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Onde colocar tanto milho?

Colheita e procura abaixo da oferta pressionam as cotações do cereal, que registram o menor valor do ano


O ritmo de comercialização de milho neste ano está bastante lento e os preços do grão vem registrando consecutivas quedas. Pesquisas do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, mostram que, nesse cenário, os estoques estão bastante altos, havendo mesmo déficit de armazéns. Em Mato Grosso, a falta de espaço para estocagem é tal que parte do grão é deixada a céu aberto.

Quanto à colheita, apesar de estar em fase final nas principais regiões do Brasil, as recentes chuvas têm atrapalhado o avanço dos trabalhos, especialmente na região Sul do País. Conforme agentes colaboradores do Cepea, a colheita no Sul está na fase final e no Centro-Oeste está praticamente finalizada. Daqui pra frente, chuvas podem dificultar o tráfego de caminhões em algumas praças. Além disso, na maioria das regiões, as colheitas da soja e do próprio milho de verão iniciam-se em janeiro, quando os armazéns devem estar preparados para o recebimento do produto.

Conforme pesquisas do Cepea, nas principais regiões produtoras do Brasil, especialmente naquelas em que há plantação de milho no verão (Sul e Sudeste), a relação custo e receita da safrinha não paga sequer os custos variáveis. De acordo com levantamentos do Cepea, faltam entre 25% e 30% da receita para fechar a conta. Para a safra de verão, considerando os custos e receitas atuais, a rentabilidade pode ficar positiva caso a produtividade permaneça na mesma média de anos anteriores.

Sem sustentação, os preços do milho pesquisados pelo Cepea voltam aos níveis observados em julho de 2007 (menor patamar daquele ano), antes da expressiva alta decorrente da produção de etanol nos Estados Unidos. Nessa segunda-feira, 31, o Indicador ESALQ/BM&FBovespa do milho (região de Campinas – SP) fechou em R$ 19,29/saca, recuo de 2,65% no acumulado de agosto. Os atuais preços fazem com que o milho tenha menor rentabilidade em comparação a outras culturas concorrentes em área, especialmente a de soja, cujos preços têm se mantido em patamares considerados atrativos.

Para a soja, principal concorrente em área, cálculos do Cepea apontam que a rentabilidade sobre os custos totais é superior a 10%, considerando o preço dos insumos em julho e a receita média atual para o grão. Com base nestes números, a tendência é de substituição de parte expressiva das áreas de milho por soja e outras culturas consideradas mais rentáveis, como o feijão.

Somente a retomada mais intensa da demanda – doméstica, dos setores de aves e suínos, ou para exportação – pode dar alguma sustentação aos preços internos do milho. No mercado de carnes, agentes consideram que o ritmo é considerado normal e que não há expectativas de grandes alterações para os próximos meses – exceto se houver um rápido aumento das exportações desses produtos. Entretanto, a estimativa de muitos analistas é que o consumo de carnes dos brasileiros continue sendo o principal canal de escoamento nos próximos anos.

Em relação às exportações de milho, o ritmo também é considerado lento, mas desde o início de agosto há maiores volumes registrados para embarque. O fato é que o vendedor tem poucas alternativas e mesmo com a paridade de exportação não sendo atrativa comparativamente ao mercado interno, o produtor que refutar propostas para exportação terá de carregar estoques para comercialização nos próximos meses. Na avaliação de muitos colaboradores do Cepea, se há compradores internacionais, não dá para ficar no aguardo de novidades.

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