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O lado ruim da queda nos preços dos alimentos

Enquanto o grupo ‘alimentação e bebidas’ tem deflação superior a 2% em 2017, faturamento dos produtores rurais pode cair 4%


Outubro de 2017 entrou para a história: há 20 anos o Brasil não tinha seis meses seguidos de queda nos preços de alimentos. No acumulado do ano, o chamado grupo ‘alimentação e bebidas’ teve deflação de mais de 2%, auxiliando a meta inflacionária de 4,5% do Banco Central.

Mas nem todo mundo ganha com isso. Os produtores rurais vêm produzindo mais e ganhando menos do que em temporadas anteriores. Mesmo com maior área cultivada (4,4%) e maior produtividade (22,6%) nas lavouras - comparado à safra anterior -, o Valor Bruto da Produção (VBP) Agropecuária indica faturamento 4% menor, passando de R$ 529,29 bilhões para R$ 551,40 bilhões, estima a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA)

“O produtor está mais comprimido, já que o setor [de produção de alimentos] tem contribuído muito para a queda [da inflação]”, diz a assessora técnica da Comissão Nacional de Política Agrícola da CNA, Fernanda Schwantes.

O cálculo do VBP leva em conta 23 produtos agrícolas e cinco pecuários. “É um valor agregado para todo o Brasil, sem ir a fundo nas características regionais, com uma estimativa do potencial de faturamento. Com a redução, podemos dizer que a margem está mais apertada [para os produtores] porque os custos de produção estão subindo e o faturamento encolhendo”, destaca.
Milho, soja e carne em queda

Um exemplo claro é o preço do milho, 34% mais barato do que no ano anterior, segundo a CNA. Resultado: há produtores abandonando o cultivo do produto na safra de verão. No Paraná, a redução de área de plantio para o grão é de 35%, segundo dados do Departamento de Economia Rural do estado.

No Oeste paranaense, por exemplo, Valmir Schkalei, de Marechal Cândido Rondon, deixou de produzir milho pela primeira vez em dez anos. “Desisti por conta do preço”, disse à Gazeta do Povo em outubro. Em 2016, o valor passou de R$ 40 a saca. Neste ano, as margens chegaram a R$ 15. 

O que era uma atividade lucrativa se tornou um mero mal necessário, simplesmente para fazer a rotação do solo. “Só em insumos, diesel e mão de obra, o custo de produção do milho está R$ 17,80 por saca. Com a operacionalização e a depreciação de máquinas e equipamentos usados desde preparo do solo, plantio, tratos culturais, colheita e transporte, fica R$ 21,10”, estimou Valdir Fries, agricultor do Noroeste do Estado.

Conforme relatório da CNA, o preço da soja também retraiu (16,6%), assim como a carne bovina (10,5%), na comparação da média de 2016 com os dez primeiros meses de 2017. Junto com o milho, esses produtos respondem por praticamente a metade (49%) do VBP da agropecuária. “São produtos com participação muito grande e condicionados ao mercado externo, dependendo muito do comportamento do câmbio e dos preços internacionais. E como o ano que vem é eleitoral, o câmbio é uma incógnita”, relaciona Fernanda Schwantes.
Produtos em alta

Alguns produtos escaparam da baixa. “A carne suína teve recuperação de preços comparado aos últimos dois anos, mesmo que a produção não tenha aumentado”, diz Schwantes. Dados da Expedição Suinocultura, do Agronegócio Gazeta do Povo, apontam que a produção deve ficar em 3,8 milhões de toneladas, contra 3,7 em 2016 e 3,6 em 2015. O faturamento, segundo a CNA, deve ser 10,4% superior ao ano passado.

A cana-de-açúcar (utilizada para a produção de etanol) também se recuperou. “É um setor que passou por dificuldade, mas quando comparamos os dois períodos (de 2016 e 2017) teve aumento de quase 15% [no faturamento], com expectativa de melhorar”, afirma a especialista da CNA. Isso aconteceu mesmo com menor área de plantio (-3%) e de produção (-1,7%), mostrando a força do produto que contribui com quase 17% do VBP agrícola. 

Segundo o último relatório da CNA, divulgado dia 21 de novembro: “Das 23 culturas agrícolas analisadas, estima-se aumento da receita bruta de nove produtos em 2017 em relação a 2016: caroço de algodão (36,7%), algodão em pluma (23%), arroz (3,6%), café robusta (32,8%), cana-de-açúcar (15,4%), laranja (5,6%), mamona (4,9%), mandioca (95,5%) e uva (6,1%). Os demais segmentos devem apresentar variação negativa do seu faturamento bruto, decorrente especialmente da queda de preços na comparação entre períodos. Destaca-se a queda do faturamento de batata inglesa (-57,6%), cacau (-29,8%), café arábica (-26,2%), cebola (-27,4%), feijão (-26,2%), maçã (-24%), milho (-3,3%), tomate (-47,3%) e trigo (-37,2%)”. 

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