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Opinião: Bons ventos fazem navegar o agronegócio

Limite de adição de etanol à gasolina em veículos fabricados a partir de 2007 passará para 15%


Rui Daher*

A Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA, na sigla em inglês) aprovou passar de 10% para 15% o limite de adição de etanol à gasolina em veículos fabricados a partir de 2007. A medida estimula o choque de interesses cruzados no país. Produtores rurais, montadoras, donos de postos e a indústria petrolífera já armam arena no Congresso para novas lutas.

Ainda mais que, no fim de 2010, expiram tanto o benefício fiscal de US$ 0,45 por galão para as empresas que hoje praticam a mistura como a sobretaxa do etanol de cana-de-açúcar do Brasil (US$ 0,54/galão). Caso a EPA permita a extensão da mistura aos cerca de 86 milhões de veículos fabricados entre 2001 e 2006, a batalha promete ser sangrenta.

Mesmo antes dessa medida, segundo o Departamento de Agricultura norte-americano (USDA), 37% do milho colhido se destinam à produção de etanol, um dos fatores que tem colaborado para a alta dos preços do cereal.

Pensando bem, não fossem os interesses particularizados que, hoje, parecem perpassar todas as atividades humanas, nem haveria motivo para rusgas na área dos agronegócios.

As notícias são boas para o setor rural. Pelo menos, desde que o líder chinês Deng Xiaoping (1904-1997) criou o slogan "o enriquecer é glorioso".

Apesar da crise, o apetite não arrefeceu dos dois lados da muralha chinesa, o que fez o senhor Brady Mimms, plantador junto com seus filhos e seu pai, de 1.600 hectares de algodão no Texas, declarar ao Wall Street Journal que planeja trocar seus velhos trator e colheitadeira por máquinas novas.

A verdade é que, embora a economia norte-americana lute para recuperar-se, seu setor rural vai com vento pela popa. Mesmo diante das produções expressivas na maioria das principais regiões agrícolas e pecuárias, os preços das commodities se mantêm em ascensão.

O USDA projeta crescimento de 24% para a receita agrícola líquida do país neste ano. Serão US$ 77,1 bilhões de dólares, a quarta maior da história. As exportações, sobretudo para a Ásia, chegarão perto de 110 bilhões de dólares. É a província chinesa de Shandong levando alegria para as senhoras fabricantes de geleias de Ohio e adjacências.

O quadro não é diferente no Brasil, apesar dos percalços de nossa moeda sobrevalorizada. São esperados elevação da renda, aumento dos investimentos e redução do endividamento. Nem pensem em fazer a pergunta à CNA. Ela negará.

Afinal, até a metade do ano, suas copiosas previsões apontavam para o excesso na produção de soja e a consequente queda dos seus preços, na inexistência de mercado para a exportação da safrinha de milho, na estagnação do algodão, nos altos custos da colheita de café, na volta da ditadura e da falta de liberdade de imprensa no Brasil (ops! Isto não é para esta coluna).

Tudo equivocado. Um clássico, aliás.

A receita bruta do setor deve chegar muito próxima de 2008, ano excepcional e de grandes recordes. As exportações anualizadas já superaram os 72 bilhões de dólares. Culturas que no passado recente tiveram cotações reduzidas, como o suco de laranja, acumulam em um ano valorização de 56%, nível semelhante às valorizações do trigo e do algodão. Apenas o açúcar, que tivera forte alta no primeiro semestre, cedeu 2,3% nos últimos meses.

São bons os tempos, senhores.

* Rui Daher é administrador de empresas, consultor da Biocampo Desenvolvimento Agrícola.
Coluna Publicada no Terra Magazine.

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