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O império da produção e da informação

A sondagem do novo ciclo teve início nos EUA, onde a equipe de técnicos e jornalistas da RPC e das entidades parceiras foi verificar o resultado da safra norte-americana


Eles são os maiores produtores de grãos. Somente de milho colhem o equivalente a mais de duas safras brasileiras. Para este ano, a projeção é de 310 milhões de toneladas do cereal. Isso porque eles fazem apenas uma safra por ano, devido ao inverno rigoroso no Hemisfério Norte. No Brasil, onde o clima permite a realização de dois cultivos, o volume total de produção no último ciclo foi de 143,8 milhões de toneladas, somando todas as culturas (soja, milho, trigo, feijão e outras).

Mas o que impressiona nos Estados Unidos não é a liderança desse ranking e sim a capacidade de trabalhar os números, monitorar as lavouras em todo o planeta e usar a informação para influenciar o mercado, que de certa forma também tem relação direta com o país, através da Bolsa de Chicago. Os relatórios sobre a safra norte-americana, divulgados mensalmente pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), têm poder para fazer com que as cotações desabem ou então vão à lua, num reflexo em cadeia, capaz de mudar, num único dia, a relação de oferta e demanda mundial.

A safra atual, em ritmo de colheita, expõe claramente essa supremacia americana. Por outro lado, também revela que os números gerados em Washington, sede do USDA, não são unanimidade e podem ser colocados em dúvida. E os questionamentos não vêm apenas de outros países, como o Brasil, mas surgem dentro de casa, com o próprio americano.

O relatório deste mês, por exemplo, que traz uma estimativa de produção superior à estimada no mês passado, deixa o produtor desconfiado, a considerar os vários problemas climáticos enfretandos pelos americanos, do plantio ao desenvolvimento das lavouras.

No final de setembro e início de outubro, a equipe da Expedição Safra 2008/09, Rede Paranaense de Comunicaçnao (leia matéria na página 2) percorreu parte da região produtora de grãos dos EUA, o chamado corn belt, para conferir de perto a situação. Depois de visitar propriedades rurais, consultores e operadores de mercado, além de um encontro com técnicos e analistas do USDA, a conclusão sobre a desempenho real do atual ciclo é de total indefinição. Num tour pelos estados de Illinois, Iowa e Missouri, mais Washington DC, a equipe da Expedição Safra encontrou muita disparidade. Existem áreas com registros de produtividade abaixo e acima da verificada no ano passado e outras dentro da média histórica. A considerar os inúmeros problemas, o sentimento é de otimismo, mas num cenário onde ainda predominam as incertezas em relação à produção.

As inundações que prejudicaram a semeadura e forçaram o replantio, a primavera úmida que atrasou o desenvolvimento da soja e a estiagem de agosto, assim como as chuvas no início da colheita não permitem que os produtores arrisquem qualquer projeção para o resultado final da colheita, que já avança para mais de 50% da área de milho e 30% na soja. As dúvidas dos produtores, no entanto, nem sempre refletem a posição otimista do Departamento de Agricultura . Pelo último relatório, divulgado dia 10 de outubro, o órgão do governo estima que, ainda assim, com todas essas adversidades, os Estados Unidos terão a segunda maior safra da história no milho e quarta na soja.

O USDA admite um rendimento 5,3% menor que no passado na soja e projeta uma variação positiva de 1,9% no milho. Mas para compensar o recuo na produtividade da oleaginosa, no jogo dos números o órgão amplia consideravelmente a área de cultivo, que saltou de 25,95 milhões de hectares no ano passado, para 30,6 milhões. E o mais incrível: somente no intervalo entre o relatório de setembro e outubro esse número cresceu em 1 milhão de hectares. Se os dados realmente se confirmarem, temos aí uma outra particularidade dos EUA: a capacidade recuperação das lavouras em situações adversas, principalmente aquelas relacionadas ao clima.

Tem produtor americano se perguntando onde o USDA encontra esses números. É o caso de John Jensen, que produz soja e milho em Annkony, estado de Iowa. Para ele, este é o pior ano em termos de clima. O reflexo é uma quebra média de 15% na produtividade em relação ao ano passado. Ainda assim, ele está colhendo perto de 10 mil quilos de milho e 3 mil de soja por hectare. Apesar de ter o rendimento prejudicado, Jensen mantém seu desempenho na média de Iowa, o estado com que concentra a maior produção dos EUA. Isso porque é um produtor que adota alta tecnologia e está no clube das maiores produtividades do país.

Mas existem aqueles produtores alinhados com o USDA. É o caso de Glenn Rovey, de Illinois, que se diz satisfeito com os resultados da safra. A soja está rendendo entre 3 mil e 3,4 mil quilos por hectare, produtividade em linha com a média. No milho, as primeiras lavouras colhidas têm rendimento médio de 11 mil quilos por hectare. “Nos melhores talhões chegou a 12,6 mil quilos”, comemora. Dos 283 hectares que cultiva no município de Farmersville, a 360 quilômetros de Chicago, Rovey dedica 70% ao milho.

Diante das realidades distintas, uma projeção mais concreta deve vir em alguns dias, quando a colheita entra na reta final, ou então no próximo relatório do USDA, que deve ser conhecido em 7 de novembro.

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