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O preço da carne vai seguir aumentando?

Tudo começou em setembro de 2018, quando a China anunciou que o vírus da peste suína africana havia sido detectado


Foto: Pixbay

Preços da carne bovina subiram sensivelmente. A alta valorização se deve principalmente à alta da arroba do boi gordo. Para os pecuaristas, os preços atingiram os maiores valores da história, com sucessivos recordes. A razão para o aumento envolve, além do fator China, um momento de oferta restrita de bois no Brasil, um tradicional aumento da procura doméstica por carnes no fim do ano e o dólar cotado acima dos R$ 4, que aumenta ainda mais o ganho dos exportadores na hora de converter o dinheiro das vendas para real. 

Tudo começou em setembro de 2018, quando a China anunciou que o vírus da peste suína africana havia sido detectado em sua produção de suínos para subsistência.

De acordo com Argemiro Luis Brum, Professor Doutor em Economia Internacional há alguns motivos a destacas
- O abate de matrizes há três anos, quando o mercado apresentava preços menores, menos interessantes, levando os pecuaristas a optarem por outras atividades, caso da soja no sul do país; 

- Forte importação da China neste ano motivada pela peste suína africana que por lá se abateu. Somou-se a isso o litígio comercial dos chineses com os EUA, fato que desviou as compras de carne de forma mais intensa para a América do Sul em geral e Brasil em particular; grande desvalorização do Real, hoje na casa dos R$ 4,20, fato que estimula as exportações, pois torna mais competitivo o produto brasileiro; alta, igualmente, do preço do suíno, motivada também pela maior demanda chinesa; enfim, problemas climáticos atingiram as pastagens no Sudeste e Centro-Oeste em especial forçando os criadores a se desfazerem de boa parte de seu rebanho. Diante disso, a reposição para abate, junto aos frigoríficos, se tornou muito difícil nos últimos 30 dias levando estes a aumentarem os preços pagos a fim de conseguirem melhorar seu tempo de abate. Com isso, a arroba do boi gordo, em São Paulo, por exemplo, saiu de R$ 140,00 há poucos meses para valores próximos de R$ 230,00 no momento (mais de 60% de aumento). 

Já no Rio Grande do Sul, o quilo vivo médio salta de R$ 4,60 para quase R$ 7,00 no período, e assim por diante. Foi questão de tempo para tais aumentos atingirem o consumidor. Se isso irá continuar? Por algum tempo há sim possibilidade. Por dois motivos: o ciclo do gado bovino é mais longo, levando 2,5 anos aproximadamente para se ter animais prontos para abate de forma suficiente, após a eliminação de matrizes; enquanto os efeitos da peste suína na China durar e o litígio comercial com os EUA não for solucionado (no primeiro caso calcula-se de dois a três anos, quanto ao litígio a qualquer momento espera-se algum acordo embora os chineses parecem estar aguardando o resultado das próximas eleições presidenciais estadunidenses, previstas para novembro de 2020).

O presidente da Associação Gaúcha de Supermercados, Antônio Cesa Longo, ressalta que os preços dos produtos típicos para as festas estão em média 8% superior a 2018, mas a carne tem uma situação atípica. O presidente afirma que, o mercado está se regulando, e o varejo está tentando segurar os preços. Os maiores aumentos de preços de carnes já vieram, mas é possível que ainda haja alguma alta de menor expressão.

“O consumidor é muito atento e certamente terá algumas mudanças de hábitos, como optar por carne de frango ou suíno. Há ainda consumidores que migram para cortes bovinos mais baratos”, salienta Antônio. 

O final do ano é tradicionalmente o melhor período de vendas para os supermercados, e as carnes têm importância decisiva neste contexto. 

A alta demanda chinesa pela carne brasileira fez o preço da carne subir nas gondolas dos principais supermercados brasileiros. Mas este aumento não se restringe apenas ao consumidor final.

“O preço pago subiu para todo mundo”, explica Gabriel Moraes, diretor comercial do Frigorífico Silva, indústria genuinamente gaúcha referência nacional e que também tem sentido a valorização da arroba do boi, que já bateu recordes e chega a ser negociado por R$ 230.

“Isso acontece porque os frigoríficos que não exportam seus produtos para a China tiveram que brigar com as indústrias habilitadas na compra deste boi. Ou seja, o preço pago pela matéria-prima subiu para todo mundo, da indústria ao consumidor final”.

O cenário, entretanto, conforme Moraes, não irá normalizar como era, porque antes o Brasil tinha excedente de carne. “Como não havia essa demanda aquecida estrangeira, sobrava produto no mercado interno e, por consequência, pecuarista insatisfeito com o boi super desvalorizado”. A tendência é que em 2020 o mercado feche num patamar estável, se acomodando naturalmente numa faixa de preço intermediário. “Carne não irá faltar na mesa de ninguém. Ela apenas estará mais bem valorizada e o consumidor terá que pagar um valor diferenciado por ela”.

Entretanto, fechando o foco na produção de carne gaúcha, parece fácil perceber que a via a ser percorrida neste momento é a da diferenciação. “O foco da disputa para a carne gaúcha no mercado nacional e internacional deve ser a carne com alto valor agregado e estamos felizes com o cenário novo que está se construindo, pois estava na hora do boi ser mais valorizado. Nós sempre trabalhamos para agregar valor à carne e acredito que vamos caminhar para um novo patamar”, completou Gabriel. 

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