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O campo paga as suas dívidas


Cooperativas têm conscientizado produtores a liquidar no prazo financiamentos bancários. Os produtores rurais, que chegaram a ser rotulados de "caloteiros" em períodos anteriores, hoje são considerados pelos próprios agentes financeiros fornecedores de crédito um dos mais confiáveis setores da economia para se emprestar dinheiro. O Banco do Brasil (BB), principal banco do País financiador da produção e comercialização dos produtos agrícolas, encerrará o ano safra 2001/02 com uma taxa de inadimplência que varia entre 0,5% e 1%. Os índices estão um pouco acima dos registrados na safra passada, quando a inadimplência do BB, para os créditos concedidos a produtores rurais, chegou a 0,4%.

"Nossa carteira rural é uma das mais sadias. A maioria das culturas não sofreu problemas climáticos nos últimos anos, o que contribuiu para que os produtores honrassem suas dívidas", afirma Biramar Nunes de Lima, diretor de agronegócios do Banco do Brasil. Segundo ele, apesar do pequeno avanço na taxa de inadimplência que deve ser registrado nessa safra, o nível está dentro do esperado. "Uma taxa de até 3% é normal", afirma o executivo.

Produtor capitalizado

Os índices de inadimplência do banco têm recuado desde a safra 1995/96. Naquela ocasião, a taxa fechou o período em 6,3%, passando para 4,2% na safra seguinte e 3,1% na safra 1997/98 (ver gráfico abaixo). "A agricultura brasileira passa por um momento de capitalização, com os preços de algumas commodities registrando fortes elevações", afirma.

Se por um lado as recentes elevações dos preços das commodities agrícolas no mercado internacional contribuíram para a queda da inadimplência, por outro o governo Fernando Henrique teve sua parcela de colaboração. A partir de 1995 uma série de programas para renegociação da dívida rural foram lançados, como a Securitização, o Programa Especial de Saneamento de Ativos (Pesa) - realizado em 1998 - e o Programa de Recuperação das Cooperativas Agropecuárias (Recoop), feito em 1997.

"Os programas lançados nos últimos anos deram fôlego aos produtores, já que a dívida que eles possuíam pôde ser dividida. E esse parcelamento está sendo cumprido", afirma Nunes de Lima. O diretor do Banco do Brasil informa que antes de 1995 houve um período de problemas de estabilização econômica que fizeram com que os encargos financeiros fossem fixados em níveis muito elevados para o setor.

Além dos planos lançados pelo governo, as mudanças nas taxas de juros cobradas nos financiamentos agrícolas também foi fundamental, na avaliação de Getúlio Pernambuco, chefe do departamento econômico da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

"Hoje, as taxas de juros são fixas, o que colaborou muito para a queda na inadimplência, já que antes era cobrado dos produtores a TR (Taxa Referencial) mais os juros." Pernambuco diz que nos últimos dois anos a renda do produtor aumentou, favorecendo o pagamento de suas dívidas.

O diretor de agribusiness do Unibanco, Ângelo Vasconcelos, aposta que a queda na inadimplência será mantida para os próximos anos. "Os produtores estão mais conscientes no que se refere à necessidade de honrar seus compromissos, já que caso não os cumpram dificilmente tomarão recursos novamente", diz Vasconcelos, ao informar que os próprios critérios de liberação de financiamentos do Unibanco estão mais rigorosos.

Demanda maior

O executivo diz que nos últimos dois anos as taxas de inadimplência são inferiores a 0,5%. "Depois dos programas do governo nossos índices de inadimplência estão bem próximos de zero. O que permite esse situação também o fato da demanda por crédito ser maior que a oferta, já que podemos selecionar melhor os tomadores", afirma Vasconcelos.

O trabalho de conscientização dos produtores rurais no sentido de sempre honrar suas dívidas é rigorosamente cobrado dos associados da Cooperativa Agropecuária Mourãoense (Coamo). "Formamos a cultura que conta se paga. Em condições normais de safra, não há motivos para atrasar os pagamentos", diz Aroldo Galassini, presidente da cooperativa paranaense.

Para Aroldo Galassini, a alta do dólar nesse ano teve forte contribuição para uma queda significativa da inadimplência dentro da própria cooperativa.

"O dólar alto e preço da soja no mercado internacional fizeram com que a inadimplência da Coamo ficasse em torno de 0,15% nesse ano", diz Galassini, lembrando que por sempre ter um baixo grau de inadimplência, a Coamo não precisou entrar no Recoop.

Alexandre Inacio

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