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Motor da agricultura pode parar


O País deverá perder em 2005 o motor da agricultura, responsável por uma boa fatia do crescimento econômico que se alastrou pelo interior do Brasil nos dois últimos anos e gerou investimento, produção e empregos num ritmo mais acelerado do que nas grandes capitais. A safra de grãos, que já começa a ser colhida no Centro-Sul, promete bater mais um recorde de volume, puxada pela produção da soja, que deve dar um salto de 25%: vai sair de 49,2 milhões de toneladas 2004 para 61,5 milhões neste ano. A receita e a rentabilidade total dos grãos, no entanto, vão despencar, empurradas ladeira abaixo pelos preços em queda das principais commodities agrícolas, diante da maior oferta mundial, e pela elevação dos custos de produção.

Para piorar a situação, a valorização do real perante o dólar potencializou o efeito dos preços baixos, especialmente da soja, a principal lavoura de exportação. Isso faz com que o agricultor embolse neste ano menos reais pelo grão e o consumo no interior se retraia. Tanto é que várias cidades cuja atividade principal é a agricultura começaram a sentir a desaceleração do campo.

Entre algodão, arroz, feijão, milho, soja e trigo e outros grãos, a safra de 2005 poderá superar a casa de 130 milhões de toneladas, ante 120 milhões em 2004, segundo cálculos da consultoria MB Associados. A renda estimada com base nos preços de mercado deve atingir R$ 59,7 bilhões ou US$ 21,5 bilhões, com recuo de 16% e de 12%, respectivamente, ante 2004, depois de seis anos consecutivos de alta. "Se a previsão se confirmar, a receita deste ano em reais será a menor desde 2002" observa o economista da MB Associados, Glauco Carvalho. Em dólar, a renda volta ao patamar de 2003. "Saímos de um céu de brigadeiro para uma situação extremamente desfavorável."

Essa avaliação é compartilhada pelo presidente da

Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudeste de Goiás (Comigo), Antonio Chavaglia, Estado que responde por 13% da produção de soja. Ele conta que os governadores do Centro-Oeste articulam encontro com ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e da Agricultura, Roberto Rodrigues, para o mês que vem a fim de propor medidas de apoio à venda da safra.

Pela primeira vez neste ano, lembra Chavaglia, os

agricultores não contaram com os recursos da indústria que até 2004 comprava 30% da produção antecipadamente. Como houve agricultores que romperam os contratos de "soja verde" na safra passada quando o preço do grão explodiu, a indústria não quis se arriscar.

Para o economista da MSConsult, Fábio Silveira, é

ilusório adotar mecanismos de desvalorização do real para elevar a receita do campo. "Se o real for desvalorizado, o efeito será de bumerangue." Num primeiro momento, pode até resultar numa renda maior. Mas como o País é um dos formadores do preços da soja, a maior oferta derruba as cotações.

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