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Opinião: A indústria da cana não pode parar

Na safra agrícola encerrada de 2011, as empresas fabricantes do açúcar e do etanol esmagaram perto de 560 milhões de toneladas de cana


Luiz Gonzaga Bertelli é vice-presidente da Assoc

No início do mês de dezembro, a principal entidade representativa da indústria canavieira, a Unica, lançou no Distrito Federal a campanha "Movimento mais etanol", com a participação de parlamentares, executivos governamentais, empresários e trabalhadores do setor. A precípua finalidade da iniciativa é evitar, aliás como já está acontecendo, a paralisação do crescimento da produção sucroalcooleira na Nação. -


Na safra agrícola encerrada de 2011, as empresas fabricantes do açúcar e do etanol esmagaram perto de 560 milhões de toneladas de cana, e necessitamos, nos próximos 8 anos, até 2020, processar 1,2 bilhão de toneladas desse vegetal, visando à comercialização de 51 milhões de toneladas do açúcar, para o mercado doméstico e exportações, além de 69 bilhões de litros do etanol (anidro e hidratado), bem como a geração às distribuidoras de eletricidade de 13 mil MW médios, o que corresponde à produção de uma grande hidroelétrica, à semelhança de Itaipu.

A imprescindibilidade de alcançarmos e superarmos essa meta é incontestável, diante do crescente uso do etanol hidratado nos veículos híbridos (flex) ou na mistura à gasolina automotiva (percentual de 25%). É inconteste, também, a fantástica colaboração do etanol na melhoria das condições ambientais das grandes cidades brasileiras, além da diminuição das enfermidades respiratórias e cardiovasculares advindas do péssimo ar que respiramos, mormente na terra do padre Anchieta. Não devemos olvidar, igualmente, que metade do açúcar consumido no universo provém das indústrias brasileiras, com absoluta predominância das organizações paulistas.

Na última década, a produção da cana-de-açúcar cresceu 10%, graças aos consideráveis investimentos financeiros havidos nas lavouras da cana, tratos culturais, novos projetos industriais e ampliação das empresas existentes.

Com a crise econômica de 2008, houve a desaceleração da evolução setorial, acentuadas aquisições de usinas descapitalizadas, adversidades climáticas, majoração dos custos no campo ou nas indústrias e perda de eficiência ou competitividade do combustível da cana versus os derivados do petróleo, em especial com a gasolina automotiva. Para o professor Marcos Sawaya Jank, presidente da Unica, a conjuntura do setor sucroalcooleiro exige, com celeridade, providências urgentes, objetivando a retomada do desenvolvimento setorial.

Temos todas as condições favoráveis para alcançarmos o mencionado escopo: disponibilidade de terras agricultáveis (a indústria da cana ocupa apenas cerca de 3% das terras aráveis do Brasil), tecnologia desenvolvida entre nós, fabricantes de modernos equipamentos, mão de obra abundante e barata, bem como condições climáticas favoráveis.

Na próxima colheita, em 2012/13, 63% da cana do nosso estado paulista serão recolhidas com moderníssimas máquinas, o que dispensará, doravante, a queima da palha na colheita. O novo período da produção, a iniciar-se na segunda quinzena de abril ou maio de 2012, vai absorver 350 mil empregos diretos, ligados à indústria e ao campo, e em torno de 700 oportunidades de trabalho adicionais. Em coordenação com o sistema "S" e com escolas técnicas, serão capacitados 25 mil trabalhadores tão-somente em 2012, contingente do qual um terço será oriundo da colheita manual da gramínea.

O balanço de 2012 encerra-se com a redução anual de emissões provenientes do uso do etanol de 46 milhões de toneladas de CO2 equivalentes. Com a expansão preconizada pela Unica, passaremos para 112 MT de CO2 equivalente em 2020. Havendo essa diminuição adicional de 66 MT de CO2, superaremos a meta de redução de 35% de CO2, fixadas para a área de energia pela política nacional sobre mudanças do clima.



Diante do desenvolvimento científico e tecnológico do CTC, das universidades e fabricantes de equipamentos brasileiros, a nossa produção do etanol alcançará 12 mil litros por hectare (atualmente fazemos 7 mil por hectare).

Ademais, falta-nos a aprovação, com a urgência indispensável, de políticas voltadas à produção da cana, do açúcar, do álcool e da eletricidade dos resíduos, notadamente do bagaço. O investimento na cogeração do bagaço é compensador do ponto de vista econômico e ambiental.

Outrossim, é fundamental a estruturação de diretrizes para a política de preços dos combustíveis e da eletricidade.

A fim de socorrer a indústria do petróleo e a nossa principal empresa do Estado, o governo decidiu recentemente diminuir a incidência tributária na gasolina de automóvel. Tal decisão possibilitou à Petrobras aumentar o preço do subproduto fóssil (valor ex-refinaria), de forma que não houvesse majoração nos postos de abastecimento.

Em decorrência, o imposto incidente na gasolina atualmente é de 35% na bomba, depois de termos chegado a 47% em 2002. Quanto ao etanol, é de 31% e do diesel, responsável na sua quase-totalidade pelo transporte da produção e da população brasileira, é de 22% nas bombas.

Nos países mais desenvolvidos, o etanol e os demais combustíveis limpos e renováveis não são tributados, ou recebem impostos predominantemente menores do que os derivados do petróleo. Em termos de quilômetro rodado, nos dias atuais a tributação do etanol é similar à da gasolina. O Brasil inicia 2012 como um dos principais produtores de energia limpa, ambiental e renovável do planeta. É preciso, portanto, a manutenção desse status, inclusive a fim de evitarmos possíveis apagões no abastecimento elétrico e dos combustíveis, quando o Brasil necessitará importar mais gasolina em 2012 do que fez em 2011. De janeiro a novembro do período findante, a petroleira do Estado precisou trazer do exterior mais de 180 mil barris diários do petróleo, a fim de atender à demanda interna.

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