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MS pode enfrentar grave desabastecimento de milho

Depois da quebra na safra, agora produtores de milho já prevêem perdas na safrinha


O cenário que se desenha para Mato Grosso do Sul, assim como em âmbito nacional, é de uma grave crise de desabastecimento de milho. Sem chuva expressiva há cerca de 70 dias no principal pólo produtor do grão Mato Grosso do Sul, que é Dourados, as perdas já chegam a ser estimadas em 100% pelo presidente do Sindicato Rural do município, Gino José Ferreira.

“A semente está na terra e não choveu para germinar. Quem plantou perdeu tudo”, disse.

Segundo ele, de 50% a 60% dos produtores plantaram a safrinha, vários não arriscaram porque já vieram de uma situação de sucessiva descapitalização. Na safra de verão passada os prejuízos foram de cerca de R$ 700 milhões e nesta calculadas acima dos R$ 500 milhões em Mato Grosso do Sul. A estiagem assolou vários estados brasileiros e motivou o governo federal a anunciar um pacote de socorro, que passa especialmente pelo alongamento de dívidas. Mais de 20 municípios do Estado decretaram situação de emergência. Agora os produtores tentam negociar com as multinacionais, com as quais contraíram o financiamento diretamente.

O superintendente da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) em Mato Grosso do Sul, Sérgio Rios, afirma que ainda não dispõe de dados oficiais – a coleta em campo será feita dia 25 próximo – mas existe a informação de que em Dourados a área plantada teria caído de 85 mil hectares a 60 mil nesta safrinha. A cidade respondeu sozinha por 23% da produção estadual na safra de inverno do ano passado, cerca de 400 mil toneladas.

A demanda interna anual por milho, incluindo aviários e granjas de suínos, é de 950 mil toneladas. Este ano foram produzidas 400 mil toneladas na safra de verão e a de inverno é uma incógnita, segundo Rios.

“Em primeira instância é preocupante. Plantamos 518 mil hectares no ano passado e se pensava que ia diminuir em 5% a área plantada. Hoje acreditamos que a redução é bem maior e a produtividade também não vai chegar perto dos 3,6 mil quilos por hectare do ano passado. Além da seca, o produtor está descapitalizado, usando menos adubo”, explica.

O estoque da Conab de milho hoje é de 240 mil toneladas no Estado. O próprio governo federal admite que a importação do grão deve aumentar de 600 mil toneladas em âmbito nacional para 5 milhões de toneladas. A quebra afetou gravemente também o Rio Grande do Sul e Paraná. Com a importação surge uma outra preocupação: um grande mercado fornecedor é a Argentina de onde quase que a totalidade do milho é geneticamente modificada, explica Rios. “Será que o frango alimentado com este produto não terá bloqueio depois no mercado externo?”, questiona o superintendente da Conab.

O superintendente de Agricultura e Pecuária da Seprotur (Secretaria de Produção e Turismo), Benedito Mário Lázaro, admite que a seca deverá ser muito sentida este ano e acredita que as perdas cheguem na média a 60% ou 70% do que foi plantado para a safrinha. Em algumas lavouras da região norte do Estado a safrinha estaria apresentando uma boa evolução, mas a concentração de plantio é tradicionalmente no Sul.

No País, lembra Benedito Mário, a demanda interna é de 41 milhões de toneladas e a produção não deve passar de 35 milhões. “Temos preocupação com este milho de passagem, mas infelizmente é um quadro em que não se tem muito a fazer”, diz. O pior, acrescenta, é que a meteorologia não tem acenos positivos de chuvas para os próximos dias.

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