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Não coloque todas as fichas na La Niña

La Niña pode ser mais curta e mais fraca nesta temporada



Os efeitos do fenômeno La Niña podem ser mais brandos nesta safra de 2024/25. Os efeitos do fenômeno La Niña podem ser mais brandos nesta safra de 2024/25. - Foto: NOAA

Desde a primeira semana de maio entramos numa condição de Neutralidade do fenômeno El Niño Oscilação Sul (ENSO). Ou seja, saímos de um El Niño, quando as águas do oceano pacífico equatorial estão mais aquecidas, com valores superiores à +0.5°C acima da média histórica, migrando para uma condição de temperaturas mais próximas à média histórica.

Ao mesmo tempo, praticamente todas as simulações climáticas vinham indicando uma rápida transição para o período de La Niña, quando há um resfriamento das águas no oceano pacífico equatorial.

Apesar do fenômeno ser monitorado nesta região, há alterações nos regimes de chuva e temperaturas em todos os continentes do globo, inclusive no Brasil. Isso se torna extremamente relevante para o produtor brasileiro, visto que ele deve adequar as práticas de cultivo de acordo com o regime climático vigente.

De maneira geral, a condição de La Niña, entre a primavera e verão, pode ser favorável às chuvas no centro-oeste e sudeste, assim como no extremo norte do Brasil. Enquanto que o sul, enfrenta um período com maior restrição de chuvas.


O gráfico indica os valores observados de anomalia de temperatura na região de monitoramento desde o final da condição de El Niño. Valores entre +0,5 e -0,5°C são considerados como a condição de Neutralidade. Fonte: NOAA.

No entanto, o ritmo em que as águas vêm se resfriando está mais lento do que em outras ocasiões, contrariando o indicado por algumas projeções, como por exemplo as simulações do centro norte americano.

 


Previsão para as anomalias de temperatura da superfície do mar na região do Niño3.4 do centro Americano. Fonte: NCEP/NOAA

Por outro lado, o centro Australiano, indica um cenário mais conservador e com menores condições para o surgimento da La Niña. Enquanto a simulação dos EUA indica até 66% de chances para a entrada de uma La Niña, a simulação dos australianos indica uma possibilidade de no máximo 15% para a configuração desta La Niña.


Previsão para as anomalias de temperatura da superfície do mar na região do Niño3.4 do Australiano. Fonte: BOM

O gráfico da previsão por conjunto do Centro Europeu, na região NINO3.4, mostra um declínio gradual das anomalias, indicando uma tendência para condições de La Niña.


Previsão por conjunto para as anomalias de temperatura da superfície do mar, na região do Niño3.4, das simulações realizadas pelo Centro Europeu. Fonte: ECMWF

Embora a maior parte das previsões apontem para a manutenção de anomalias negativas, a intensidade parece ser relativamente fraca, sugerindo que, se uma La Niña se desenvolver, ela poderá ser de curta duração e de fraca intensidade. Isso pode impactar a distribuição de chuvas e a temperatura em algumas regiões agrícolas do Brasil, mas sem o impacto severo de uma La Niña forte e prolongada.

Além disso, ao final de ambas as projeções, caminham para a retomada da Neutralidade nos meses de verão. Sendo que o modelo Australiano, mantém as condições mais propícias para neutralidade durante todo o horizonte de previsão, enquanto que a simulação norte americana indica os valores acima de -0.5°C a partir do trimestre de Janeiro, Fevereiro e Março, com alguns membros indicando até mesmo a possibilidade da retomada de um El Nino, no final do horizonte de previsão, que coincide com o final da safra de verão no Brasil.

Portanto, apostar fortemente nas condições de La Niña nesta Safra de 2024/25 pode não ser a estratégia mais adequada.

Vale ressaltar que a maioria das projeções de longo prazo indicam um quadro de chuvas mais irregulares em grande parte do Brasil, com temperaturas significativamente acima da média. Ainda que as temperaturas não sejam tão extremas quanto as registradas no decorrer da safra de 2023/24.

Possíveis Impactos Climáticos no Plantio da Soja:

Distribuição Irregular das Chuvas:

  • O cenário de neutralidade climática, com possibilidade de La Niña ainda incerta, pode resultar em chuvas irregulares, sobretudo no início da primavera (setembro/outubro), que é justamente o período de plantio da soja nas principais regiões produtoras. Esta irregularidade pode comprometer a germinação e emergência das plântulas, e o estande das lavouras.
  • Para as regiões do Centro-Oeste e Sudeste, historicamente beneficiadas por La Niña com chuvas mais frequentes, a neutralidade pode gerar um padrão de chuvas menos previsível. O agricultor deve estar atento ao monitoramento de curto prazo e localizado, se necessário, ajustar as operações de plantio, talvez postergando o início para garantir que a umidade do solo seja adequada.
  • Já no Sul do Brasil, que enfrenta maior risco de déficit hídrico sob condições de La Niña, a recomendação é adotar práticas conservacionistas de manejo do solo, como o plantio direto, para otimizar a retenção de água e minimizar o impacto de uma possível estiagem durante o ciclo inicial da soja.

Temperaturas Elevadas:

  • Outro ponto de atenção é a expectativa de temperaturas acima da média, ainda que não tão extremas quanto as da safra anterior (2023/24). Temperaturas elevadas podem acelerar o desenvolvimento fenológico da soja, diminuindo o ciclo vegetativo e comprometendo o enchimento de grãos em fases subsequentes.
  • Para mitigar o impacto do calor excessivo, a adubação equilibrada com foco em melhorar a resistência fisiológica das plantas ao estresse térmico, bem como a escolha de variedades adaptadas a condições de maior temperatura, são estratégias importantes.

Janelas de Plantio:

  • Dada a incerteza climática, os produtores devem considerar o escalonamento do plantio, dividindo a semeadura em diferentes períodos, o que reduz o risco de perda total em caso de períodos prolongados de estiagem ou chuvas excessivas.
  • Além disso, a escolha de cultivares de ciclo precoce ou médio pode ser benéfica em regiões onde o regime de chuvas for mais irregular, permitindo que a soja complete seu ciclo antes que uma possível seca afete a fase reprodutiva.

Qualidade da Semeadura:

  • Devido à incerteza climática, uma boa preparação do solo e uma semeadura de precisão são fundamentais para garantir uma população adequada de plantas. Condições de solo com boa retenção de umidade e sem compactação podem ajudar a superar eventuais falhas na emergência devido à irregularidade das chuvas.

Recomendações Básicas para Mitigação de Riscos:

Manejo Integrado de Pragas e Doenças (MIP):

  • Sob um cenário climático mais quente, o desenvolvimento de pragas e doenças pode ser favorecido. Condições de temperatura acima da média e períodos de estresse hídrico podem aumentar a pressão de pragas como a lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis) e o percevejo-marrom (Euschistus heros), exigindo monitoramento constante e aplicação estratégica de defensivos.

Plantio Direto e Manejo de Palhada:

  • O sistema de plantio direto contribui para a manutenção da umidade no solo, aspecto crucial em condições de chuvas irregulares ou escassas. A presença de palhada pode ajudar a minimizar as perdas de água por evaporação, além de melhorar a estrutura do solo para o desenvolvimento das raízes.

Uso de Cultivares Tolerantes:

  • A escolha de cultivares tolerantes ao estresse hídrico e térmico é uma prática cada vez mais recomendada, especialmente em regiões mais vulneráveis a períodos de seca, como o Sul do Brasil durante as condições de La Niña.

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