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Opções de plantio de inverno dão prejuízo


Entre a cruz e a espada. Assim estão os produtores que cultivam uma segunda safra. Com os preços das commodities em queda, a procura por sementes de milho safrinha - cujo plantio começa em fevereiro - está mais lenta. Nesta mesma época do ano passado, 30% do total já estava comercializado. O produtor está demorando para decidir se vai plantar milho, trigo ou deixar a terra parada para não ter prejuízo. Com isso, até o momento, estima-se uma queda de 20% nas vendas de sementes de milho. A única exceção pode ser o Paraná, onde o cultivo de milho na safrinha pode aumentar.

"É inviável produzir no Brasil. Nenhum grão paga as contas", diz o agricultor José Roberto Brucceli, de Montividiu (GO). Com o preço do milho em R$ 13 a saca, Brucceli acredita que vai conseguir uma receita de apenas R$ 1.040 por hectare, para um gasto 25% maior, de R$ 1.300. Diante desse quadro, ele vai reduzir pela metade a área cultivada com o grão, para 750 hectares. O agricultor diz que não tem outra opção, a não ser deixar a área livre. "Trigo aqui, só irrigado, e fica muito caro", diz.

"No cenário mais otimista, a safrinha deste ano vai repetir 2004", diz Cássio Camargo, diretor-executivo da Associação Paulista de Produtores de Sementes (APPS). Segundo ele, o produtor está demorando para tomar a decisão de compra porque o preço do produto está em baixa - em algumas regiões, inferior ao mínimo de garantia do governo, que é calculado com base no custo de produção - e o cenário para a agricultura em 2005 não é muito favorável. Devido à supersafra mundial de grãos, quase todas as commodities estão com preços em queda.

Para o analista Daniel Dias, da FNP Consultoria, haverá redução de área na safrinha e, além disso, menor investimento na lavoura. Com isso, ele acredita em uma safra 10% inferior, chegando a 10 milhões de toneladas. "Mas é justamente esta redução que vai dar sustentação ao mercado", avalia. Para o consultor Benedito Oliveira, da AG Rural, a área cultivada com a safrinha será 10% menor. "Com o preço atual e o real valorizado, o agricultor vai depender mais do mercado interno do que das exportações" afirma. Na avaliação dele, o agricultor vai decidir o plantio em cima da hora, a favor do produto cujo custo é menor. "Entre o milho e o trigo, ele deve escolher o primeiro", diz. Mas não são todas as regiões do País em que o agricultor tem essa opção.

Paraná na contramão

É por causa do dilema entre trigo e milho que, na contramão da expectativa nacional, o Paraná poderá aumentar a área cultivada com milho. "O produtor está insatisfeito com o trigo, e o milho leva menos insumos", diz Otmar Hubner, técnico do Departamento de Economia Rural da Secretaria de Agricultura do Paraná (Deral). No final do mês, o governo irá a campo levantar a intenção de plantio para a safrinha.

"A comercialização de trigo foi difícil nos últimos dois anos em razão da safra cheia, por isso o agricultor vai preferir o milho", diz Robson Mafioletti, assessor da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar). Outros fatores para a escolha pelo grão é a maior facilidade na venda do que o trigo e o menor investimento. Afinal, o prejuízo com o plantio de trigo é, de acordo com a Ocepar, de R$ 314 por hectare, enquanto o do milho é muito menor, de R$ 16. Neste ano, os preços do trigo estão 25% menores em relação à safra passada, o que é um desestímulo adicional ao plantio.

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