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Opinião: Formar estoques pode ser boa estratégia para citricultura

É preciso aprender com as experiências positivas e negativas do passado


Marcos Fava Neves*

A citricultura fez reunião histórica em 20 de outubro, em São Paulo. Mais de 400 integrantes da cadeia produtiva e lideranças do agronegócio brasileiro participaram de debate onde se discutiram os números e as estratégias para o setor. O ótimo astral mostrou que essa data pode ser o marco de uma virada. Foi consenso que a cadeia precisa de um mecanismo que possa integrar mais os elos produtor e industrial para uma agenda de trabalho conjunta. É preciso aprender com as experiências positivas e negativas do passado e com outras cadeias produtivas, mas principalmente pensando e discutindo o futuro. Parte importante do atrito existente entre os elos é porque os preços do suco de laranja flutuam entre US$ 700 e US$ 2.400 por tonelada, prejudicando o equilíbrio da cadeia e causando danos irreparáveis. No ano passado, os citricultores receberam apenas R$ 5 por caixa do produto, com prejuízo certo. Neste ano serão R$ 15. Como conviver com isso, como tomar decisões em 2011? Do lado da oferta, temos variáveis como índice de pega da florada, chuvas, secas, pragas e doenças, investimentos em tratos culturais e outros, além da produção na Flórida, trazendo grande variação na produção. Excedentes de produção de fruta e consequentes preços baixos transferem renda aos elos internacionais (engarrafador e varejista). A falta de produção e os consequentes preços altos do suco fazem com que exista a substituição por outros sucos e também estimulam a entrada de outros países concorrentes no mercado. Há apenas quatro empresas exportadoras que detêm 85% do mercado mundial, mas que disputam mercados e clientes e somos, incrivelmente, tomadores de preços.

ESTOQUES

A ideia é polêmica, mas o mercado tem especificidades tão elevadas que é preciso pensar numa estratégia institucional de estoques de suco para que seja abrandada essa variabilidade, dentro de regras aceitas. Isso poderia facilitar a precificação internacional que possa, ao mesmo tempo, ser rentável e mais previsível para a cadeia no Brasil e relativamente confortável aos compradores internacionais. Além de não estimular outros países produtores de suco de laranja a entrar no mercado, não seriam perdidos mercados para os sucos de outras frutas. O mundo está em guerra comercial (tarifária, não tarifária) e em guerra cambial, e não podemos ser ingênuos. Essa estratégia de estocagem e precificação será uma contribuição para maiores entradas de recursos no Brasil e a consequente distribuição na cadeia produtiva, contribuindo para a sustentabilidade. 

*Marcos Fava Neves é professor titular de planejamento na FEA/USP (Campus de Ribeirão Preto), autor de 22 livros publicados em cinco países e coordenador científico do Markestrat.

Artigo publicado no jornal Folha de São Paulo do dia 29-11-2010.

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