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Opinião: Importação de etanol é esdrúxula

Conforme as tradings, até o final deste ano, o Brasil deverá transferir 1,7 bilhão de litros de etanol para o exterior


Por Luiz Gonzaga Bertelli

O Brasil é o maior produtor de cana-de- -açúcar do mundo, com a colheita ano-safra de 600 milhões de toneladas, que são transformadas em açúcar e etanol, em parcelas iguais.

Foi no nosso país que se desenvolveu rapidamente o aproveitamento do etanol, em larga escala, nos veículos automotores e na mistura à gasolina.

Esse desenvolvimento resultou na fantástica economia de divisas com a importação do petróleo e derivados, além da melhoria do meio ambiente das metrópoles, notadamente da capital paulista.

A EPA [Environmental Protection Agency, a agência governamental que trata da proteção ao meio ambiente dos Estados Unidos - nota do editor] recentemente divulgou trabalho que enfatiza o etanol de cana como um combustível avançado, que pode, entre outras vantagens, diminuir em até 60% as emissões de gases do efeito estufa.

Quando, em 1973, foi apresentado ao governo de Ernesto Geisel o primeiro projeto de substituição da gasolina pelo etanol, denominado "Fotossíntese como Fonte de Energia", não se imaginava que o Brasil pudesse operacionalizar um programa dessa grandeza.

Na safra em curso de 2010/2011, o nosso país vai alcançar a fabricação de mais de 30 bilhões de litros de etanol, dos tipos anidro e hidratado.

Daí a surpresa da leitura no noticiário de que, diante do excedente no seu mercado interno, os Estados Unidos da América já exportaram este ano, no período janeiro a abril, cerca de 500 milhões de litros de etanol feito de milho, sendo que uma parcela desses embarques veio para o Brasil.

Até o final de novembro deste ano, o Congresso americano decidirá se renova o subsídio dado ao combustível.

Desta feita, existem razões preponderantes para a renovação, bem como para a eliminação das tarifas de importação do etanol brasileiro (54 centavos de dólar por galão) e concessão de incentivos (45 centavos de dólar por galão) para o fabrico nas destilarias norte-americanas.

Na defesa do maior emprego dos combustíveis limpos e renováveis, encontra-se o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que defende a aprovação de proposta junto ao Congresso.

Os subsídios concedidos à indústria do etanol do milho dos Estados Unidos estão em um total de cerca de US$ 5,5 bilhões anuais.

É evidente que os volumes de exportação do etanol norte-americano de milho são pequenos, se comparados com os nossos.

A capacidade do parque industrial existente nos Estados Unidos é calculada em 50 bilhões de litros.

Em 2009, o etanol brasileiro foi responsável por 80% das importações europeias do combustível e, no ano em curso, o percentual declinou para 50%.

Conforme as tradings, até o final deste ano, o Brasil deverá transferir 1,7 bilhão de litros de etanol para o exterior, o que corresponde a uma quantidade de 2 bilhões de litros a menos do que no período anterior.

As aquisições do etanol norte-americano foram efetuadas por distribuidoras brasileiras de combustível e grandes usinas sucroalcooleiras, com o aproveitamento do preço favorável do similar americano, inclusive devido ao nosso regime cambial, que torna as importações mais econômicas com a valorização do real.

À época das importações, o etanol dos Estados Unidos era desembarcado no Brasil ao preço de R$ 1,05 mil por metro cúbico (equivalente a 1.000 litros), enquanto o etanol anidro, misturado na gasolina na proporção de 25%, encontrava-se em torno de R$ 1,1 mil por metro cúbico.

Além dessas importações, a Petrobras também retomou as compras de gasolina no mercado internacional, depois de quatro décadas de autonomia, totalizando dois milhões de barris, embora tenhamos entre nós uma tão decantada propaganda da autossuficiência em petróleo.

É difícil entendermos as razões dessas importações.

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