fatores limitantes são a taxa de importação de 10% para países de fora do Mercosul e o frete marítimo internacional, que chega a ser de 25% a 30% mais alto.

O interesse de aumentar o leque de fornecedores alternativos foi demonstrado durante um evento realizado pela Associação Brasileira de Trigo (Abitrigo), em novembro, na Bahia, quando foram assinados protocolos de intenção para importar trigo da Rússia e da Ucrânia. `Mas ainda existem questões fitossanitárias que precisam ser discutidas`, frisa Pedrollo. Pelo protocolo podem ser importadas 1 milhão de toneladas da Rússia e até 500 mil da Ucrânia.

Mesmo com a previsão de redução da safra argentina de 14,4 milhões para 12 milhões de toneladas, a expectativa é que os preços sejam mais competitivos em função da nova concorrência. Apesar de a cotação ainda estar alta, entre US$ 145 e US$ 148 a tonelada, os valores cederam em relação ao final de 2002, quando a tonelada bateu US$ 200. No início do ano, o preço era cotado a US$ 115 no mercado argentino.

Com três moinhos no Nordeste (Recife, Salvador e Ilhéus), a Bunge Alimentos também aumentou as compras a outros mercados para fugir do fantasma do desabastecimento. `A Argentina sempre foi nosso principal parceiro, respondendo por 95% das importações, mas no ano passado os Estados Unidos supriram entre 10% e 12% da demanda, na tentativa de driblar os custos do trigo e a variação do câmbio`, afirma o gerente geral no Nordeste, Valter Nilo Kuae.

Na avaliação do executivo, este ano ainda deve ser muito difícil para o setor. `Em janeiro de 2002 o dólar chegou a ser cotado a R$ 2,41 e a tonelada do trigo era comprada a US$ 115. Hoje a moeda norte-americana está na casa dos R$ 3,50 e o grão é cotado a US$ 148`, compara. `Ainda deve ser um ano de margens de lucro bem apertadas e de retomada do consumo perdido em 2002`, completa.

Para se ter uma idéia, o preço da farinha de trigo foi reajustado em até 80% no ano passado e a expectativa do mercado é que o consumo foi reduzido em pelo menos 10%. Outro alerta dos empresários do setor é para a necessidade de retomar a qualidade industrial do trigo nacional, que ficou muito aquém do esperado.

O diretor comercial do grupo cearense M. Dias Branco, Luiz Eugênio Pontes, também acredita que diversificar as compras de trigo no mercado internacional é a melhor estratégia. `Mas é preciso avaliar três questões principais: qualidade, preço e logística`, observa. O executivo diz que o desempenho do setor vai depender da conjuntura econômica e política. `Uma boa iniciativa é o programa Fome Zero, que pode estimular a volta do consumo. Por outro lado, fatores externos como o câmbio e a ameaça de guerra ao Iraque podem provocar novas retenções de trigo e prejudicar o mercado`, conclui.

Adriana Guarda - Recife/PE

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