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Opinião - Transgênico: vilão ou mocinho?

"A biotecnologia é uma grande conquista do Brasil e usá-la é uma opção"


Por *Glauber Silveira

Tenho acompanhado algumas declarações onde colocam a transgenia como vilã e não como um benefício à agricultura. Afirmações acerca da soja convencional e comparações feitas têm me deixado muito preocupado já que, a meu ver, não se trata de usar esta ou aquela tecnologia como se o correto fosse o produtor optar por convencional e pronto, como se não precisássemos do transgênico.

A biotecnologia é uma grande conquista do Brasil e usá-la é uma opção, ou seja, é mais uma ferramenta que o agricultor tem. No caso da soja, agricultores que plantam aproximadamente 85% da área brasileira desta cultura optaram por usar a tecnologia RR, e me parece difícil que tanta gente não esteja fazendo a conta direitinho.
Temos realizado inúmeras discussões sobre biotecnologia e em todas elas a preocupação da Aprosoja foi não só manter o poder dos produtores em escolher entre soja transgênica ou convencional, mas acima de tudo apresentar a importância do manejo das duas tecnologias.

A Aprosoja Mato Grosso aderiu ao programa "Soja Livre", que busca incentivar o aumento de cultivares de soja convencional, o que no curto prazo tem dado certo, pois, apesar de termos apenas 15% da área cultivada hoje com soja convencional o registro de variedades convencionais ultrapassa 20%, e isto é muito positivo.

Agora, o grande desafio é realmente remunerar a soja convencional mais que a transgênica. Quando o programa teve início, há dois anos, eu alertei as tradings que se elas ficassem com toda a remuneração que a soja convencional recebia a mais pela União Europeia o produtor iria optar pela transgênica.

Com relação ao custo de produção, o Instituto Matogrossense de Economia Agrícola (IMEA) e a Céleres já comprovaram que, até a última safra, a soja transgênica era mais competitiva em custos. Mas quanto à receita líquida não se pode afirmar que a soja transgênica é mais rentável que a convencional e nem o contrário.

A rentabilidade não depende apenas do custo de produção, que varia dependendo da região, clima, plantas daninhas e incidência de pragas e doenças, depende também da capacidade de negociação do produtor, especialmente no que tange à compra de insumos e venda da produção.

A soja convencional pode oferecer vantagens quanto ao preço pago com prêmios que seriam de R$ 2,00 a R$ 5,00, por saca, e deixariam a soja convencional extremamente competitiva, mas na prática este ganho não é fácil e os produtores em geral não conseguem fechar negócios com esses prêmios.

Neste negócio não existe ninguém bonzinho. É uma relação de mercado e cada um defende seu lucro, sejam os representantes da transgênica ou da soja convencional, mas, e os produtores como ficam?

O que preocupa realmente os produtores é ter a sua disposição as duas tecnologias, para que possam de forma adequada fazerem o manejo da sua área utilizando as duas. A produção da soja convencional também tem tido problemas sérios quanto à resistência de ervas invasoras de difícil controle e, neste caso, o uso da ferramenta transgênica é fundamental.

Não podemos de forma alguma dizer que a transgênica não tem uma contribuição importante para o uso menor de agroquímicos. É notável a diminuição do uso de inseticidas quando se usa a tecnologia BT em soja, milho ou algodão. Segundo estudo de 2011 da Kleffmann, o Brasil aplica 7,5 dólares em agrotóxicos para cada tonelada produzida na agricultura, contra 9,4 dólares nos EUA, 12,4 dólares na Argentina e 20,7 dólares, por tonelada, na União Europeia.

A grande questão não é colocar esta ou aquela tecnologia como vilã, e me preocupa ver a discussão partindo para este caminho. O Brasil precisa das duas. Temos problemas crônicos que a transgenia poderá, de forma mais rápida, trazer soluções, mas a transgenia de forma alguma sobrevive sem a convencional.

Precisamos pensar no futuro, em como podemos dar segurança ao produtor, como difundirmos a importância das duas tecnologias, como mostrar ao produtor a importância de rotacionar as tecnologias e as culturas, já que a maior parte dos problemas apresentados na imprensa e que estão sendo imputados à soja transgênica, me parece ser mais um problema de manejo e falta de rotação de culturas do que de transgenia.

Um caso clássico é o uso da tecnologia BT (resistência a insetos), o seu uso constante sem o plantio de refúgio faz com a tecnologia perca seu beneficio num período muito curto, por isto a importância de se plantar 20% no mesmo talhão de soja convencional, para que se mantenha a proliferação de inimigos naturais e para não haver a seleção natural de apenas indivíduos resistentes à tecnologia. Se o produtor não souber manejar adequadamente a biotecnologia dará um tiro no pé, poderá perder num período muito breve seus benefícios.

O mundo evoluiu, os consumidores e a sociedade pregam por uma agricultura sustentável e é isto que nós produtores estamos perseguindo. Precisamos de pesquisa, daí a importância da Embrapa e das universidades, das fundações de pesquisa, da extensão rural que mostrem a importância da rotação.

Do crescimento da agricultura dos próximos dez anos, o Brasil será responsável por 40%, sendo assim o desafio e a oportunidade são gigantes, o produtor brasileiro está no lugar certo e na hora certa. Temos tecnologia, terras planas e água para aproveitar a oportunidade e fazer o Brasil crescer de forma sustentável. É importante que todos os elos da cadeia da soja, transgênica ou convencional, estejam unidos, já que os inimigos de fora não faltarão.

*GLAUBER SILVEIRA é produtor rural, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil) E-mail: [email protected]  Twitter: @GlauberAprosoja

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