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Nova suspeita de febre aftosa no Reino Unido

Os veterinários sacrificaram um novo grupo de 50 animais suspeitos de ter a doença


No mesmo dia em que a Comissão Européia proibiu as exportações, pelo Reino Unido, de animais vivos, carne e produtos lácteos por conta do foco de febre aftosa confirmado na sexta-feira (03-08) numa fazenda no sul da Inglaterra, veterinários britânicos começaram nessa segunda-feira (06-08) à noite a sacrificar animais de um segundo rebanho suspeito de estar infectado com a doença num esforço para evitar que a enfermidade se espalhe. Os veterinários sacrificaram um novo grupo de 50 animais suspeitos de ter a doença, segundo a chefe do serviço veterinário britânico, Debby Reynolds.

As vacas estavam dentro de um raio de três quilômetros do primeiro foco, dentro da zona de proteção estabelecida na sexta-feira ao redor da fazenda onde foram encontrados 39 animais infectados com aftosa. A propriedade onde o foco foi encontrado fica perto de Guildford, em Surrey, no sul do país. Todo o rebanho de 64 animais foi sacrificado. Os especialistas em biossegurança suspeitam que um laboratório de saúde animal, a seis quilômetros do fazenda, pode ser a fonte da doença. Eles também consideram a possibilidade de que inundações tenham ajudado a disseminar o vírus.

O laboratório, suspeito de ser a fonte do vírus, é partilhado pelo Instituto de Saúde Animal, que pertence ao governo, e pela Merial Animal Health, que pertence à gigante americana Merck e à francesa Sanofi-Aventis. Segundo o governo britânico, a cepa do vírus encontrada nos animias doentes era usada na produção de vacinas pela Merial. A empresa disse que não há evidência de brecha na biossegurança, e o Instituto de Saúde Animal disse que uma checagem dos registros encontrou um "uso limitado" do vírus nas últimas quatro semanas.

Na Cidade do México, o ministro da Agricultura Reinhold Stephanes disse, que o governo brasileiro vai esperar antes de se manifestar sobre o foco de aftosa no Reino Unido. "Temos que ter um comportamento de tranquilidade em relação a isso (...). Tudo indica que é um virus de laboratório e isso deve estar sob controle", disse. Para Stephanes, o Brasil terá de esperar qualquer decisão dos organismos oficiais, "até porque não importamos carne da Inglaterra".

Mas o Valor apurou que o Ministério da Agricultura avalia que o foco em Surrey deve dificultar o lobby comandado por pecuaristas irlandeses e ingleses contra as crescentes exportações de carne bovina brasileira. O episódio na Inglaterra, segundo a avaliação interna, mostra que os problemas sanitários da Europa são sempre derivados de falhas nos próprios controles locais, e não provocados pela importação de produtos de outros continentes. Foi assim com o mal da "vaca louca", que eclodiu em 1986 em território britânico, e com os focos de aftosa de 2001, que dizimaram o rebanho local.

O governo aguarda os resultados das investigações sobre o foco para decidir se determinará algum tipo de embargo aos produtos importados do Reino Unido. Boa parte das compras de produtos que poderiam servir como veículo de disseminação da aftosa já estava suspensa desde a descoberta da "vaca louca", no fim da década de 90. Dos produtos que o Brasil continua a adquirir no Reino Unido, o sêmen de bovino poderia ser o principal alvo de um eventual embargo, segundo fontes do ministério. Nos demais, não haveria riscos em manter a importação. Além de restringir o trânsito de animais suscetíveis à doença no país, o próprio Reino Unido decidiu suspender as exportações de animais, carnes e lácteos. Ontem, Estados Unidos, Japão, Canadá, Rússia e Coréia do Sul também suspenderam as importações de carne suína e derivados do Reino Unido.

Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec), Pratini de Moraes, o episódio na Inglaterra mostra que "não existe risco epidemiológico zero" . Segundo ele, o ressurgimento da doença após seis anos, indica que "alguns países não fizeram seu dever de casa". Para Pratini, as vendas brasileiras de carne bovina podem ser beneficiadas por conta da doença no Reino Unido. Mas na opinião de Pedro de Camargo Neto, da Abiec, o ressurgimento da aftosa prejudica todos os países que ainda têm a doença.

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